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Pantanal e terremotos: a “fratura-mãe” que conta muito sobre eles e outros fenômenos

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Foto: Arquivo Ecoa

Por Alcides Faria, Diretor Executivo da Ecoa  (Publicado originalmente em 25/11/2016)

–       O LTB controla por 50 quilômetros o rio Paraguai.

 

Tentando sempre entender os complexos fenômenos geológicos que levaram à formação do Pantanal e da bacia hidrográfica do rio Paraguai, dentro de minhas limitações de conhecimentos da área, passei a me encontrar com o processo de formação dos Andes e, indo mais longe no tempo, com outro processo, o de ‘colagem’ de crátons que levaram a formação da região e do próprio território brasileiro, resultando no Lineamento Transbrasiliano e sua passagem pelo Pantanal com os recorrentes abalos sísmicos associados a ele.

 

A bacia sedimentar do Pantanal.

A bacia sedimentar do Pantanal (Figura 1) é uma das regiões do Brasil considerada como sujeita a abalos sísmicos. Existem rupturas nos blocos de rochas que estão em sua base e outras características que contribuem para o processo.

Figura 1. Depressão do Alto Paraguai, onde está a bacia sedimentar do Pantanal Mato-Grossense(Assine, 2010).

Textos de Mario Luís Assine e outros pesquisadores tratam da existência no Pantanal de um trecho da grande sutura que une porções do continente onde está assentado o Brasil, conhecida como Lineamento Tranbrasiliano (LTB) e suas relações com os abalos sísmicos recorrentes na região. O LTB é, na verdade, a faixa do território onde aconteceu a ‘colagem’ de grandes partes de placas tectônicas relativamente estáveis e conhecidas como crátons. Artigo na revista da Fundação de Apoio a Pesquisa de São Paulo (Fapesp), de 2015, o trata como a “Fratura – mãe”.

A partir dos dados dos epicentros identificam uma tendência destes alinharem-se com a direção geral da sutura (Figuras 2 e 4).

Figura 2: Sismos, o LTB e o Pantanal (amarelo).

As movimentações de blocos alteram os níveis de base região, promove acomodações de sedimentos e altera cursos dos rios, dentre eles o Taquari – este é  um caso que merece discussão a parte por todas as narrativas pouco cientificas divulgadas sobre seus ‘problemas’ com certa frequência. Textos científicos indicam que são grandes as evidências de que o LTB não apenas influencia fortemente a dinâmica de erosão e sedimentação, mas também o estabelecimento do leque aluvial do Taquari. Este leque tem aproximadamente 50 mil km2 (Figura 3)

Figura 3 – Megaleques fluviais do Pantanal: 1 – Corixo Grande; 2 – Cuiabá; 3 – São Lourenço; 4 – Taquari; 5 – Taboco; 6 – Aquidauana e 7 – Nabileque (Hiran Zani, 2008)

 

Alguns rios que drenam a região têm cursos com direções paralelas ao LTB, como o caso dos rios CuiabáPiquiriSão Lourenço e Taquari, têm direção preferencial Nordeste /Sudoeste. O próprio rio Paraguai, localizado na parte mais Oeste da Bacia e o coletor de suas águas,  correndo quase que inteiramente no sentido Norte-Sul, cruza o LTB e a, partir daí, é controlado por ele por 50 km na direção Sudoeste.

Os principais registros

Os abalos sísmicos são registrados com frequência na Bacia do Pantanal, sendo que os maiores foram os de Miranda, MS, em 1964, com magnitude de 5.4 na escala Richter e o de Coxim, MS, em 2009, com magnitude 4.8. Miranda está localizada na planície pantaneira (125 metros de altitude), na bacia do rio Miranda, e Coxim (238 metros de altitude), está na parte alta da bacia do rio Taquari. No abalo de Coxim casas sofreram rachaduras, vidros quebraram e a repercussão das ondas sísmicas alcançou a Capital do estado, Campo Grande, a 300 quilômetros de distância.

Registros mostram que vários outros abalos aconteceram em diferentes regiões, dentre elas Porto Murtinho (90 metros de altitude), no Sudoeste da bacia,  Ladário e Corumbá (118 metros de altitude), no Centro-Oeste, Aquidauna (149 metros), no Sudeste. O último deles foi registrado no dia 13 de agosto em Corumbá e sua magnitude foi de 3. Miranda está localizada entre Aquidauana e Corumbá, na porção centro sul da planície.

Figura 4 – Boletim Sísmico Brasileiro, mostrando os sismos com magnitude maior que 2.8 entre 1767 e 2010 com destaque para o Pantanal (Assine, 2003).

 

O Lineamento Transbrasiliano*

Entre 750 e 540 milhões de anos dois grandes crátons chocaram-se e formaram grande parte do que é hoje o território brasileiro. São os chamados crátons Amazônico e São Francisco. Esse choque de blocos “gerou movimentação de rochas, misturou as mais recentes com as mais antigas e juntou rochas pobres e ricas em minerais magnéticos. Também foram geradas outras falhas geológicas. Algumas delas preenchidas por sedimentos que se depositaram e começaram a formar as bacias”. A região da “emenda” entre os dois crátons é conhecido hoje como Lineamento Transbrasiliano.

O Transbrasiliano divide o país  em duas grandes regiões: uma parte está a Amazônia, uma parte do Centro-Oeste, do Pantanal e trechos do Nordeste. Na outra parte estão as regiões Sul, Sudeste, parte do Centro-Oeste e todo o resto do Nordeste.

O Lineamento começa na Argentina, passa pelo Paraguai, corta o Pantanal, e vai até o litoral do Ceará. Tem 5 mil  km de extensão, com profundidades de até 40 km e até 200 km de largura em alguns trechos.

 

Figura 5 –Esta imagem acompanha a matéria da revista e parece não corresponder exatamente ao traçado do LTB, pois é mostrado como atravessando somente a bacia do rio Paraná e não a bacia do rio Paraguai, como indicado por vários pesquisadores. Na verdade o LTB tem atravessa as duas, mas a do Paraná na sua parte superior.

Como se formou quando a América do Sul e a África ainda faziam parte do supercontinente, Gondwana, ele tem uma continuação no continente africano, o lineamento Kandi, que cruza o Saara por cerca de 4 mil km.

Depois de consolidado, o lineamento voltou a se movimentar. A primeira vez  foi no Cambriano, cerca de 540 milhões de anos atrás, e depois no Mesozoico, entre 252 milhões e 65 milhões de anos atrás. Essas movimentações abalaram ainda mais a estrutura do lineamento, misturando mais as rochas e sedimentos à sua volta.

Hoje não há choques entre as bordas dos crátons. Eventualmente, em intervalos de milhões de anos, podem ocorrer pequenos movimentos nas bordas, mas o bloco como um todo é estável.

*Este texto  tomou por base o artigo “A Fratura-mãe”, publicado no edição 236 da revista Pesquisa Fapesp, de outubro de 2015, sem contudo ser uma transcrição exata.

 

 Sugestão para leitura

Lineamentos-Transbrasiliano-e-Rio-Negro-Possíveis-Limites-Tectônicos-do-Pantanal-da-Nhecolândia-MS

 

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