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O ‘Legado’ das Cinzas’: estudo mostra efeitos dos incêndios no Pantanal brasileiro através de testes toxicológicos das cinzas

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Professora Doutora Carolina Joana da Silva (Fotos: Ricardo Machado/IHU)

Em 2020, o Pantanal brasileiro sofreu incêndios devastadores, os quais levaram a levaram a destruição de mais de 4 milhões de hectares, criando uma ‘conjuntura’ ambiental sem precedentes. Para avaliar efeitos após o fogo no solo, nas águas e no ar, pesquisadores de diferentes instituições coletaram cinzas em 4 Unidades de Conservação (UCs) na parte norte do Pantanal para a realização de testes toxicológicos.

Para a doutora Carolina Joana da Silva, Presidente do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera do Pantanal e professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), e uma das autoras do Estudo (Wildfire ashes: evaluating threats on the Pantanal wetland reserve (Mato Grosso, Brazil) using ecotoxicological tests), a iniciativa foi “para comprovar algumas hipóteses e suposições”. Informa ainda que se trata da segunda pesquisa experimental de abordagem toxicológica do impacto dos incêndios em pequenos animais, quase invisíveis a olho nu – “a invisibilidade na mortalidade no Pantanal.

Carolina registra que até agora as pesquisas mostraram os impactos na escala “paisagem, com comunidades e populações de mamíferos e répteis afetados, com abordagens mais descritivas nessas escalas. A nossa pesquisa mostra os efeitos de ‘produtos’ dos incêndios – as cinzas e as taxas de mortalidade de modo experimental.”

“As cinzas estão causando impactos não visíveis aos nossos olhos. Em 2020 as imagens dos incêndios eram de jacarés e onças sendo queimados. O que aconteceu com o que não vemos? As cinzas quando são levadas para as águas entram no sistema aquático e são incorporadas. O que foi visto no microscópio é uma letalidade de 70%, entre indivíduos menores e microrganismos. Esses são animais aquáticos que representam a base da cadeia alimentar no Pantanal. E pior, nem sabemos ainda se essa fauna aquática se recompôs, ou se houve redução. Usar fogo nesse ambiente sem saber ao certo qual é o impacto é um risco gigantesco”.

Carolina Joana afirma que as conclusões do estudo mostram que até mesmo para o combate aos incêndios o uso do fogo deve ser considerado com cautela.

O estudo e os meios

No estudo, os pesquisadores informam que no sistema edáfico (fatores que influenciam diretamente os solos) o trabalho foi realizado através de testes comportamentais e de toxicidade aguda usando anelídeos (vermes, minhocas, sanguessugas e outras espécies) expostos ao solo contaminado com diferentes concentrações de cinzas. Na água avaliaram o impacto por meio de testes com Daphnia similis Claus, 1876 (pulga d’água). No sistema de solos, foi por meio da Eisenia andrei Bouché (uma espécie de minhoca comum). Também foi avaliado o efeito das cinzas no fluxo de gases de efeito estufa do solo.

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