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O Pantanal e a atual conjuntura hidrológica e climática e os riscos de grandes incêndios em 2024

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Seca no rio Paraguai em 2020 na região da Serra do Amolar. Imagem: acervo Ecoa

 “Nada impacta mais o clima global do que os fenômenos La Niña e El Niño” – NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) dos Estados Unidos.

A Ecoa monitora permanentemente as condições climáticas e hidrológicas do Pantanal através de fontes primárias e secundárias, dentre elas a medição diária do nível do rio Paraguai, apresentada pela Marinha do Brasil, desde Cáceres (MT), ao Norte, até Porto Murtinho (MS), ao Sul. Outras fontes preciosas são as redes de contatos com comunidades e ribeirinhos distribuídos pelos principais rios que drenam para o Pantanal. Igualmente, a Dirección de Meteorologia e Hidrologia do Paraguai, organismo que apresenta medidas do rio a partir de Ladário (MS), é uma referência importante. A esse processo de visualização do rio Paraguai a cada tempo soma-se o estudo permanente de fenômenos climáticos mais agudos.

Para o Pantanal os indicativos para 2024 são de que estarão dadas as condições climáticas e hidrológicas de ocorrência de grandes incêndios, a exemplo de 2020, tendo-se, a rigor, um quadro agravado, caso consideremos elementos como o nível atual do rio Paraguai em toda sua extensão, pois está abaixo da média para essa época do ano e abaixo do alcançado em 2020.

O ponto de partida para as considerações sobre os cenários climáticos da Bacia do Alto Paraguai (BAP) para os próximos meses é a conexão mais especifica de eventos climáticos na América do Sul com os fenômenos El Niño e La Niña. Nessa perspectiva é importante ter em conta o que desatou o desastre recente no Rio Grande do Sul, segundo o climatologista Carlos Nobre:

“Essa situação do Rio Grande do Sul é o sistema de baixa pressão que vem do Oceano Pacífico. Ele gera um sistema de alta pressão no centro oeste e sudeste e o sistema de alta pressão bloqueia o sistema de baixa pressão. As frentes frias chegam ali, não conseguem passar e chove demais, alimentados por um fluxo muito grande de vapor d’água que está vindo da Amazônia e passa paralelo aos Andes.”

O NOAA aponta que as águas do Pacífico Equatorial rumam para uma fase ‘neutral’ e a seguir, com alta probabilidade, chegaria o La Niña, a partir julho/agosto, processo semelhante ao que prevalecia em 2020 no Pantanal.  Já é evidente que 2024 será um ano dos mais secos na planície pantaneira, sem ocupação pela água, quadro que rebaixa o lençol freático e amplia o território para o fogo.  Chuvas pesadas em algumas sub-bacias na temporada das águas não foram suficientes para mudar o quadro de seca.

Como comentamos de início, uma das principais referências que utilizamos para analisar as condições de alagamento ou não do Pantanal, a cada período do ano, é o nível do rio Paraguai ao longo de seu curso a partir de Cáceres (MT), ao Norte, até Porto Murtinho (MS), no extremo Sul.

Uma das medidas que consideramos indicativa do quadro geral de inundação ou seca é a realizada pela Marinha do Brasil na localidade de Bela Vista do Norte, no Sul da Ilha Insua, aproximadamente na região do ‘triangulo’ que marca os limites entre Bolívia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Boa parte das águas que caíram nas sub-bacias ao Norte, em parte da Bolívia convergem para a região. Neste ponto do rio pode-se ter eventualmente os efeitos das águas do rio São Lourenço/Cuiabá, coletor de águas ao Leste/Nordeste, nos anos de grandes cheias.

Outra referência importante, também mostrada diariamente pela Marinha do Brasil, é a medida do rio Paraguai em Forte Coimbra, situado a jusante de Corumbá (MS). Neste local se tem uma medida aproximada dos resultados para o Pantanal de chuvas nas bacias dos rios Taquari e Miranda/Aquidauana, ali somadas às águas trazidas pelo rio Paraguai de sub-bacias a montante.

Nesse ponto vale esclarecer que estas formulações são simplificadas visando fornecer uma ideia geral dos processos hidrológicos na planície pantaneira, necessárias neste momento devido ao risco de grandes incêndios.
Com base nessa informação do NOAA climatologistas já preveem chuvas abaixo da média para a primavera em regiões que abrangem a Bacia do rio Paraguai/Pantanal.
Diante desses dois processos interligados – hidrológico e climático/La Niña – se faz necessário trabalhar imediatamente com o pior cenário, mesmo considerando a melhor possibilidade – sua não ocorrência. Vale lembrar que em 2023 foram queimados mais de um milhão de hectares em novembro, o que nunca havia acontecido antes.
A construção de um diagnóstico cuidadoso sobre os processos desenvolvidos em 2023, os acertos e as falhas principais, deve ser preparado como base para as ações mais estratégicas em 2024, cuidando para não carregar nas amostragens otimistas.
E aqui o primeiro elemento para o diagnóstico: não se teve um Comando Central, com condições de avaliação do que se passava em todo o território, de estabelecer cenários em cada região, estabelecendo prioridades para destinação de meios disponíveis.

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