Por Alcides Faria, diretor da Ecoa.
– Redução foi de R$5,30 para R$4,50.
– Clima causando estragos econômicos. Faltou água para a navegação normal nos rios Paraguai e Paraná.
– A empresa é a HBSA. Em 2012 ela celebrou um contrato com a Vale S.A. para transportar e receber pelo transporte de 3,25 milhões de toneladas/ano de minério de Corumbá (MS), tendo água ou não.
– Entenda o problema.
O site Neofeed, dedicado a negócios e finanças, informa em publicação do dia 5/12/23 que a empresa Hidrovias do Brasil (HBSA), operadora da Hidrovia Paraná Paraguai (Bolívia, Brasil, Argentina e Uruguai), teve o valor do “preço alvo de suas ações” reduzidas pelo Bank of America. A razão foi a falta de água para suas operações, traduzido pela matéria como a “pior seca em 100 anos no Sul do país”, onde transporta “grãos, fertilizantes, minério de ferro e celulose”. Na região norte a empresa enfrenta problemas com a seca na bacia amazônica.
A redução no “preço alvo” das ações, motivada pela “pior seca”, segundo o banco, foi de R$5,30 para R$4,50. Há apenas quatro meses (15/8/23) a HBSA informava ao site Valor Econômico que preparava um novo “ciclo de expansão”. O ‘preço alvo de uma ação’ é um cálculo de especialistas que fornece aos investidores referência para avaliar o potencial de valorização ou desvalorização em relação ao preço atual ação.
Quem é a HBSA
No site da Ecoa é informado que em 2012 a HBSA, através de uma subsidiária constituída no Uruguai (Hidrovias del Sur SA), firmou contrato de 25 anos com a Vale Internacional SA para a compra, operação e manutenção de empurradores e frota de barcaças para transportar até 3,25 milhões de toneladas por ano de minério de ferro de Corumbá (MS), no Pantanal brasileiro, para portos na Argentina e no Uruguai. O modelo do contrato entre a subsidiária da HBSA no Uruguai e a Vale Internacional foi o take-or-pay (obrigação de aquisição).
A subsidiária com equipes em Assunção, no Paraguai, e outras localidades ao longo da HPP, estruturou projeto para construir e operar comboios de 285 metros de comprimento por 60 de largura, em valor total de US$400 milhões, “estruturados pela HBSA”. Nesta “estruturação” participou, dentre outros, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com US$100 milhões.
Em janeiro de 2015 a HBSA, originalmente criada pelo fundo de investimentos P2 Brasil (Pátria e Grupo Promon), Temasek e Alberta Investment Management Company (Aimco), anunciou uma nova capitalização com a participação da Blackstone Tactical Opportunities (11,3%); do BNDESPar (4,5%); International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial (3,4%). A HBSA ainda ficou sob controle da P2, com 54,7%, mas a Temasek e a Aimco reduziram sua participação para 16,7% e 9,32%, respectivamente.
Em 2020, em oferta coordenada pelo Bank of America, Itaú BBA, Santander Brasil, Morgan Stanley, BTG Pactual, Citi e Credit Suisse, a HBSA levantou R$3,4 bilhões com oferta pública de ações a R$7,56 cada. Em agosto desse ano o site do Valor Econômico publicou entrevista com dirigentes da empresa no qual informaram sobre planos de expansão.
As bacias do rio Paraná, do Paraguai e a operação de hidrovias
A região que o site Neofeed genericamente aponta como “Sul” com o propósito de mostrar onde opera a HBSA, é, na verdade, a bacia do rio da Prata, distribuída, no Brasil, pelo Sudeste, Centro-oeste e parte do Sul. Os rios Paraná, Paraguai e Uruguai são seus maiores formadores. Nesse território está a maior parte da economia da America do Sul e 50% da brasileira. Nele funcionam 2 grandes hidrovias: a Tietê Paraná (Brasil) e a Paraguai Paraná (Bolívia, Brasil, Argentina e Uruguai).
As duas vias regularmente enfrentam problemas com a falta de chuvas, disputando água, às vezes, com a geração hidroelétrica. Entre os anos de 2014 e 2016 e posteriormente em 2021 a Tietê Paraná esteve paralisada, causando prejuízos bilionários para os operadores e produtores de grãos.
Em setembro de 2021 a Hidrovia Paraná Paraguai foi paralisada em território brasileiro porque o rio Paraguai estava com nível baixíssimo. O rio, que drena o Pantanal, é a via utilizada para transportar soja e minério, a partir de Corumbá (MS), para a Argentina. A navegação retornou aos poucos em 2022. Atualmente o rio está sem condições de navegação até o extremo sul do Pantanal, em Porto Murtinho (MS). No dia 12/12/23 a régua que mede o nível do rio Paraguai em Ladário (MS) marca apenas 44 centímetros e em Forte Coimbra, município de Corumbá (MS), a jusante de Ladário, tem a marca negativa de -0,72 centímetros.
Na Argentina o caudal do rio Paraná, em 2021, foi reduzido em 40%, tomando por base a média histórica do rio, mas a redução foi sentida já em 2019. Vale registrar que na parte brasileira da bacia do Paraná estão represas de usinas hidrelétricas responsáveis por cerca de 60% da geração de eletricidade dessa origem. A retenção de água para geração elétrica contribuiu com a redução do caudal do rio.
Nos principais portos argentinos de embarque de grãos o nível do rio Paraná não permitia que as barcaças navegassem com o calado normal. Durante o ano de 2021 se calculou (Bolsa de Rosário) que a perda pode ter ultrapassado os US$ 500 milhões. O rio Paraná é o corredor do País para o oceano Atlantico e responsável por 80% das exportações da Argentina. O volume é de cerca de 100 milhões de toneladas/ano.