Por Luana Campos (Ecoa)
Luana é graduada em Jornalismo (UFMS) e mestre em Divulgação Científica e Cultural (Unicamp)
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A tragédia dos comuns: Em 1968 a revista Science publicou o artigo do economista Garret Hardin, “A tragédia dos Comuns”. Nele, Hardin relaciona o problema da superpopulação com a degradação de áreas comuns (áreas sobre as quais não há definição de propriedade). O autor problematiza que o individualismo é prevalente em todas as populações e, por isso, uma hora ou outra todos os sistemas vão entrar em colapso. Ou seja, as pessoas acabarão com os recursos naturais e, por consequência, com elas mesmas.
Sustentabilidade em regimes de propriedade aberta: Contrariando os preceitos de Hardin, o diretor científico da Ecoa, Rafael Chiaravalloti, juntamente com renomados pesquisadores ao redor do mundo, identificaram as condições necessárias que fazem emergir o uso sustentável de recursos naturais em regimes de propriedade aberta (sistema auto-organizado, onde não há central ou gestão coletiva) sem a tragédia. Para isso, analisaram 8 estudos de caso realizados em diferentes sistemas sócio ecológicos ao redor do planeta. O artigo “Emergent sustainability in open property regimes” foi publicado pela revista PNAS , uma das mais citadas no mundo.
Sistemas humano e naturais acoplados: Um dos pontos chave da análise, é a compreensão de que os usuários não devem ser excluídos da natureza, mas estudados como parte integrante do sistema. Nesse contexto, os seres humanos não são encarados na qualidade de agentes perturbadores destrutivos, mas uma força co-evolucionária. A interação entre humanos e outras espécies significa, entre outros fatores, a garantia da sustentabilidade, já que influenciam positivamente a renovação dos recursos.
Analisando o caso do Pantanal, por exemplo, os autores identificaram que o sistema usual praticado na região de pesca itinerante foi prejudicado depois da criação de sete áreas estritamente voltadas a proteção ambiental (que não podem ser habitadas). Essa situação incorreu no deslocamento econômico e físico de pescadores que viviam desde sempre em equilíbrio com os respectivos territórios.
O valor da generosidade: Outro fator observado pelos pesquisadores no caso do Pantanal foi o marcado espírito de generosidade, que faz com que as pessoas compartilhem seus conhecimentos, experiências e recursos materiais. Nesses tipos de sistemas socioambientais o uso individual e exclusivo não gera grandes retornos financeiros, isto é, todos devem ser beneficiados, caso contrário ninguém é. Sendo assim os pescadores pantaneiros partilham abertamente a localização dos pontos de pesca considerados bons entre si para otimizar a busca pelos melhores locais de pesca para todos.
Recomendações: Para que o uso comum dos recursos em sistemas abertos não se torne uma tragédia a premissa fundamental é que o princípio da auto-organização seja mantido. Desse modo, as intervenções políticas que busquem garantir a sustentabilidade desses sistemas, altamente complexos, devem se preocupar com manutenção das oito condições críticas apontadas pelos autores do estudo e não com a gestão dos recursos em si.
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