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O investimento chinês em energia no Brasil

9 minutos de leitura

Por: Luiza Rosa.

Atualizado em 30 abr. 2021.

 

A China investe no exterior e no Brasil

Os chineses começaram a investir no exterior no final da década de 1970, estimulados pela política de portas abertas. No entanto, o impulso maior veio na década de 1990 com a estratégia Going Global iniciada pelo governo chinês em 1999.

O Brasil passou a receber maior volume de investimentos chineses a partir de 2010. De 2010 a 2015, o país recebeu cerca de US$37,1 bilhões em investimentos voltados, principalmente, para o setor de commodities, que é parte da pauta dos produtos mais exportados do Brasil para a China, e voltados para o setor de energia, em sua maioria hidrelétricas. É importante destacar que boa parte dos investimentos em hidrelétricas feito pela China no Brasil provém de duas estatais: a State Grid, maior empresa do setor energético do mundo – que opera com cerca de 1,5 milhão de funcionários e fatura US$340 bilhões por ano -, e a China Three Gorges. Essas empresas venceram licitações para a construção de usinas hidrelétricas e linhas de transmissão, como a de Belo Monte, que une o Pará ao Rio de Janeiro, e adquiriram ativos de empresas brasileiras e estrangeiras do setor de energia elétrica nacional. Isso significa que o próprio governo chinês tem investido no setor energético brasileiro e aumentado sua influência geopolítica no país.

A presença de empresas chinesas no país se deu, portanto, inicialmente, através da abertura de filiais, com a presença de empresas importantes em diversos segmentos, e das aquisições de negócios ligados ao segmento de commodities, tendo em vista a crescente demanda chinesa por produtos primários como petróleo, soja e minério de ferro. Em um segundo momento, de 2011 a 2013, o segmento industrial ganhou relevância, com companhias do setor automotivo, eletrodomésticos, máquinas pesadas, além dos grupos de telefonia e de energia. Em um terceiro momento, a partir de 2013, houve maior presença de bancos chineses no Brasil e de participação acionária dos chineses em bancos brasileiros ou internacionais já em operação no Brasil. A partir de 2014, os investimentos chineses passaram a priorizar o segmento de energia elétrica. A presença asiática também avançou através de aquisições globais, à medida que importantes multinacionais atuam aqui, como a COFCO, por exemplo, uma das maiores companhias agrícolas e de alimentos da China, ganhando rápida relevância na exportação de grãos no país. Por último, a partir de 2016, a presença de investimentos chineses se deu no segmento de infraestrutura.

Segundo o Conselho Empresarial Brasil-China:

“De acordo com estudo elaborado pelo Atlantic Council, em parceria com a OECD Development Centre, entre 2003 e 2016, 55% dos investimentos chineses na América Latina foram direcionados ao Brasil, o que posiciona o país como líder inconteste em termos de atratividade de investimentos chineses na região.” (CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA, 2018: 8)

 

Investimento chinês em energia no Brasil

De acordo com relatórios do Conselho Empresarial Brasil-China, foram 15 as empresas que investiram em energia elétrica no Brasil, desde 2014 até 2018. São elas: Shanghai Electric (distribuição de energia); China Three Gorges (energia eólica e hidrelétricas); State Grid e SPIC Pacific Energy (hidrelétricas); BYD Energy, JA Solar, Trina Solar e CED Prometheus (energia solar); China Investment Corporation (CIC) e CNOOC (Petróleo e gás natural); Shandong Electric Power Construction Corporation, Jiangsu Communication Clean Energy Technology e Jinjiang Environment (Termoelétricas).

A distribuição geográfica dos investimentos dessas empresas se deu da seguinte maneira:

Dessa forma, são treze os estados federativos brasileiros que receberam financiamento chinês no setor de energia elétrica entre 2014 e 2018. São eles: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Pará, Tocantins, Amapá, Bahia e Rio Grande do Norte.

Veja no mapa:

De 2014 a 2018 foi possível ter conhecimento de que empreendimentos chineses investiram US$30,9 bilhões em energia no Brasil. Veja no gráfico a seguir:

Por segmento, os chineses investiram, de 2014 a 2018, em Hidrelétricas, Termoelétricas, Energia eólica, Energia solar, Linhas de transmissão, Petróleo e Gás natural. Veja os números no gráfico a seguir feito com dados obtidos em relatórios do Conselho Empresarial Brasil-China:

Obs.: A conversão entre reais e dólares dos dois gráficos apresentados neste artigo foi realizada tomando como parâmetro os dados obtidos em tabela disponibilizada pelo site www.ipeadata.gov.br. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=31924>.

 

Considerações finais

É possível perceber que a presença da China no Brasil é vultosa. Só no setor de energia, os chineses investiram US$30,9 bilhões, em cinco anos, entre energia solar, energia eólica, termoelétricas, hidrelétricas, petróleo e gás natural e distribuição de energia. Desses US$30.9 bilhões, US$22,8 bilhões, ou seja, 73% do total, foram investidos em hidrelétricas. 10%, 12% e 12% da produção de energia no Brasil estão nas mãos dos chineses, respectivamente, nos setores de geração, transmissão e distribuição de energia.

Quais são os investimentos que os chineses estão realizando no país no setor de energia? O que isso implica no que tange à influência geopolítica da China no país? Este cenário faz crescer uma dívida do Brasil em relação ao país asiático? São questões a serem respondidas em novas pesquisas desenvolvidas e publicadas pela Ecoa para o setor de infra-estrutura e energia.

 

Referências bibliográficas:

BARBOSA, Pedro Henrique Batista. OPINIÃO | A China no setor elétrico brasileiro: tendências e oportunidades. Dialogo Chino, 30 abr. 2021. Disponível em: https://dialogochino.net/pt-br/mudanca-climatica-e-energia-pt-br/a-china-no-setor-eletrico-brasileiro-tendencias-e-oportunidades/. Acesso em: 28 abr. 2021.

CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Disponível em: <http://cebc.org.br/>. Acesso em 6 fev. 2021.

CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Investimentos chineses no Brasil 2014-2015. Rio de Janeiro, Conselho Empresarial Brasil-China: 2016.

CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Investimentos chineses no Brasil 2016. Rio de Janeiro, Conselho Empresarial Brasil-China: 2017.

CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Investimentos chineses no Brasil 2017. Rio de Janeiro, Conselho Empresarial Brasil-China: 2018.

CONSELHO EMPRESARIAL BRASIL-CHINA. Investimentos chineses no Brasil 2018: o quadro brasileiro em perspectiva global. Rio de Janeiro, Conselho Empresarial Brasil-China: 2019.

FILGUEIRAS, Maria Luíza. O setor elétrico brasileiro caiu no colo dos chineses. EXAME, 11 ago. 2016. Disponível em: <https://exame.com/revista-exame/o-setor-eletrico-brasileiro-caiu-no-colo-dos-chineses/>. Acesso em: 10 fev. 2021.

IPEADATA. Disponível em: <http://www.ipeadata.gov.br/ExibeSerie.aspx?serid=31924>. Acesso em 19 fev. 2021.

ORGAZ, Cristina J. Qual é o tamanho da dívida do Brasil e vizinhos com a China, e o que isso significa. BBC News, 7 dez. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50581569#:~:text=Atr%C3%A1s%20da%20Venezuela%2C%20o%20Brasil,%24%202%2C5%20bi). Acesso em 12 fev. 2021.

 

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