Luana é jornalista e mestra em Divulgação Científica e Cultural (Unicamp)
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Junção de conhecimentos: Nos territórios do Cerrado e Pantanal, muitas famílias sobrevivem do extrativismo não madeireiro, sustentável e que contribui para a conservação dos biomas em que estão presentes. Um trabalho de grande importância realizado com base nos conhecimentos tradicionais e vivências. Muitas das vezes é esta observação empírica que colabora para o preenchimento de lacunas do conhecimento científico, no que tange o extrativismo.
Calendário como ferramenta: Essas informações são de muito valor, por exemplo, para a estruturação de cadeias produtivas de frutos nativos, coleta de iscas, pesca, e produção de mel, entre outras atividades que caracterizam o extrativismo não madeireiro. Pensando nisso a Ecoa, com apoio do Projeto ECCOS (Ecorregiões, Conectadas, Conservadas, Sustentáveis), desenvolveu um calendário como uma espécie de ferramenta metodológica.
Via de mão dupla: O Calendário Extrativista não apenas leva informações gerais sobre o Cerrado e Pantanal até as/os extrativistas, mas de utilidade prática, como técnicas de coleta, manejo, cultivo e processamento de frutos nativos. Tudo pensado de maneira que as atividades desenvolvidas ocorram de forma sustentável. Em contrapartida, ao preencherem os calendários essas famílias geram dados sobre períodos de floração, frutificação, maturação e coleta. Além de dados sobre período de queimadas, chuvas e secas no caso do Pantanal.
Como funciona?: O calendário bianual (2019-2020) e bilíngue (português-espanhol) possui espaços a serem preenchidos a cada dia que as/os extrativistas realizarem alguma atividade em campo, e qual a época do ano em que se encontram. Por exemplo, quem trabalha com a laranjinha-de-pacu (Pouteria sp.) deve realizar a anotação no dia da coleta informando a quantidade coletada e se o período é de cheia. Desse modo, futuramente, será possível traçar estimativas sobre a lógica da produção de cada espécie frutífera. O mesmo serve para as outras atividades.
Distribuição: O material será entregue a famílias rurais, pequenos agricultores, ribeirinhos e indígenas em 11 comunidades e assentamentos localizados no Pantanal e Cerrado. Em conjunto a ação, haverá uma sensibilização sobre a importância da participação desses grupos na iniciativa, que deve contribuir para a criação do Mapa do Corredor Extrativista em Mato Grosso do Sul. Ao longo de 2 anos essas pessoas serão visitadas pelos técnicos da Ecoa, que realizarão a coleta dos dados e estabelecerão comparativos entre as safras de um ano a outro.
Confira imagens das primeiras entregas do calendário em regiões pantaneiras:
Muitas das imagens utilizadas no material gráfico foram enviadas pelas/os próprias/os extrativistas. A publicação integra as atividades do projeto ECCOS, um consórcio de organizações bolivianas, Governo Departamental Autônomo de Santa Cruz e e a Ecoa, no Brasil, apoiado pela União Europeia. As organizações bolivianas também aderiram a ideia, principalmente por conta do extrativismo de baru (Dipteryx sp.), conhecido por lá como almendra chiquitana.