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O trágico ataque de uma onça ao caseiro em uma pousada no Pantanal deve servir de alerta. Onças são animais selvagens e não ‘gatinhos’ de estimação

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Imagem: ICMBio.
  • É importante frisar: o problema não são as onças. O foco deste alerta é o risco oferecido aos que vivem no Pantanal, àqueles que o visitam e as possíveis causas de alteração no comportamento desses animais.

O trágico ataque de uma onça ao caseiro Jorge Ávalo na pousada Touro Morto, às margens do rio Aquidauana, no município do mesmo nome, localizado no Mato Grosso do Sul, deve servir como um novo alerta para todos os que vivem no Pantanal e para aqueles que o visitam como turistas. Vale o registro de que a onça atacou e feriu um dos membros da equipe da equipe comandada pela Policia Militar Ambiental quando se aproximaram dos restos mortais de Jorge.

O caseiro Jorge Ávalo, vítima do ataque.

Nesses tempos de câmeras potentes nos celulares e postagens imediatas na internet, se multiplicam imagens de onças nas margens ou nadando nos rios pantaneiros, em situações que, muitas vezes, as fazem parecer o que não são: gatinhos de estimação.

Sabemos que os eventos climáticos extremos, como a grande seca de 2024 – uma das causas dos grandes incêndios que destruíram mais de 2 milhões de hectares no Pantanal – provocam alterações ecossistêmicas que podem perdurar por dezenas de anos, particularmente nas regiões mais sensíveis, quadro que provavelmente altera o comportamento de muitos animais ‘sobreviventes’ do fogo. A desestruturação das cadeias alimentares, com redução de alimentos disponíveis, certamente afeta carnívoros como as onças, quadro que merece estudos e disponibilização de informações para a população.

Pode-se supor que a bacia do rio Aquidauana enfrentava, até recentemente, um quadro chuvas insuficientes para abastecer a planície de inundação do Pantanal. Poderia tal quadro afetar as onças?

Dois relatos recentes

Na Comunidade Tradicional da Barra do rio São Lourenço, a montante de Corumbá (MS), na divisa entre MS e MT, a líder comunitária Eliane Aires, da coordenação da Rede Mulheres Produtoras do Pantanal e Cerrado, enviou-nos áudio onde informa sobre a reaproximação das onças das casas dos ribeirinhos. “É uma coisa que a gente vem lutando há muito tempo. Ele [onça] estava vindo pegar cachorro na porta da casa e hoje continua do mesmo jeito. A preocupação da gente é com as nossas crianças, as pessoas que saem de madrugada, então a gente fica numa preocupação muito grande e precisa de apoio. A fome está batendo, tem pouca alimentação e ela vai chegando no lugar que tem alimentação”.

Eliane Aires.

Da Área de Proteção Ambiental Baía Negra, em Ladário (MS), a líder Maria de Lourdes Arruda conta que uma onça invadiu sua casa, arrastou seu cachorro e o devorou.

Em 2022 diretores, à época, da Ecoa lançaram um alerta sobre o que acontecia ao longo do rio Paraguai, quando as onças comeram todos os cachorros e invadiram casas, em uma mudança de comportamento.

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