As crescentes relações econômicas do Brasil com a China devem ser analisadas com cuidado. A Ecoa monitora investimentos em projetos de infraestrutura no Pantanal.
- Agrotóxicos e fertilizantes químicos exportados da China para o Brasil somaram US$ 15 bilhões em 2022.
- A economia Brasil-China tem como locomotivas principais a exportação de grãos, petróleo cru, de minérios e, nas outras vias, a importação de manufaturados mais o avanço das estatais chinesas no setor de energia.
- A quase totalidade das exportações chinesas em 2022 foi de produtos manufaturados, incluindo os agrotóxicos com 4,9 % do total exportado, mais adubos e fertilizantes químicos “não brutos” com 3,9%.
- A soma das exportações destes insumos agrícolas – agrotóxicos e fertilizantes químicos – para o Brasil alcançou US$ 15 bilhões. A exportação de soja rendeu US$40,3 bilhões em 2022.
Por Alcides Faria, diretor executivo da Ecoa e estudioso das questões relacionadas ao Financiamento do Desenvolvimento
As crescentes relações econômicas do Brasil com a China devem ser analisadas com cuidado, a partir da questão principal: os reais interesses nacionais. Para se caminhar nesse sendeiro é necessário identificar e separar o que vem como propaganda ideológica, os interesses dos poderosos setores envolvidos diretamente nos negócios entre os países e aquilo que, de fato, nessas complexidades, contribui para o povo brasileiro, em consonância com a promoção do desenvolvimento econômico socialmente gerador de trabalho e renda e promotor da conservação dos bens naturais do País.
A economia Brasil-China tem como locomotivas principais a exportação de grãos, petróleo cru, de minérios e, nas outras vias, a importação de manufaturados mais o avanço das estatais chinesas no setor de energia.
Em 2022 o comércio entre os dois países ultrapassou os US$ 150 bilhões, dos quais US$ 89.427,80 bilhões correspondem a exportações e US$ 60.744 bilhões a importações.
As duas imagens a seguir, trazidas da Comexstat, traduzem em percentuais o quadro geral dos principais produtos presentes nos negócios com a China em 2022. Na sequência a lista dos 15 principais produtos que o Brasil importou do país asiático em 2022.
Quadro I – Exportações para a China em 2022
– Quase 83% dos produtos enviados para o país asiático é a soma dos não manufaturados soja, carne, minérios e petróleo cru.
Quadro II – Importações da China em 2022
O Quadro II permite elaborar a lista dos 15 principais produtos que o Brasil importou da China em 2022.
- Equipamentos de telecomunicações
- Válvulas e tubos termiônicos
- Compostos organo-inorgânicos
- Demais produtos – Indústria de Transformação
- Adubos ou fertilizantes
- Medicamentos e produtos farmacêuticos, exceto veterinários
- Máquinas e aparelhos elétricos
- Peças e acessórios para escritório.
- Aparelhos elétricos para ligação
- Máquinas de energia elétrica
- Produtos laminados planos de ferro ou aço
- Inseticidas, formicidas, herbicidas e produtos semelhantes
- Equipamentos elétricos
- Partes e acessórios de veículos automotivos
- Geradores elétricos giratórios
A quase totalidade das exportações chinesas em 2022 para o Brasil foi de produtos manufaturados, incluindo os agrotóxicos com 4,9 % do total exportado, mais adubos e fertilizantes químicos “não brutos” com 3,9%. A soma das exportações destes insumos agrícolas – agrotóxicos e fertilizantes químicos – alcançou US$ 15 bilhões. A exportação de soja rendeu US$40,3 bilhões em 2022.
A tabela a seguir permite dimensionar o impacto do comércio entre o Brasil e a China quando o cotejamos com Estados Unidos, União Europeia e os países da América do Sul.
Em bilhões de dólares o comércio do Brasil e seus principais parceiros.
Ano 2022 | Exportações | Importações | Saldo |
Estados Unidos | 37.437,8 | 51.304, 4 | -13.866,6 |
América do Sul | 43.951,2 | 29.843,6 | 14.107,6 |
União Europeia | 50.892,8 | 44.263,4 | 6.629,4 |
China | 89.427,28 | 60.744 | 28.683,80 |
A maioria dos analistas que circulam nos principais canais de mídia apontam o saldo na balança comercial com a China como uma mostra da virtuosidade das relações econômicas dos dois países, porém os dados mostrados anteriormente indicam a necessidade de outros ângulos de avaliação. No caso da exportação de grãos, por exemplo, tem-se, de certa maneira, a “ocupação” de partes do território brasileiro, com uso intensivo de bens naturais, principalmente solos e água, com impactos sociais e econômicos negativos. Uma consequência visível desse processo acrescente-se a aceleração do desmatamento da Amazônia e do Cerrado, o que, além de destruir a diversidade biológica, acarreta problemas para o abastecimento de água para regiões com densidade econômica e populacional.
Quanto ao papel da China na área de energia é necessária uma elaboração a parte para um real dimensionamento de seus impactos, o que trataremos de fazer mais à frente.