Via ClimaInfo
Intensificado por forte seca, o avanço do fogo no Pantanal está mais rápido e voraz do que na pior temporada de incêndios já registrada, em 2020.
A maior área alagada do planeta, o Pantanal vive seus dias mais secos da história documentada e pode estar próximo de experimentar sua temporada de fogo mais destrutiva. A situação é dramática: nas duas primeiras semanas de junho, a quantidade de incêndios registrada supera – e muito – o pior índice para o mês da série histórica.
Segundo o INPE, até a última 6ª feira (14/6), 733 focos de fogo foram identificados no Pantanal em junho, o maior número da história para o mês. Ao mesmo tempo, as chuvas escassas na última temporada úmida já se refletem nos níveis dos rios pantaneiros, que sofreram uma queda acentuada e acelerada nas últimas semanas.
De acordo com o Estadão, com dados do INPE, os focos de incêndio no Pantanal passam dos 2.240 desde janeiro, o que representa uma alta de 1.500% em relação ao mesmo período no ano passado. Essa destruição se aproxima perigosamente do mesmo patamar observado em 2020, o pior ano da série histórica das queimadas pantaneiras, quando o total de incêndios chegou a 2.315.
O g1 destacou a relação entre a seca atual e os efeitos da mudança do clima e do desmatamento no Pantanal. Dados do MapBiomas indicam uma diminuição de quase 30% na área coberta por água no bioma nos anos de pico de cheia, do período de 1985 a 2022. Nos anos de pico de seca, essa redução foi ainda mais intensa, de 66%.
“Isso está diretamente relacionado às queimadas, pois quanto menos água há, menor é o período de inundação no Pantanal. E isso facilita a propagação de incêndios florestais, já que quanto mais seco, mais fácil se espalham os focos de incêndio. É uma bola de neve, um efeito em cascata”, explicou Gustavo Figueirôa, do Instituto SOS Pantanal.
O IBAMA informou que contratou cerca de 2 mil brigadistas para auxiliar no combate às queimadas, especialmente no Pantanal e na Amazônia. Um dos obstáculos que dificultam a resposta é o acesso às áreas mais distantes e isoladas. Como a Folha assinalou, algumas equipes enfrentam deslocamentos de até 7 horas para chegar até os focos de incêndio. O nível baixo do rio Paraguai também dificulta o deslocamento.
“Essa é a dificuldade que enfrentamos. Percorremos 1 hora de caminhonete, imagine se vier a pé. Não conseguimos chegar no combate sem ajuda. Isso pela distância, pelo combate e as questões do nosso bioma, esse mato alto. A gente consegue chegar com o apoio. Se fosse a pé, demoraríamos dois dias”, afirmou Manoel Garcia, que integra a Brigada Alto Pantanal, vinculada à SOS Pantanal, ao G1.
No entanto, o avanço do fogo não está limitado ao Pantanal. Em todo o país, o número de focos de incêndios registrado em 2024 já é o maior em 21 anos. Como O Globo pontuou, cinco dos seis biomas brasileiros estão em tendência de alta do fogo, com Pantanal, Cerrado e Amazônia em situação particularmente preocupante. O único bioma poupado até aqui é o Pampa, que sofreu com as chuvas históricas do mês passado no Rio Grande do Sul.
“As previsões trimestrais para junho, julho e agosto mostram que nesses meses ainda não vai ter uma mudança significativa com aumento de chuvas, e a expectativa é que, sim, aconteçam fogos, porque historicamente temos fogo nesses meses”, observou Fabiano Morelli, chefe do Programa Queimadas, do INPE.