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Catarina Guató, a representação da perseverança das mulheres no Pantanal

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Foto: Augusto Dauster Pontual

Texto originalmente publicado em 18 de agosto de 2015

A comunidade Barra do São Lourenço está localizada na margem esquerda do rio Paraguai, na região da Serra do Amolar, considerada uma das áreas mais isolada e de difícil acesso do Brasil. Para chegar até o local, é necessário viajar até Corumbá, cidade de Mato Grosso do Sul, e percorrer através de uma embarcação 221 km pelo rio Paraguai, trajeto que leva, em média, 7 horas para ser concluído.

Essa região corresponde, em sua maior parte, a extensa planície de inundação do rio Paraguai, desde ilha do Caracará, nos limites do Pantanal de Cáceres, até as bordas do Maciço do Urucum. É caracterizada pela grande incidência de baías e longo período de inundação que se estende por mais de seis meses, e grandes áreas ficam permanentemente inundadas. O povo que habita essa região é simples e reservado, seguindo um ritmo de vida totalmente diferente dos grandes centros urbanos e que preservam algumas peculiaridades.

Catarina Ramos da Silva, popularmente conhecida como Catarina Guató, tem 65 anos, é uma das moradoras mais antigas da comunidade e, atualmente, é presidente da Associação das Mulheres Artesãs da Barra do São Lourenço – Renascer, e também é a responsável por transmitir o conhecimento das técnicas para elaboração de artesanatos feito com a fibra de aguapé (Eichornia crassipes), também conhecido por camalote. Trata-se de vegetação aquática, encontrada em abundância no Pantanal, que possibilita a produção de tapetes, bolsas, chapéus e outros acessórios, além de alimentos, que agregam renda às famílias locais.

Dona Catarina lidera cerca de 15 mulheres na Renascer, que já atendem encomendas e possuem como meta abastecerem o mercado, além de participarem de feiras e exposições. “O artesanato vai dar mais independência para as mulheres e ajudar na renda da família. Quero deixar meu conhecimento pra elas”, afirma a presidente da associação. Além disso, dona Catarina destaca que é uma forma das ribeirinhas deixarem as atividades de risco – a coleta de iscas, por exemplo -, conquistarem maior autonomia financeira e darem melhores condições para família.

Dona Catarina Guató durante a coleta da matéria-prima para elaboração dos artesanatos: o aguapé. Foto: Fábio Pellegrini.
Dona Catarina Guató durante a coleta da matéria-prima para elaboração dos artesanatos: o aguapé. Foto: Fábio Pellegrini.

O compromisso que ela assumiu com essas mulheres pode ser considerado uma forma de agradecimento pelas oportunidades que a vida concedeu, juntamente com a superação das dificuldades.  Filha de mãe cuiabana e pai indígena, na juventude, quando ainda morava em uma aldeia guató, aprendendo a produzir artesanatos com uma anciã e os ensinamentos adquiridos serviram para ajudar a própria família em um período difícil da vida: a separação do marido.

“A única coisa que eu tenho é Deus e eles. Eu amo eles”, é a declaração emocionada que Catarina Guató faz quando perguntada sobre a responsabilidade de assumir o papel transmitir todo o seu conhecimento tradicional e, em alguns casos, tomar para si o papel de conselheira profissional e pessoal das participantes da associação.

Para finalizar, ela afirma que graças à ajuda divina e a ausência de preguiça, conseguiu encarar as lições que a vida deu, além de não ter se tornado uma pessoa amargurada e sem esperanças. Ela enxerga todas as situações difíceis que ocorreram em sua vida como forças de estímulo para ascensão e levar consigo todos aqueles que desejam progredir. Demonstrando que corre em suas veias a perseverança do povo pantaneiro.

Foto destaque: Augusto Dauster Pontual

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