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Carta pública: O rio Correntes não pode morrer – a vida precisa prevalecer

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Associação de Ribeirinhos do Rio Correntes, 15 de junho de 2018

Pesquisadores visitam represas no rio Correntes junto a pescadores da região (2016)
Pesquisadores visitam represas no rio Correntes junto a pescadores da região (2016)

Nós, ribeirinhos, sitiantes, donos de pequenas pousadas e pesqueiros na região de Itiquira, no Mato Grosso, e Sonora no Mato Grosso do Sul, onde o rio Correntes divide os dois estados, gostaríamos de deixar registrado aqui a nossa tristeza e insatisfação com o que vem acontecendo com a “nossa casa”.

Nós que, há muito tempo, habitamos as margens do Correntes, que navegamos pelo seu curso, que dele tiramos nossos alimentos e nosso lazer, que dependemos do seu regime de cheias e secas para ver a vida se refazer, estamos presenciando ao longo destes últimos anos toda sua vida e sua beleza desaparecer.

Desde que a primeira represa foi instalada na nossa região no ano de 2004, tudo mudou. Hoje são três barragens (CGH Aquárius I, PCH Santa Gabriela e UHE Ponte de Pedra) causando danos irreparáveis ao meio ambiente. E num futuro muito próximo um outro empreendimento será instalado: a usina hidrelétrica Aquárius II.

O rio que antes era a principal fonte de renda de muitas famílias, hoje já não oferece mais peixes. O setor turístico que gerava empregos e movimentava a economia local, se tornou quase inexistente. A violação dos direitos humanos é evidente, e até agora absolutamente nada foi feito para a mitigação, tanto de ordem ambiental como social, dos impactos gerados.

Queremos fazer valer nosso direito e o de nossos filhos e netos de viver com dignidade, de manter nossos lares e territórios, nossas culturas e formas de vida, honrando também nossos antepassados que nos entregaram um ambiente saudável.

Nós, os que cuidamos do rio Correntes, não aceitamos a invisibilidade que nos querem impor e a forma que estamos sendo tratados pelo poder público. Nós, pessoas do bem e dignas não queremos muito, só queremos paz e ver nossa região pantaneira preservada para assim podermos continuar a viver harmonicamente com a natureza.

Por fim, pedimos solidariedade das mulheres, homens, pesquisadores, estudantes, intelectuais, autoridades, trabalhadores, turistas, pescadores de outras regiões, enfim, de todos que queiram lutar conosco contra a destruição do rio Correntes e do Pantanal. Não podemos e não vamos aceitar que continuem destruindo nosso ambiente. Não aceitaremos mais nenhuma represa na porta das nossas casas que também é o quintal onde nossos filhos e netos crescem.

 

Eleuza Bispo da Silva Roman – Presidente Associação de moradores da comunidade Porto dos Bispos

Saulo Moraes – Assessor Jurídico

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