Via ClimaInfo.
Segundo o estudo de atribuição, as mudanças climáticas intensificaram os 10 eventos extremos mais mortais das últimas décadas, resultando em mais de 570 mil mortes.
A crise climática intensificou o impacto dos 10 eventos extremos mais mortais dos últimos 20 anos, contribuindo para a morte de mais de 570 mil pessoas, de acordo com um novo estudo de atribuição divulgado na semana passada. A análise, elaborada por cientistas do grupo World Weather Attribution (WWA), indica que vários desses eventos seriam praticamente impossíveis sem o aumento de 1,3oC da temperatura média global observado desde o começo da Revolução Industrial, em meados do século XIX.
Como O Globo destacou, os extremos analisados se concentram na Ásia, na Europa e na África e foram selecionados a partir do Banco de Dados Internacional de Desastres. A lista inclui três ciclones tropicais, quatro ondas de calor, duas inundações e uma seca. O evento mais letal foi a seca de 2011 na Somália, responsável pela morte de 258 mil pessoas de fome e de doenças relacionadas à falta de água. Ao todo, esses eventos extremos resultaram em 576.042 mortes, mas o número pode estar subestimado, já que os óbitos relacionados a ondas de calor não costumam ser registrados com a mesma precisão de outros tipos de eventos, como inundações e tempestades.
O estudo também analisou como o aquecimento do planeta contribuiu para intensificar os eventos extremos das últimas duas décadas. Por exemplo, no caso do ciclone Nargis, que atingiu o sul de Mianmar em 2008, o aquecimento da superfície do mar contribuiu para aumentar o volume de chuva e a velocidade dos ventos. Esse desastre resultou na morte de mais de 138 mil pessoas.
Já as ondas de calor observadas na Europa em 2022 e 2023 também se tornaram mais mortais por conta do aquecimento global. Na primeira, as mudanças climáticas resultaram no aumento da temperatura e do número de dias de calor extremo em até nove vezes. Na segunda, a elevação da temperatura no Mediterrâneo seria impossível sem as mudanças climáticas, que também aumentaram em mil vezes a possibilidade de elevação da temperatura média em até 3,2oC no sul do continente.
O estudo marca os 10 anos desde a criação do WWA, uma rede internacional de cientistas focados na análise da relação entre a crise climática e eventos extremos em específico. A análise também destaca as duas décadas desde o primeiro estudo que inaugurou o campo da atribuição climática, publicado em 2004. Para os cientistas, os resultados reforçam não apenas a urgência da contenção do aquecimento global em 1,5oC, mas também a necessidade crítica de adaptação climática em todo o mundo.
“Sabemos que não existe desastre natural. É a vulnerabilidade e a exposição da população que transformam riscos meteorológicos em desastres humanitários. Cada vez mais, porém, há cada vez menos riscos meteorológicos que podem ser puramente descritos como ‘naturais’. Nosso trabalho agora mostra que, com cada tonelada de carvão, petróleo e gás queimados, todas as ondas de calor ficam mais quentes, e a esmagadora maioria dos eventos de chuvas intensas, secas e ciclones tropicais ficam mais intensos”, destacou o estudo.
BBC, Bloomberg, Inside Climate News, NY Times e Sky News, entre outros, abordaram os principais pontos do estudo.