Usina Hidrelétrica de Belo Monte, cuja linha de transmissão que inicia no Pará e termina no Rio de Janeiro foi construída com investimento chinês. Fonte: UHE Belo Monte.

Investimentos chineses no Brasil

A Ecoa acompanha instituições que financiam o desenvolvimento priorizando os investimentos da China, do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial, por entender que os recursos devem seguir parâmetros de proteção ambientais e sociais rígidos. Não devem financiar obras que degradam o ambiente e tragam problemas sociais como o deslocamento de populações, situações de ocorrência comum.

Em fevereiro de 2021, publicamos nosso primeiro estudo a respeito dos investimentos chineses no Brasil, o artigo “Investimento chinês em energia no Brasil”, por meio do qual compreendemos que o nicho mais visado pela China no país é o da geração de energia, principalmente hidrelétrica. Desde então publicamos também notícias relacionadas ao assunto, que podem ser acessadas aqui.

Boa parte dos investimentos chineses em hidrelétricas no Brasil provém de duas estatais: State Grid, maior empresa do setor energético do mundo – que opera com cerca de 1,5 milhão de funcionários e fatura US$340 bilhões por ano – e a China Three Gorges. Essas empresas venceram licitações para a construção de usinas hidrelétricas e linhas de transmissão, como a de Belo Monte, que une o Pará ao Rio de Janeiro, e adquiriram ativos de empresas brasileiras e estrangeiras do setor de energia elétrica nacional. Isso significa que o próprio governo chinês tem investido no setor energético brasileiro e aumentado sua influência geopolítica no país. Além disso, a State Grid e a China Three Gorges têm a maioria de seus ativos no exterior localizados no Brasil, com fatias de 48% e 60%, respectivamente.

Parte da linha de transmissão Xingu-Rio, a linha de transmissão Xingu-Estreito, que liga a subestação do Xingu, na região central do Pará, passando por Tocantins, Goiás, até a subestação de Estreito, em Minas Gerais, na fronteira com São Paulo. Fonte: Dialogo Chino.

O aumento da presença de estatais chinesas em empreendimentos hidrelétricos brasileiros não implica em dívida do Brasil em relação ao país asiático. É o que explica a pesquisadora do Centro de Política em Desenvolvimento Global, da Universidade de Boston, Rebecca Ray: “Investimento estrangeiro direto (Foreign Direct Investment, em inglês) é como geralmente nomeamos quando uma companhia estrangeira está investindo em um país. Isso não implica em débito entre um país e outro, significa que os donos dos empreendimentos irão lucrar em decorrência do andamento dos projetos.”.

O que, sim, implica em débito entre um país e outro são os empréstimos. E os empréstimos do Banco de Desenvolvimento da China e do Banco da China de Importações e Exportações para países da América Latina e Caribe estão sendo mapeados pelo banco de dados “Latin American Finance Database”, disponível aqui e coordenado por Ray em parceria com o Inter-American Dialogue.

Segundo a base de dados, até este ano, a China fez empréstimos no valor de U$29,7 bilhões para o Brasil. É o segundo maior montante na América Latina, atrás apenas da Venezuela. Veja a imagem com dados dos setores em que esses empréstimos foram aplicados:

Um banco de dados voltado especificamente para o financiamento chinês em energia pelo mundo é o China´s Global Energy Finance, desenvolvido pelo Global Development Policy Center, da Universidade de Boston, e pode ser acessado aqui. Segundo esse banco de dados, até 2021, foram U$26,6 bilhões em financiamento de projetos voltados à energia no Brasil, dentre eles: óleo, carvão, energia eólica, transmissão, distribuição e geração de energia.

 

Dados sobre a presença da China no setor energético brasileiro

As empresas chinesas que investiram no setor energético brasileiro de 2014 até 2018 foram: Shanghai Electric (distribuição de energia); China Three Gorges (energia eólica e hidrelétricas); State Grid e SPIC Pacific Energy (hidrelétricas); BYD Energy, JA Solar, Trina Solar e CED Prometheus (energia solar); China Investment Corporation (CIC) e CNOOC (Petróleo e gás natural); Shandong Electric Power Construction Corporation, Jiangsu Communication Clean Energy Technology e Jinjiang Environment (Termoelétricas).

Os estados brasileiros que receberam investimento chinês nesse período foram: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pará, Tocantins, Amapá, Bahia e Rio Grande do Norte.

Os chineses investiram US$30,9 bilhões, em cinco anos, em energia solar, energia eólica, termelétricas, hidrelétricas, petróleo e gás natural e distribuição de energia. Desses US$30.9 bilhões, US$22,8 bilhões, ou seja, 73% do total, foram investidos em hidrelétricas. 10%, 12% e 12% da produção de energia no Brasil estão nas mãos dos chineses, respectivamente, nos setores de geração, transmissão e distribuição de energia.