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G1 – Diretor de instituto de meteorologia diz que dados sobre queimadas deixam o Inpe e serão reunidos em novo painel

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A Ecoa manifesta sua surpresa e preocupação com a medida governamental de tirar do INPE a divulgação sobre queimadas em pleno período critico para o fogo no Pantanal, Amazônia e no Cerrado. A divulgação quanto aos focos de incêndio em cada região do Pantanal, por exemplo, permite a Ecoa e outras organizações não governamentais, junto com instituições governamentais planejarem sua ações em diferentes regiões. Uma dessas ações é a mobilização das brigadas comunitárias locais de combate aos incêndios. Esperamos que os dados continuem sendo disponibilizados com agilidade e transparência.

 

Por G1.

O diretor nacional do Instituto de Meteorologia (Inmet), Miguel Ivan Lacerda de Oliveira, disse nesta terça-feira (13) que os dados sobre alertas de queimadas no Brasil deixarão de ser emitidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Segundo Miguel Ivan, os dados passarão a ser concentrados no “Painel de Monitoramento ao Risco de Incêndio”, um novo produto dentro do Sistema Nacional de Meteorologia (SNM).

Em nota conjunta do Inpe, do Inmet e do Censipam, as entidades afirmam que o novo painel “é complementar aos produtos já implementados pelas instituições e serve para melhorar o monitoramento de queimadas”.

Segundo a nota, “não procede” que os Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e da Defesa (MD) deixarão de mostrar dados de incêndios.

O G1 entrou em contato com o MCTI e com a Casa Civil para obter esclarecimento sobre se os dados do Inpe disponíveis no site do Programa de Queimadas (http://www.inpe.br/queimadas) serão retirados do ar e sobre qual será o papel do Inpe, mas não obteve retorno até a mais recente atualização desta reportagem.

Temporada de queimadas

Nos próximos meses – agosto, setembro e outubro – intensifica-se a “temporada” de queimadas no país. É o período do ano com o maior número de focos detectados historicamente. Em junho deste ano, a Amazônia teve o maior número de queimadas detectadas para o mês desde 2007. Em 2020, o número de focos no Brasil subiu 12,73% na comparação com 2019, segundo dados do Programa Queimadas. No total, o país registrou 222.798 focos em 2020, ante 197.632 no ano anterior. Foi o maior número de focos registrado em uma década.

Anúncio com ministra da agricultura

O anúncio de Miguel Ivan foi feito durante o evento on-line com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.

“A gente já fechou hoje pela manhã que não haverá mais emissão do Inpe sobre incêndio ou do Censipam sobre incêndio, será do sistema nacional de meteorologia. Todos relatórios do governo federal são passados por esse sistema que está sendo organizado aqui”, disse Miguel Ivan, diretor nacional do Instituto de Meteorologia (Inmet).

O Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia) é um órgão do Ministério da Defesa que produz monitoramento de ocorrências, previsão do tempo e hidrologia na Amazônia.

Embates do governo com o Inpe

Em setembro do ano passado, quando o governo federal era criticado pela resposta ao aumento das queimadas e do desmatamento, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, sugeriu a criação de uma nova agência nacional que centralizaria os dados de monitoramento via satélite. Sem dar detalhes, Mourão afirmou que a ideia seria colocar as informações sob a gestão do Censipam.

À época, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgaram carta contra a tentativa de controlar e obstruir dados do Inpe.

Em 2019, o presidente Jair Bolsonaro exonerou o então diretor do Inpe, Ricardo Galvão, por discordância na divulgação dos dados de desmatamento da Amazônia. À época, o presidente acusou o instituto de mentir sobre os dados.

Reação entre pesquisadores

Pesquisadores do Inpe ouvidos pelo G1 dizem que foram pegos de surpresa com a afirmação de Oliveira, embora em 9 de julho os técnicos tenham participado de reunião coordenada pela Casa Civil que tratou da uniformização da divulgação dos dados.

O pesquisador Alberto Setzer, que atua no Programa Queimadas desde a década de 1980, quando o programa foi criado, relata que todos no instituto foram surpreendidos pelo anúncio de Miguel Ivan Lacerda.

Segundo Setzer, houve reunião recente com a Casa Civil que indicava uma uniformização na divulgação dos dados, mas não que eles deixariam de ser emitidos pelo Inpe.

“No dia 9 de julho, no final da manhã, houve uma reunião coordenada pela Casa Civil da Presidência da República com o objetivo justamente de coordenar, de unificar as divulgações de dados, para evitar contradição de números, uma vez que todo sabe que a questão das queimadas é bastante quente, no sentido do noticiário. Então, a Casa Civil fez essa reunião com a finalidade justamente de acertar os ponteiros. Foi a última informação oficial que tivemos, e estava tudo certo”, comentou Setzer.

Por causa da reunião anterior, a afirmação de que “não haverá mais emissão do Inpe sobre incêndio” causou perplexidade dentro do Inpe. Gilberto Câmara, ex-diretor do Inpe e especialista em monitoramento de dados ambientais, disse em sua conta no Twitter que “os dados de riscos de queimadas do Inpe já combinam dados do Inmet com modelos de previsão do tempo. O que o Inmet vai gerar é muito pior do que o Inpe faz hoje. Mais um retrocesso proposital na geração de informação ambiental”.

“Nós ficamos sabendo apenas hoje de manhã depois que saiu no site do Congresso, e a própria mídia começou a nos bombardear, e a resposta que a gente tem dado é que fomos pegos totalmente de surpresa, isso nunca foi conversado, isso nunca foi decidido. O Programa Queimadas não está sabendo disso, a direção do Inpe não está sabendo disso, é algo totalmente estranho a nós no Inpe”, disse Setzer.

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