Há 30 anos, Cristiana Oliveira conhecia o Pantanal e, de certa forma, o apresentava para o resto do país na novela que a revelou como Juma Marruá. Um lugar exuberante, cercado de rios e verde por todos os lados. Ao retornar agora em dezembro, no entanto, as cenas que viu destoaram muito do que todos assistiram pela televisão há três décadas. A atriz participou de uma expedição para levar doações às populações ribeirinhas, que sofreram e ainda sofrem com as recentes queimadas na floresta. Foram cinco dias percorrendo áreas inteiras, degradadas pelo fogo e abandono. Algo que, assim como as paisagens paradisíacas que descobriu ainda moça, jamais vai esquecer.
“Levamos 36 horas para chegar. Voo até Corumbá, no Mato Grosso do Sul, chalana, helicóptero… Usamos muitos meios de transporte para localizar a população em vários lugares. A sensação é a pior possível, porque aquelas pessoas estavam totalmente abandonadas. É muito sofrimento. Cheguei a ficar deprimida”, conta ela, que viajou à convite da ong SOS Pantanal.
A atriz tentava ir para Centro-Oeste desde agosto, quando entrou em contato com as organizações não governamentais que ajudam os ribeirinhos. “Eles me diziam que não havia condições, pois ou não se chegava por causa da fumaça ou por que o Rio Paraguai estava baixo demais. Mas todos os dias eu recebia um boletim de como estava a situação. Eu queria estar lá ajudando, fazer alguma coisa”, justifica.
Não foi a primeira vez que Cristiana retornou à região após gravar a novela “Pantanal”. Em outras duas ocasiões, ela já havia estado por lá. Mas o que encontrou desta vez não fazia parte de nenhuma memória. “Uma coisa é estar aqui e ver tudo pela televisão ou internet. Outra é estar lá. Ainda tem cheiro de fumaça, dependendo do vento. No dia seguinte que fomos embora teve uma tempestade de cinza. Sobrevoamos as terras e dá para ver buracos inteiros de floresta morta, árvores que vão levar muitos anos para nascer de novo”, descreve.
Cristiana conta que sempre teve muita empatia e preocupação com os moradores locais. “Muitos trabalharam na produção da novela e lembro das histórias que contavam e já ficava pensando o que poderia fazer”. diz. Numa das comunidades que visitou, ela foi reconhecida: “Não imagina a alegria que foi para eles. Alguns povoados já têm parabólica e eles assistiram à novela. E foi incrível para eles estarem com a ‘Juma’”.
Nos cinco dias de expedição, Cristiana mal dormiu, passou calor de 44 graus com sensação térmica de muito mais, tomou banho de rio, acordou às 5h e passou o dia em pé, distribuindo donativos. “Teve comunidade que, sem ter o que comer, passou três meses se alimentando de mandioca, outras só de abóbora”, enumera ela, que teve ainda a companhia de promotores (”porque grande parte dos moradores não tem nenhum documento”), biólogos e profissionais da polícia militar ambiental, Instituto das Águas da Serra da Bodoquena e Ecoa.
Cristiana chegou em casa no último sábado, após 30 horas de viagem. Exausta, mas segundo ela, completamente transformada. Coincidência ou não, nesta terça-feira, 15, ela completa 57 anos: “Voltei numa outra frequência. A minha vontade é estar lá. Sempre fui muito simples na minha vida, mas essa experência me deu ainda mais dimensão do que realmente tem valor. Escutei histórias que nunca vou esquecer. As mulheres choravam e a gente tinha que se segurar para não chorar junto. Ouvi de um senhor: ‘Nõs somos invisíveis’, e isso é muito sério e triste. Aquelas pessoas não existem para o resto de nós e o que eu puder fazer para ajudá-los eu vou. Este foi o maior presente de aniversário que ganhei nos últimos anos”.