Por Gabriela Marques
Há 87 anos em vigor, o Horário de Verão contribuiu muito para a diminuição do pico de demanda de energia na maioria das regiões do país. Ao adiantar o relógio em uma hora, as pessoas aproveitavam mais a luz do dia na volta do trabalho para casa, evitando sobreposição da carga industrial com a demanda residencial de iluminação e chuveiros elétricos.
Mas ao longo do tempo essa demanda foi se deslocando. Com a tecnologia, o uso dos computadores e principalmente dos aparelhos de ar-condicionado, os picos de energia passaram a acontecer no meio da tarde, por volta de 14h e 15h, demonstrando que hoje o uso de energia está mais associado à temperatura do que a luminosidade.
Além disso, Guilherme Ferreira, pesquisador da FGV Energia, ressalta que o uso de lâmpadas cada vez mais eficientes tem propiciado a redução da participação da iluminação pública e residencial na demanda. Isso levantou questionamentos por parte de integrantes do governo federal e de especialistas do setor elétrico sobre a necessidade de manutenção ou não do Horário de Verão. Neste ano, o horário diferenciado será implementado nos estados das regiões Sul, Sudeste e Centro Oeste, com início à meia-noite do último dia 4 de novembro e encerramento no sábado, dia 16 de fevereiro de 2019.
Sobre isso, o presidente da Abesco (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia), Alexandre Moana, diz que é preciso focar no armazenamento de energia, porque o horário de verão não se justifica mais.
ARMAZENAMENTO DE ENERGIA x TARIFAS DIFERENCIADAS
Alexandre Moana lembra que “nos anos 1990, as hidrelétricas tinham grandes lagos de armazenagem, que foram diminuindo por questões ambientais. Então, o Brasil ficou fragilizado em relação ao armazenamento de energia. Talvez o futuro da eficiência energética esteja ligado ao que posso armazenar em um horário para usar em outro”.
Para reduzir o consumo energético total, além das hidrelétricas, também é necessário pensar na entrada de fontes renováveis, como eólicas e a energia solar. Mas, por apresentarem uma característica intermitente, todas elas necessitam de baterias para o seu armazenamento e uma consequente melhor utilização. Assim, elas amplificam o problema do armazenamento de energia. “Talvez o mundo esteja carente de grandes baterias ou de um tipo de geração nuclear menos danosa. Mas é algo que está muito distante”, diz Moana.
O presidente da Abesco ainda acrescenta que no fundo a grande solução seria a rede elétrica inteligente (smart grid) e que já existem distribuidoras no Brasil fazendo experiências na área. “Elas primam por estarem no topo da tecnologia, e neste ambiente as decisões são tomadas de maneira mais inteligente”.
Já Guilherme Ferreira acredita que há necessidade de uma discussão mais ampla sobre os custos e benefícios do Horário de Verão. “É preciso se estimar os impactos para a sociedade e não apenas para o sistema elétrico. Do ponto de vista social, algumas pessoas passam a poder aproveitar uma hora adicional de luz natural para lazer e aproveitar ambientes ao ar livre após o horário de trabalho. Por outro lado, diversas pesquisas apontam para transtornos fisiológicos, alteração do relógio biológico, além de transtornos aos trabalhadores”, defende Ferreira.
Ainda assim, ele aponta como solução para a redução do consumo de energia, ações de eficiência energética, além de programas de resposta a demanda e sinalização econômica horária (tarifas diferenciadas). “A correta sinalização econômica (preço por horário, por exemplo) sobre o real custo da energia pode vir a reduzir os picos de consumo.”
Embora as posições dos especialistas não sejam convergentes no que tange à continuidade ou não do Horário de Verão, Ferreira e Moana acreditam que ações em eficiência energética tendem a ser um caminho sem volta. Com isso, percebemos que a tecnologia, grande vilã do consumo atual de energia e dos picos de demanda energética, será também a grande solução.