Por Clima Info
BRASIL, CHINA E INDIA BLOQUEIAM METAS DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DE CO2 PARA A NAVEGAÇÃO INTERNACIONAL
Na reunião do IMO (Organização Marítima Internacional) desta semana se esperava que os países membros concordassem em medidas para reduzir a pegada de carbono da navegação internacional seguindo os passos que a aviação internacional deu no mês passado. Mas os representantes do Brasil, da China e da Índia bloquearam até mesmo uma declaração conjunta. Alegaram que o Acordo de Paris não se refere à navegação e que seria melhor focar em eficiência energética e monitoramento das emissões. O que dizer? No mínimo que a diplomacia brasileira carece de coerência: brilha em Paris e faz de conta que as emissões marítimas não são da sua conta.
http://www.climatechangenews.com/2016/10/25/un-faces-deadlock-over-shipping-climate-deal-plans/
APESAR DA RESISTÊNCIA DO GOVERNO BRASILEIRO, 200 MIL VIDAS SERÃO SALVAS COM A REDUÇÃO APROVADA PELA ONU NO TEOR DE ENXOFRE DOS COMBUSTÍVEIS MARÍTIMOS
Mas nem tudo são espinhos. A mesma IMO decidiu hoje pela redução do teor de enxofre nos combustíveis utilizados na navegação internacional, dos atuais 3,5% para 0,5% já em 2020. Estava em discussão a possibilidade de retardar a medida para 2025, o que causaria mais 200 mil mortes prematuras.
Quem esteve por lá sofreu quando os representantes do Brasil, Rússia e Índia, entre outros, se manifestaram por 2025.
EMISSÃO DE GASES DE EFEITO ESTUFA DO BRASIL SOBEM 3,5% EM 2015
E o desmatamento foi responsável pelo aumento da poluição climática, que ocorreu apesar de queda recorde no PIB.
http://www.observatoriodoclima.eco.br/emissoes-do-brasil-sobem-35-em-2015-mostra-seeg/
HABITAT III E A NOVA AGENDA URBANA
Temos um novo guia para as cidades. A reunião da ONU sobre cidades, a Habitat III, terminou ontem com a assinatura de um documento que pontua como deve evoluir uma cidade para se tornar amigável para os seres humanos, segura, sustentável, resiliente às ameaças naturais, inclusiva, compacta e saudável.
É A ECONOMIA, TRUMP
Donald Trump, falando num programa de rádio, disse que existem usinas a carvão limpas e que “eles” estão matando a indústria americana. E que as renováveis, ah, não que ele seja contra, mas a solar é muito cara e a eólica é caríssima porque só funciona quando venta. E, a pérola das pérolas, disse que os americanos vão presos por matar uma águia enquanto as eólicas estão matando centenas delas. Além de que os parques eólicos em Palm Beach estão enferrujando (??) e apodrecendo (??).
Em tempo, Trump abriu um pouco seus livros contábeis e descobriu-se que ele investiu num dos maiores e mais polêmicos oleodutos do oeste dos EUA. No final de semana, nos protestos contra o oleoduto, a polícia prendeu 120 pessoas incluindo jornalistas e cinegrafistas. Ah, sim a dona do oleoduto fez doações importantes para sua campanha. Então tá.
http://politics.blog.ajc.com/2016/10/25/herman-cain-and-donald-trump-tilt-at-west-coast-windmills/
COMO NÃO GOVERNAR A TRANSIÇÃO PARA A ECONOMIA DE BAIXO CARBONO
São os pequenos grandes exemplos que saltam aos olhos. Um editorial do Guardian de ontem critica o projeto inglês de expansão do aeroporto de Heathrow que vai acrescentar mais uma pista e quejandos a um dos aeroportos mais carregados do mundo. O primeiro ponto é que o turismo responde por 2/3 dos passageiros que usam o aeroporto – e talvez o turismo tenha que ser re-priorizado num mundo de emissões limitadas. Um dos motivos alegados no projeto é o aumento do trafego na ilha, principalmente a rota para Glasgow e Edinburgh na Escócia. Só que há um projeto de aumento da capacidade dos trens de alta velocidade nesta rota. Cancelar o projeto por conta de Heathrow significaria queimar querosene de aviação em alta altitude no lugar de eletricidade de um mix de fósseis e renováveis no solo. O editorial termina dizendo que a expansão do aeroporto beneficia apenas os que tem recursos para voar enquanto que os não tem, não ganham nem uma refeição a bordo.
IRLANDA: CARNE VERMELHA É INIMIGA DO CLIMA
Um estudo abortou os hábitos alimentares dos irlandeses e descobriu que a carne vermelha responde por 40% das emissões associadas à comida. A ex-presidente Mary Robbins pediu a redução do consumo. O estudo da pegada de carbono da carne levou em consideração o metano arrotado pelos rebanhos de gado e ovelha. Apesar de saberem que a mudança do clima afetará sua produção, os criadores não querem nem ouvir falar de medidas como um imposto sobre as emissões.
Vale lembrar um estudo inglês de dois anos atrás que apontou que a carne vermelha requer uma área 28 vezes maior do que a criação de porcos e galinhas e que emite 5 vezes mais. E, como esperado, comparando com batatas, trigo e arroz, a carne vermelha requer 160 vezes mais terra e emite 11 vezes mais.
A ANTARTICA OCIDENTAL DERRETENDO
Um dos argumentos preferidos dos céticos climáticos é que a temperatura na Antártica está diminuindo posto que a extensão de gelo no continente está aumentando. Um estudo publicado em julho argumentou exatamente o contrário: a temperatura do oceano está subindo nos trópicos, aumentando a evaporação que é carregada até a Antártica onde as baixas temperaturas formam mais gelo que antes. Para completar, a ponta da parte ocidental do continente está derretendo mais rápido. Há anos que satélites filmam a ruptura de grandes áreas de gelo, mas as medidas agora mostram um quadro ainda mais dramático.
O CARVÃO NÃO ALIVIA A POBREZA
No Brasil, o lobby do carvão não chega a tanto, apesar de ter pendurado um gigantesco jabuti na MP 735 aprovada pelo Senado na semana passada.
Mas na Índia, nos EUA e em vários países onde o carvão se vê cada vez mais acuado, as campanhas desta indústria dizem ser a melhor solução para fornecer energia aos mais pobres, seguindo a campanha da ONU de acesso à energia para todos (na verdade, o mote é “energia sustentável para todos”). E pegam a China como exemplo, onde o carvão alimentou o boom econômico e uma redução de pobreza nunca vista. Mas mesmo este argumento falseia a questão. Nos países mais pobres, os mais pobres que vivem em centros urbanos não têm recursos para se ligar à rede elétrica. E a população rural é dispersa, o que é uma barreira para sua conexão. O carvão não resolve nenhum destes problemas: enquanto instalações solares e eólicas têm custos iniciais, claro, mas geram quase sem custo, a conta do carvão é para toda a vida da usina, o que não ajuda os mais pobres. E não há carvão que puxe o fio até as pequenas vilas e fazendas.