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Invasão por braquiária é mais um desafio à sobrevivência do Cerrado

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José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – O Cerrado é a mais biodiversa savana do mundo, chegando a apresentar 35 espécies diferentes de plantas por metro quadrado. É também o berço de algumas das mais importantes bacias hidrográficas do território brasileiro: as do Xingu, Tocantins, Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Gurupi, Jequitinhonha, Paraná, Paraguai, entre outras. Pressionado pela expansão da fronteira agropecuária e por práticas inadequadas de manejo, sua sobrevivência encontra-se hoje dramaticamente ameaçada.

Entre as muitas ameaças que sofre, uma é a intrusão de espécies vegetais invasoras. E, destas, as mais insidiosas são gramíneas africanas, como o capim braquiária, introduzido no Brasil para servir de pastagem para bovinos. Capaz de se propagar a partir das áreas de plantio para o interior de unidades de conservação, promove alterações nas comunidades de plantas nativas, reduzindo a ocorrência de espécies ameaçadas que possuem preciosas propriedades medicinais, como a catuaba e a mama-cadela, por exemplo.

Uma pesquisa investigou se o uso adequado do fogo, como técnica de manejo, poderia controlar ou ao menos reduzir a ocorrência dessas espécies invasoras nas unidades de conservação. O estudo foi realizado durante o trabalho de mestrado da agora doutoranda Gabriella Damasceno, sob orientação de Alessandra Fidelis, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O estudo recebeu suporte da FAPESP por meio do auxílio Apoio a Jovens Pesquisadores conferido a Fidelis e de bolsa de mestrado concedida a Damasceno. Os resultados foram divulgados no Journal of Environmental Management.

“Nosso trabalho avaliou o efeito da época de queima – início, meio ou fim da estação seca – na abundância de Melinis minutiflora [capim-gordura] e Urochloa brizantha [capim braquiária], duas gramíneas invasoras encontradas no interior de várias unidades de conservação de Cerrado. Considerando que as previsões climáticas para o bioma indicam aumento na ocorrência de eventos extremos, como secas, temperaturas máximas e mínimas, investigamos também como as respostas dessas duas invasoras são influenciadas pela precipitação e pelas temperaturas máximas e mínimas do ar”, diz Damasceno à Agência FAPESP.

Os resultados mostraram que as duas espécies apresentam respostas opostas ao manejo com fogo: o capim-gordura foi controlado por queimadas em todas as épocas, enquanto o braquiária não foi controlado por nenhuma.

“A pesquisa trouxe também um resultado inesperado: quando o capim-gordura é eliminado pelo fogo, o capim braquiária adentra mais facilmente a área queimada. Queimadas no início e no fim da estação seca controlaram Melinis minutiflora, mas também aceleraram uma nova invasão por Urochloa brizantha”, afirma Fidelis.

Assim como suas respostas ao manejo, as duas espécies também foram distintamente influenciadas pelas variáveis ambientais. Quanto maior a precipitação, maior o processo de substituição de uma gramínea por outra. Menores temperaturas mínimas foram prejudiciais às duas espécies, porém, de formas diferentes. Quanto mais frio, menor a abundância de Melinis minutiflora viva e maior a abundância de Urochloa brizantha morta.

“Nossos resultados demonstram que o controle de gramíneas invasoras em áreas de Cerrado será ainda mais desafiador no futuro, já que mesmo espécies similares respondem de forma distinta a iniciativas de manejo. Além disso, respostas conjuntas de duas ou mais espécies invasoras podem ser difíceis de prever, dada a variabilidade da influência de fatores ambientais nas respostas de cada espécie”, comenta Damasceno.

O artigo Abundance of invasive grasses is dependent on fire regime and climatic conditions in tropical savannas pode ser lido aqui.

Iasmim Amiden

Jornalista e Coordenadora do Programa Oásis da Ecoa.

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