A Ecoa e a Rede Pantanal enviaram para o Ministério Público Estadual (MPE) um manifesto em defesa da cachoeira Água Branca, localizada entre os municípios de Pedro Gomes e Sonora, ambos no Mato Grosso do Sul. A queda d’água que possui mais de 80 metros e é ponto turístico da região se encontra ameaçada pela construção de uma represa para geração de energia.
O processo para construção da hidrelétrica Cipó no local é acompanhado pelas organizações que formam a Rede Pantanal desde 2018. Mais recentemente a Ecoa desenvolveu estudos e análises sobre o empreendimento em si e realizou viagem de campo até o local para avaliar in loco os possíveis danos ambientais, sociais e econômicos na região que será afetada.
Em entrevistas realizadas pela Ecoa com moradores da região, foi possível perceber que parte deles se mostravam contrários à construção da represa e outros desconheciam a ameaça à cachoeira.
A represa recebeu licença prévia para construção em dezembro do ano passado. Na carta enviada ao MPE, é citada uma série de inconsistências existentes no processo de licenciamento do empreendimento e a “certeza de evidentes danos ambientais”.
Entre os problemas percebidos no processo, estão questões como diferentes informações cedidas pela empresa, como a quantidade de energia gerada pelo empreendimento. Além disso, a própria empresa reconhece os danos que serão causados ao local e chega a propor medidas excêntricas como a criação de uma cachoeira falsa com um “difusor” para espalhar água.
Segundo parecer do Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul), o barramento deve desviar 80% do fluxo de água da cachoeira, o que causaria impactos irreversíveis para o local. Com a construção da represa, o potencial de turismo da cachoeira deve ser impactado antes mesmo de ser desenvolvido na região.
De acordo com o Consórcio Intermunicipal para o Desenvolvimento Sustentável da Bacia Hidrográfica do Rio Taquari (Cointa), a região tem “grande potencial para alavancar o turismo na região e a instalação da barragem da hidrelétrica Cipó tornará inviável tal possibilidade”.
Leia a carta na íntegra aqui.
Beleza Cênica
Com a segunda maior queda livre do Estado, a Água Branca possui uma beleza cênica única. A cachoeira tem cerca de 80 metros de queda livre e mais uma boa parte de corredeiras. Com a altura da qual a água cai, forma-se um microclima úmido e vivo ao seu redor.
Os tons terrosos do enorme paredão se contrastam com o verde das árvores e rosa dos ipês. Antes da grande cachoeira, várias outras cachoeiras menores, de água cristalina, aparecem por entre as árvores. Além disso, na morraria de onde a água cai, há a presença de diversas nascentes.
Na visita realizada pela equipe da Ecoa no local, foi possível perceber a abundância da biodiversidade na região. Ao longo da trilha que desemboca no topo da cachoeira, vimos várias espécies de aves, rastros de anta, serpentes e outros animais. No passado, os moradores relataram que era até comum pescar dourado ao longo do rio.
A região está identificada como rota de aves migratórias que ali se reproduzem, o que é um demonstrativo da sua grande importância ecológica.
Luta contra as represas
As águas que serão retidas pela represa Cipó drenam para a Bacia Hidrográfica Piquiri/Correntes, uma das principais abastecedoras do Pantanal e, portanto, parte da Bacia do Alto Paraguai (BAP).
A região já é impactada por outras represas como a chamada Ponte de Pedra, monitorada de longa data pela Ecoa com verificação da destruição ecológica de um longo trecho do no rio Correntes (MT/MS) e da inviabilização de pequenos empreendimentos empresariais.
Os meios de subsistência tradicionais de duas comunidades nos dois estados, sendo uma delas de quilombolas, foram profundamente afetados.
Os perigos e danos de represas no Pantanal e em toda sua bacia hidrográfica ainda é um tema pouco conhecido e debatido pela mídia e pela sociedade. Apesar disso, gera um grande impacto para a biodiversidade.
As barragens representam uma sentença de morte para os peixes do Pantanal. Segundo estudos feitos pela ANA, 90% das espécies de peixes pantaneiros são migratórias. São peixes como o pintado, pacu, jaú, dourado, cachara e tantos outros.
Em um efeito cascata de consequências, todos que dependem dos peixes seriam afetados. Os animais do perderiam uma fonte crucial de alimentos. A pesca e o turismo, duas das principais atividades econômicas da região, passariam a ser inviáveis. Pescadores artesanais, donos de hotéis e restaurantes, piloteiros de barcos que transportam turistas em busca de peixes: todos seriam impactados.
Ao todo, são 180 represas na Bacia do Alto Paraguai (BAP), dentre as construídas e previstas. Esse grande número de empreendimentos hidrelétricos chamou a atenção de diversas organizações e para entender melhor os impactos deste grande número de represas na bacia, a Agência Nacional de Águas contratou a Fundação Eliseu Alves, que junto com mais de 100 especialistas na área elaboraram os chamados “Estudos de Avaliação dos efeitos da implantação de empreendimentos hidrelétricos na Bacia do Alto Paraguai”.