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Hidrovia no Pantanal volta à ‘normalidade’ com chuvas intensas na parte norte nos primeiros meses do ano e entre abril e maio na parte sul

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Print de imagem do site da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).
  • Continua a propaganda, com Insistência, para dragagens inúteis.
  • Que se respeite a dinâmica do rio Paraguai e do Pantanal.

O transporte de cargas pelo rio Paraguai, no Pantanal, voltou à normalidade e até bateu recorde no volume transportado, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

Essa ‘normalidade’ ocorre porque as águas das chuvas intensas na primeira parte do ano, no norte da Alta Bacia do rio Paraguai (BAP), avançaram lentamente em direção ao sul do Pantanal, elevando o nível do rio Paraguai em Corumbá/Ladário, municípios localizados no extremo oeste de Mato Grosso do Sul, na fronteira com a Bolívia. A essas águas se somaram chuvas intensas nas sub-bacias da parte sul entre abril e maio de 2025, região até então com alto déficit hídrico.

As chuvas na parte sul elevaram o nível do rio Paraguai em Fuerte Olimpo, a jusante de Corumbá, no Paraguai de 3,64 metros no começo de março para 6,68 metros no início de junho – dados da Dirección de Meteorologia e Hidrologia do Paraguai.

Segundo a Antaq, o transporte de carga pelo rio Paraguai a partir de portos dos municípios de Corumbá e Ladário bateu recorde ao alcançar 2,054 milhões de toneladas entre janeiro e abril de 2025. Tal resultado não é, na verdade, uma surpresa, pois há, certamente, demanda represada em razão da seca de 2024, que levou o nível do rio Paraguai ao seu ponto mais baixo nos 120 anos de registros da Marinha do Brasil, no município de Ladário.

O que mostra o aumento no transporte, principalmente de minérios, agora em 2025?

Que se deve estruturar estrategicamente o transporte de acordo com as condições do rio Paraguai, sem que intervenções danosas — como retiradas de rochas anunciadas pela Antaq ou dragagens inúteis — desperdicem dinheiro público.

Caso não haja condições de navegação para as barcaças carregadas, que se utilize a ferrovia. A dinâmica entre secas e cheias do Pantanal deve ser respeitada.

O volume representa uma média de 513,5 mil toneladas por mês, conforme a Antaq.

Se este volume fosse retirado do Pantanal por caminhões, seriam necessárias em torno de 10 mil viagens com carretas bi-trem.

O volume supera, inclusive, o escoamento de 2023, que até agora era o ano recorde de transporte pela hidrovia a partir dos embarques feitos em Mato Grosso do Sul. Naquele ano, a média mensal dos primeiros quatro meses foi de 483,7 mil toneladas de minério por mês. Isso representa aumento de 6,1% na comparação com o até então melhor ano.

E isso somente está sendo possível por conta do aumento nas chuvas tanto em Mato Grosso do Sul quanto na parte sul de Mato Grosso desde o final de setembro do ano passado. Em decorrência dessas precipitações, o nível do rio Paraguai em Ladário voltou a passar dos três metros nesta semana e, neste sábado (14), amanheceu com 3,02 metros, o que não ocorria desde 26 de outubro de 2023.

Nesta mesma época do ano passado, o nível estava em 1,29 metro e fazia 40 dias que vinha baixando. O pico de 2024 foi de apenas 1,47 metro e, por conta da escassez de chuvas, o rio chegou ao seu mais baixo nível em 124 anos de medição, alcançando 69 centímetros abaixo de zero na régua de Ladário, em 17 de outubro.

Agora, a tendência é de que o nível continue subindo, embora lentamente, por mais alguns dias. Depois disso, tende a descer em torno de 40 a 50 centímetros por mês. E, se as chuvas retomarem seu ritmo histórico a partir de setembro, é possível que praticamente não ocorra interrupção no transporte durante o período de estiagem.

Quando o rio atinge 1,5 metro, os comboios com minério podem deixar a região de Ladário e Corumbá com carga plena. Abaixo disso, já podem ocorrer algumas reduções de carga. Mas, a partir do momento em que o nível fica abaixo de um metro, o transporte começa a ser suspenso.

E foi justamente por conta da falta de água que, no ano passado, a média mensal de escoamento de minério nos primeiros quatro meses do ano foi de 297 mil toneladas, o que representa 42% a menos do que foi transportado em 2025.

Porém, se fosse feita a chamada dragagem de manutenção em 18 pontos com bancos de areia ao longo dos cerca de 600 quilômetros entre Corumbá e Porto Murtinho, o transporte poderia ser realizado durante o ano inteiro, inclusive nos períodos de estiagem.

Em 31 de julho do ano passado, durante visita do presidente Lula a Corumbá, o presidente do Ibama, Rodrigo Antonio de Agostinho Mendonça, chegou a dar carta branca para o início imediato da dragagem do rio Paraguai.

Na época, ele acatou o argumento de que aquilo que precisava ser feito no chamado tramo sul da hidrovia não se tratava de dragagem, mas de manutenção de calado, o que não exige os demorados estudos de impacto ambiental.

Menos de um mês depois, em meio às polêmicas provocadas por uma carta assinada por mais de 40 cientistas e pesquisadores, o Ibama recuou e passou a exigir os estudos, que até agora não foram realizados.

Mesmo assim, o processo de concessão da hidrovia está em andamento e a expectativa é de que, até o fim deste ano, ocorra o leilão. Nesta semana, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) apresentou informações sobre a concessão da hidrovia à Associação Latino-Americana de Integração (Aladi).

O encontro, segundo a Antaq, reforçou o compromisso em dialogar com todos os envolvidos na licitação, inclusive entes internacionais. O rio Paraguai banha, além do Brasil, o Uruguai, o Paraguai, a Bolívia e a Argentina.

Sobre a concessão

Nos primeiros cinco anos da concessão, deverão ser realizados serviços de dragagem, balizamento e sinalização adequados, construção de galpão industrial, aquisição de draga, monitoramento hidrológico e levantamentos hidrográficos, melhorias em travessias e pontos de desmembramento de comboio, implantação dos sistemas de gestão do tráfego hidroviário, incluindo Vessel Traffic Service (VTS) e River Information Service (RIS), além dos serviços de inteligência fluvial. Após esse período, ainda serão feitas dragagens de manutenção na via.

De acordo com a Antaq, essas melhorias vão garantir segurança e confiabilidade à navegação. O investimento direto estimado nesses primeiros anos é de R$ 63,8 milhões. O prazo contratual da concessão é de 15 anos, com possibilidade de prorrogação por igual período.

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