“Eu não quero falar apenas sobre o próximo ano. Quero concentrar-me nos próximos cinco anos, dez anos, e além.” Em seu último Discurso do Estado da União – um balanço feito pelo presidente dos EUA em sessão conjunta do Congresso todos os anos –, Barack Obama apresentou o que para ele são prioridades para os Estados Unidos, econômica e politicamente. Não é de se espantar que, após um ano cheio de declarações sobre a conferência do clima de Paris e o desafio das mudanças climáticas, o tema esteja no mesmo patamar de questões como segurança e relações exteriores no discurso do presidente.
Para Obama, que deixa o cargo neste ano, a inovação deve permanecer como uma das marcas dos EUA, em especial frente a desafios como a crise climática. O presidente afirmou que a busca por soluções em energia limpa deve ter o mesmo comprometimento que a ciência médica.
Obama aproveitou também para alfinetar os céticos do clima, como a maior parte dos políticos do partido Republicano, seus oponentes. “Se alguém ainda quer disputar a ciência em torno das mudanças climáticas, vá em frente”, ironizou. “Você vai ser muito solitário, porque vai debater com nossos militares, a maioria dos líderes empresariais da América, a maioria do povo americano, quase toda a comunidade científica e 200 nações ao redor do mundo que concordam que isto é um problema e pretendem resolvê-lo.”
O presidente defendeu que mesmo que não houvesse evidências sobre o aquecimento do planeta, o país só teria a ganhar investindo na área. “Mesmo que o planeta não estivesse em jogo; mesmo que 2014 não tivesse sido o ano mais quente já registrado – até que [se confirme que] 2015 tenha mesmo acabado mais quente –, por que queremos deixar passar a oportunidade para as empresas americanas produzirem e venderem a energia do futuro?”
O democrata destacou o plano de investimentos em energia renovável da sua gestão, mas reconheceu a necessidade de uma transição mais rápida. Atualmente, cerca de 82% da energia dos EUA vêm de combustíveis fósseis, de acordo com relatório do Departamento de Energia norte-americano. Mas o setor de energias renováveis cresceu no país. Entre 2011 e 2015, a capacidade instalada de energia eólica cresceu 65% e a capacidade em energia solar é cerca de nove vezes maior. No ano passado, o governo anunciou US$ 4 bilhões em investimentos em energia limpa.
O presidente norte-americano sinalizou mudanças na exploração de carvão, petróleo e gás em terras públicas. “Ao invés de subsidiar o passado, devemos investir no futuro – especialmente em comunidades que dependem de combustíveis fósseis”, disse Obama. As mudanças ocorrem no mesmo momento em que os preços do petróleo e do carvão despencam em todo o mundo.
Fonte: Observatório do Clima