- Tal condição pode criar condições favoráveis a incêndios.
Análise de Fernanda Cano e Alcides Faria, responsáveis pela área de Mudanças Climáticas na Ecoa.
Composição de imagens do dia 29 de julho último, do satélite Sentinel-2, mostrou a ampliação do estresse hídrico da vegetação em uma grande região do Pantanal, principalmente na parte leste. Nova composição de imagens, do dia 13 de agosto, indica que a área de estresse está ampliada, alcançando a parte mais a oeste. O estresse hídrico indica quantidade de água insuficiente no solo para atender às necessidades fisiológicas das plantas.
Quanto aos níveis do rio Paraguai, em seu trajeto no Pantanal, os dados coletados no mesmo dia (13/8) indicam que estão acima dos observados nessa mesma época em 2024, ano da maior seca registrada na planície pantaneira, mas com redução gradativa.
O rio Paraguai é o “canal” que drena toda a água que chega ao Pantanal de suas sub-bacias. Ele percorre basicamente a parte mais a oeste da planície, no sentido norte-sul. A declividade nesse sentido (norte-sul) é de 2,5 a 5 centímetros por quilômetro – a cada 100 km, a diferença de altitude fica entre 2,5 e 5 metros. Já no sentido leste-oeste, a declividade varia de 3 a 6 cm por quilômetro, dependendo das sub-regiões. Na região próxima à cidade de Corumbá (MS), localizada no extremo centro-oeste, por exemplo, a declividade é mais reduzida.
Na Comunidade Tradicional da Barra do rio São Lourenço, a altitude é de aproximadamente 93 metros, enquanto em Corumbá, a jusante, alcança 129 metros.
A baixa inclinação da planície faz com que as águas dos rios que drenam para a região percam velocidade, espalhem-se e favoreçam a sedimentação e a formação de áreas alagadas permanentes e temporárias.
Agora, em agosto, ocorre a redução generalizada dos níveis do rio Paraguai, de Cáceres (MT), ao norte, a Porto Murtinho (MS), no extremo sul da planície. A redução dos níveis vem acompanhada da diminuição da área inundada e da redução no lençol freático.
No final de 2024 e durante os primeiros meses de 2025, chuvas intensas nas sub-bacias do norte da bacia do rio Paraguai abasteceram a planície. No mesmo período, a parte sul enfrentou estiagem, quadro revertido a partir do mês de maio de 2025, quando passou a chover com mais intensidade nas sub-bacias dos rios Miranda-Aquidauana, Taquari e rio Negro, este na divisa entre Paraguai e Bolívia.
A observação de alguns elementos, como a redução do nível do rio Paraguai, com a consequente diminuição de áreas inundadas, e o estresse hídrico da vegetação, indicam a possibilidade de condições favoráveis a incêndios nos próximos meses. Este cenário pode ser revertido se chuvas generalizadas ocorrerem nas sub-bacias e na planície.
Nesse momento, consideramos que se deve levar em conta o cenário mais desfavorável, somando um fator: a continuidade da Fase Neutra entre El Niño e La Niña no oceano Pacífico, em geral coincidente com menos chuvas na bacia do rio Paraguai. O último informe do Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos (CPC) indica que a Fase Neutra deve prosseguir nos próximos meses e até mesmo atravessar o verão, com breve passagem pelo La Niña.

Rios em alerta
A prefeitura de Rondonópolis (MT) informou, no dia 1º de agosto, que o rio Vermelho, o principal curso de água que atravessa o município, afluente do rio São Lourenço e, portanto, abastecedor do Pantanal, “bateu recorde histórico ao marcar o menor nível de água das últimas décadas na quinta-feira (31/7). Em medição feita pela Defesa Civil do Município, foi registrado 1,13 metro de profundidade. Até então, o menor nível registrado havia sido em outubro de 2024, com 1,20 metro”.
Já no Mato Grosso do Sul, outro rio que também fornece água para o Pantanal, o Aquidauana, está com nível abaixo da média, segundo o órgão estadual encarregado de sua verificação.
Conclusão
Os dados disponíveis nesse momento indicam um cenário de risco de incêndios. As ações preventivas devem prosseguir por parte das brigadas comunitárias e dos órgãos governamentais.