A Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal – CerraPan – completa em 2025 uma década de história, resistência e organização coletiva.
Criada oficialmente em 2015, durante um encontro realizado na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), a rede é resultado de um trabalho anterior desenvolvido pela Ecoa – na época sob coordenação da bióloga Vanessa Spacki – junto a mulheres de comunidades e assentamentos, com foco em formação, organização social, boas práticas no uso dos frutos nativos, desenvolvimento de receitas e elaboração de planos de negócio.
Grupos diversos, territórios vivos
Atualmente formada por 10 grupos de mulheres e grupos mistos, a CerraPan está em processo de rearticulação após o cenário crítico das queimadas e da pandemia, buscando fortalecer as iniciativas já existentes e integrar novos grupos que trabalham com produtos da sociobiodiversidade.
Esses grupos estão organizados em Comunidades Tradicionais e Populações Locais do Cerrado e Pantanal, onde atuam com o manejo artesanal e sustentável de espécies nativas como Bocaiuva, Laranjinha de Pacu, Aguapé, Acuri, Jaracatiá, Baru e Mel. A partir desses ingredientes regionais, nutritivos e decorativos, produzem alimentos, cosméticos e artesanatos, gerando renda, promovendo a segurança alimentar e contribuindo diretamente para a conservação dos biomas.
Autonomia econômica e permanência nos territórios
A CerraPan nasceu do desejo de construir um espaço coletivo e seguro para o intercâmbio de saberes, o fortalecimento das lutas por direitos e a ampliação de oportunidades para as mulheres do campo, das águas e das florestas. Entre os objetivos centrais da rede está o impulso à autonomia econômica das mulheres, elemento essencial para que possam permanecer em seus territórios, em condições menos vulneráveis, contribuindo para a gestão sustentável dos recursos naturais e o enfrentamento da crise climática.
Incidência política, articulação em rede e parcerias
Integrantes da Rede estão presentes hoje em sete espaços de incidência política, entre eles a Rede Cerrado, a Rede Pantanal e o Conselho Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, além de manter articulação com grupos extrativistas e organizações da sociedade civil.
Instituições como o Fundo Socioambiental CASA e o Ministério Público do Trabalho, 24ª Regional, de Mato Grosso do Sul, foram fundamentais na jornada para que a rede se consolidasse, apoiando as associações membras da rede de mulheres produtoras.
Um reencontro histórico
“É com muita alegria e esperança que realizamos, em 2025, a III Plenária da CerraPan, após cinco anos sem nos encontrarmos. Nesse período, enfrentamos uma pandemia global, vimos os incêndios no Pantanal destruírem reservas extrativistas — e, junto com elas, cadeias produtivas que vinham se fortalecendo dentro da Rede — e sentimos a ausência de apoio direto para a nossa agenda, o que também contribuiu para essa pausa”, relata Nathalia Ziolkowski, presidenta da Ecoa.
O evento, que também celebra os 10 anos de existência da CerraPan, é ao mesmo tempo uma festa e uma retomada política. Um espaço para debater as pautas que atravessam a vida das integrantes da Rede: mulheres, pequenas agricultoras, quilombolas, indígenas, assentadas, extrativistas, ribeirinhas e coletoras de isca.
Para Nathalia, o reencontro tem ainda um significado pessoal. Ela completa 10 anos de atuação na Ecoa — uma trajetória iniciada justamente na articulação da CerraPan, ao lado de Vanessa Spacki, figura fundamental para a consolidação da Rede.
“É tempo de celebrar, mas também de revisitar memórias e reafirmar nossas lutas”, afirma, reforçando o papel estratégico da CerraPan na articulação de saberes, geração de renda e promoção da justiça socioambiental.
Rearticular essas cadeias é essencial para fortalecer a resiliência dos territórios frente às mudanças climáticas e aos desafios sociais. Apoiar essas mulheres é apostar em um futuro possível para o Cerrado e o Pantanal.
3ª Plenária da CerraPan
📅 Quando: 15 e 16 de agosto de 2025
📍 Onde: Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec) – Assentamento Andalucia, Nioaque (MS)
O evento é uma realização da Rede CerraPan, Ceppec e Ecoa, com apoio do Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos (CEPF), do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Global Nature Fund (GNF) e German Federal Ministry of International Cooperation and Development (BMZ) e Ministério Público do Trabalho/24a Região.
CEPF Cerrado
O Fundo de Parceria para Ecossistemas Críticos é uma iniciativa conjunta da Agência Francesa de Desenvolvimento, da Conservação Internacional, da União Europeia, da Fundação Hans Wilsdorf, do Fundo Global para o Meio Ambiente, do Governo do Canadá, do Governo do Japão e do Banco Mundial. Uma meta fundamental é garantir que a sociedade civil esteja envolvida com a conservação da biodiversidade.
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