O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostra-se disposto não só a corrigir rapidamente as políticas de crédito adotadas pela instituição nos governos Lula e Dilma – quando recebeu vultosos aportes do Tesouro –, como a adotar decisões voltadas para o aumento da transparência de sua atuação. O banco expõe, com as mudanças, o custo indireto dos empréstimos concedidos desde o final da década passada a empresas “amigas”, inclusive estatais, ou as escolhidas como “campeãs nacionais”, que tomaram vultosos recursos a taxas subsidiadas.
Foi o que mostrou a reportagem do Estado publicada há alguns dias. Sem explicitar os nomes das companhias agraciadas com benesses financeiras, a matéria mostrou que o BNDES teve de reavaliar seus empréstimos e chegou a resultados preocupantes. Enquanto em 2014 nada menos do que 71% das operações do banco eram classificadas com nota “AA” ou “A” – ou seja, com risco muito baixo de calote –, em 2016 o porcentual caiu para 42%.
Uma queda tão grande revelou que não era verdadeira a propaganda de que o banco só concedia crédito a devedores excelentes. Os demais clientes foram punidos, pois o banco teve de elevar de R$ 1,46 bilhão para R$ 9,15 bilhões (+524%) o valor das provisões para o risco de crédito, reduzindo sua capacidade de conceder financiamentos. Bancos privados foram mais criteriosos e têm menor exposição ao risco.
A explicação do BNDES de que a situação dos devedores piorou após a Operação Lava Jato é verdadeira, mas não é completa. Muitos já não podem tomar empréstimos novos para quitar antigos. A recessão ajudou a piorar a situação dos clientes, inclusive de porte. E alguns receberam mais crédito ou injeções de capital via subscrição de ações do que pareciam precisar.
Mais reservas significam capitalização do banco, o que foi bem recebido por economistas. O novo estatuto preserva 40% do lucro para a execução do orçamento e define regras claras para empréstimos. Não é mais viável a política de farta distribuição de dividendos ao controlador – a União. E foi extinta a prática petista de derramar bilhões no BNDES. Uns raros empresários lembram-se com saudade dessa era de fartura para poucos, cujo custo aparece, agora, na alta do risco.