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Destaques da entrevista do professor Célio Bermann, da USP, sobre a política energética brasileira para o IHU on-line

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– Busca-se, tanto no sistema capitalista quanto nas experiências comunistas mal sucedidas no século XX, produzir mais energia para trazer maior segurança.

– A definição de segurança energética reproduz as bases do sistema capitalista, no sentido de procurar garantir que os recursos naturais e as forças produtivas sejam alocados e organizados com vistas à reprodução ampliada e à máxima remuneração do capital.

Planejamento energético – Os casos do alumínio primário [uma indústria eletrointensiva e do aço:

– O planejamento energético foi redefinido no primeiro governo Lula, mas abandonou as diretrizes que tinham sido formuladas no seu plano de governo. O descolamento da realidade persiste e acaba definindo a necessidade de expansão na produção de petróleo, de gás natural e de eletricidade, prioritariamente a partir de grandes empreendimentos hidrelétricos.

– Como as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) são superdimensionadas, a demanda energética prevista também acaba sendo superdimensionada.

– No caso da eletricidade, a relação entre o crescimento da demanda por eletricidade e o crescimento do PIB é da ordem de 1,3, isto é, para cada unidade de crescimento do PIB são necessárias 1,3 unidades de energia elétrica. Isso acontece em função das características do perfil industrial brasileiro, dado que cerca de 50% da demanda por eletricidade provém do setor industrial e a metade desta demanda (ou 25%) provém do aumento da capacidade de produção das assim denominadas indústrias eletrointensivas.

Leia mais: Qual é o futuro da política energética brasileira? Entrevista especial com Célio Bermann

O caso alumínio primário [uma indústria eletrointensiva]

– Comparando os dados de 2005 com os de 2014, percebemos que houve uma redução significativa da produção de alumínio primário: em 2005 o Brasil produzia 1,497 milhão de toneladas de alumínio primário. Essa produção caiu para 962 mil toneladas em 2014. Os dados de 2015 apontam uma redução ainda maior, para 772,2 mil toneladas, ou seja, em 10 anos a produção de alumínio caiu pela metade.

Isso pode ser saudado como um resultado positivo para o Brasil, embora eu sempre faça referência ao fato de que os planos decenais de energia recentes (2014–2023) apontam, para 2020, um aumento da produção de alumínio primário para chegar a 2,540 milhões de toneladas. Isto não está ocorrendo, mas tal perspectiva acaba aumentando de forma irreal a demanda por eletricidade.

Isso mostra o descolamento do planejamento energético em relação aos fatos. Enquanto o alumínio primário em 2008 tinha uma capacidade instalada da ordem de 1,6 milhão de toneladas, essa capacidade instalada ainda se manteve, mas a única planta que continua produzindo como produzia nos últimos anos é a Albrás, que tem 98% de sua produção destinada ao Japão.

Ainda, para se ter outra ideia, a expectativa brasileira era de que houvesse um crescimento da produção do aço bruto, que saltaria de 33 milhões de toneladas em 2014 para 72,3 milhões de toneladas em 2019. É esta previsão que baliza a expansão de eletricidade através dos documentos oficiais.

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