Entre as águas, matas e comunidades do Pantanal Sul-mato-grossense, algo vem crescendo de forma silenciosa, mas poderosa: um movimento coletivo por um futuro sustentável. Desde 2019, a Paisagem Modelo Pantanal tem se firmado como um exemplo de como é possível cuidar da natureza e das pessoas ao mesmo tempo, unindo saberes locais, ciência, tecnologia e muita vontade de fazer diferente.
Este é um resumo do que vem sendo construído nesse território especial que abrange áreas dos municípios de Corumbá e Ladário, com cerca de 76 mil hectares na borda oeste do Pantanal.
Preparando o terreno
A área da Paisagem Modelo Pantanal é estratégica por ser prioritária para a conservação da biodiversidade, segundo o coordenador André Nunes. Na região existem espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção. Além disso a extensão da Paisagem Modelo Pantanal é ocupada por diferentes atores que se relacionam com o ambiente de acordo com suas atividades econômicas. Como relata Rafael Chiaravalloti, conselheiro da Ecoa, na área há “comunidades tradicionais e mineradoras vivendo lado a lado”. Em 2021, a Paisagem Modelo Pantanal se tornou oficial. A proposta é simples e poderosa: juntar quem vive na região — produtores, assentados, ribeirinhos, empresários, órgãos públicos — para decidir juntos como conservar a natureza e melhorar a qualidade de vida de todos.
Começaram também os primeiros projetos de restauração de áreas degradadas. Mudas foram compradas para o plantio realizado pelos moradores em regiões de desmatamento e em área que era destinada ao lixo. As ações foram em parceria com o projeto Restauração Estratégica e Participativa no Pantanal: Área de Proteção Ambiental (APA) Baía Negra, coordenado pela ECOA em parceria com o LEI – UFMS, sob coordenação técnica do Ministério do Meio Ambiente e financiamento do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), cuja agência implementadora é o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), tendo o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) como executor.
Em seguida, um mapa das áreas mais degradadas foi feito com base em imagens e visitas de campo, ajudando a escolher os locais prioritários para recuperação. Oficinas comunitárias reuniram moradores para ouvir suas ideias e alinhar ações.
Foi quando o projeto RESTAURacción, financiado pelo Serviço Florestal Canadense, entrou em campo que famílias foram entrevistadas para saber como usavam suas terras e o que desejavam para o futuro. Ao mesmo tempo, pesquisadores de várias instituições ajudaram a identificar áreas importantes para a recuperação da natureza.
Começaram os primeiros Sistemas Agroflorestais (SAFs) no Assentamento Rural 72, também em Ladário. Os SAFs são espaços onde se plantam árvores nativas, frutíferas e hortaliças, tudo junto. As famílias participaram do plantio e aprenderam a manejar a terra com técnicas que respeitam o meio ambiente. Atualmente são 13 unidades implantadas e em produção ativa.
Também começaram os monitoramentos da fauna, com armadilhas fotográficas registrando animais como onça-pintada, tamanduás e veados.
Em 2024, o projeto International Model Forest Climation permitiu expandir a iniciativa. O viveiro Reflora Pantanal começou a ser construído no Assentamento 72, com capacidade para produzir milhares de mudas nativas e hortaliças. Enquanto isso, os SAFs se expandiram e receberam sistemas de irrigação movidos a energia solar, permitindo produção mesmo durante a seca severa que atingiu o Pantanal.
As famílias passaram a monitorar suas próprias plantações, com apoio técnico e oficinas sobre manejo e comercialização. Também houve encontros com órgãos públicos, líderes comunitários e moradores para organizar melhor as decisões sobre o território.
A governança participativa se fortaleceu com conselhos reunindo todos os setores da sociedade. A Paisagem Modelo Pantanal passou a ser reconhecida internacionalmente como exemplo de gestão sustentável.
E a natureza respondeu: um ninho ativo de harpia, uma das maiores aves de rapina do mundo, foi encontrado na área da Paisagem Modelo, um símbolo de que a região tem sido um refúgio para diversas espécies.
Para proteger a região, também houve o fortalecimento de brigadas comunitárias, com a compra de equipamentos e oficinas de formação, como o SCI (Sistema de Comando de Incidentes) e Manejo Integrado do Fogo. Além disso, houve a produção de cartilhas com conteúdos que orientaram as formações.
Nas cadeias socioprodutivas, foi realizado um diagnóstico participativo com 22 participantes — 15 mulheres e 7 homens — voltado à reorganização da cadeia produtiva da bocaiúva (Acrocomia aculeata). Os frutos dessa palmeira, abundante na região, podem ser consumidos in natura, transformados em polpa ou farinha e utilizados em diversos preparos culinários.
Com o conjunto de ações realizadas, a Paisagem Modelo Pantanal mostra que é possível equilibrar conservação e desenvolvimento, envolvendo diferentes atores de um território para objetivos em comum.
Todas as atividades realizadas até o momento podem ser conferidas aqui.




