Pesca no Pantanal

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Foto: Jean Fernandes

A Ecoa tem atenção com a pesca no Pantanal porque, sendo uma atividade tradicional, tem como base a necessidade da conservação ambiental e o fato de permitir a sobrevivência de milhares de pessoas, particularmente as pertencentes às famílias mais vulneráveis. Pesquisas mostram que existem condições da atividade ser desenvolvida de forma que contribua com o desenvolvimento econômico de maneira sustentável ambiental e socialmente.

Desde a década de 90 a Ecoa trabalha com a Embrapa Pantanal e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desenvolvendo estudos para aprofundar os conhecimentos sobre a pesca em geral, mas com maior aprofundamento na área da coleta de iscas vivas para a pesca turística, atividade praticada por comunidades pantaneiras.

No processo de investigação, além dos resultados em si, também cuidou-se de apoiar a formação de associações locais em várias comunidades na perspectiva de defender os interesses dos diferentes grupos e construir “centros” de capacitação voltados a proteção ambiental, a sustentabilidade e empoderamento.

Muitos outros ganhos vieram na esteira do trabalho, sendo muito importante a viabilização de equipamentos como macacões impermeáveis para facilitar o insalubre trabalho noturno de captura das iscas, principalmente para as mulheres – estas sujeitas a muitas doenças, principalmente ginecológicas. Também foram realizados estudos de referência sobre a pesca, como o coordenado pelo Dr. Agostinho Catella.

É importante destacar que:

– É a atividade que mais gera trabalho e renda na planície pantaneira;

– Milhares de pescadores artesanais, ribeirinhos e coletores de iscas dependem dela;

– Em Corumbá (MS) calcula-se que mais de 30 mil pessoas dependam da atividade direta ou indiretamente;

– Em 2015 Corumbá recebeu mais de 52 mil turistas que movimentaram 101 milhões de reais na região. 

O Pantanal e a pesca

Foto: Jean Fernandes
Foto: Jean Fernandes

O Pantanal tem importância ecológica particular porque, além de ser uma área úmida com mais de 190 mil km², é uma região para a qual convergem cinco biomas distintos: o Cerrado, a Mata Atlântica, o Bosque Seco Chiquitano, o Chaco e o Amazônico. Seus processos ambientais, dentre eles o hidrológico – com períodos de seca e cheia – permitem que a pesca, em suas diferentes modalidades, seja a atividade que mais gera trabalho e renda na região.

Sem sua existência alguns municípios, particularmente aqueles de fronteira com Bolívia e Paraguai, enfrentariam uma verdadeira tragédia social e econômica. O desemprego chegaria para milhares de pessoas e certamente ocorreria um aumento expressivo do tráfico e do contrabando – um problema já tido como grave hoje.

Além de fornecer postos de trabalho, a pesca é também a principal fonte de sustento para milhares de ribeirinhos e comunidades tradicionais que vivem ao longo de seus rios. Para a Rede de Pesquisa em Sustentabilidade da Pesca no Pantanal ligada ao Centro de Pesquisa do Pantanal – CPP, instituição formada principalmente por pesquisadores das universidades federais do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso e pela Embrapa Pantanal, a atividade “realiza o importante serviço de ‘conservação pelo uso’ dos recursos pesqueiros e o monitoramento da qualidade ambiental para a sociedade”.

Sobre os problemas que o Pantanal enfrenta, os pesquisadores afirmam que existe uma falta de atenção “aos sérios fatores de degradação ambiental que afetam os recursos hídricos com crescente intensidade, tais como: efeitos de assoreamento, aumento de material em suspensão, pesticidas e agrotóxicos, que afetam negativamente a sobrevivência de ovos e larvas de peixes; o aumento da carga de nutrientes com perda de biodiversidade; e a fragmentação dos rios por barragens, que impedem as migrações e eliminam os peixes de piracema, sendo a principal causa de redução da produção pesqueira, com efeitos em todo o ecossistema”. Tais afirmações vieram em função de tentativas de mudanças na legislação que rege a atividade na região.

Barragens

Para a Ecoa uma questão crucial e urgente é a da construção de barragens na parte alta da bacia do rio Paraguai (BAP) – o Pantanal é parte dela -, pois entre construídas, em construção e planejadas o número ultrapassará 150 em alguns anos. Essa grande quantidade de represas bloqueará uma grande parte das espécies de peixes que migram para as partes altas para reprodução. Desastres em outras regiões são bem conhecidos e algumas regiões da BAP já enfrentam problemas.

 

Modalidades de pesca

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Barco hotel. Foto: Jean Fernandes

As principais modalidades praticadas no Pantanal são a pesca artesanal, a profissional, a turística e a captura de iscas vivas.

A pesca turística é a mais dinâmica economicamente. A partir de seus barcos hotéis e pousadas estrutura toda uma cadeia geradora de empregos diretos e indiretos em agências de turismo; companhias aéreas; hotéis e bares e nos vários estaleiros e oficinas existentes em algumas cidades pantaneiras. Pesquisa divulgada em 2008 (Girard & Vargas) concluiu que cerca de 150 mil pescadores turistas vinham ao Pantanal a cada ano. A Associação Corumbaense das Empresas Regionais de Turismo-ACERT, divulgou há alguns anos que calculava que mais de 30 mil pessoas em Corumbá dependiam direta ou indiretamente da atividade – e isso em um município com uma população de pouco de 100 mil pessoas.

Uma investigação realizada pelo Observatório de Turismo do Pantanal, núcleo de estudos e pesquisas da Fundação de Turismo de Corumbá, MS, em 2013, concluiu que 16.482 turistas pescadores estiveram na cidade e praticaram a atividade a partir de barcos hotéis e barcos particulares. Essa mesma pesquisa mostrou que 70% tinham renda acima de R$ 5.000,00 mensais e pouco mais de 15% dos turistas com renda entre R$ 3.000,00 e R$ 5.000,00.

Já para a pesca nas áreas rurais, nas pousadas, o número estimado para 2013 foi de 25.670 turistas, distribuídos por 22 pousadas de 4 regiões consideradas como ‘Polos Turísticos”. O gasto total dos turistas foi estimado em cerca de 99 milhões de reais.

Na temporada 2015 o Observatório estimou que Corumbá recebeu no total 52.045 turistas para a pesca esportiva, injetando cerca de R$ 101 milhões na economia local.

Esses dados e opinião dos pesquisadores demonstram a necessidade urgente de programas, projetos e ações que construam a real sustentabilidade da atividade.

A pesca turística tem acoplada a ela a modalidade específica de atividade extrativista identificada como captura de iscas vivas que é praticada por ribeirinhos e comunidades tradicionais. O dr. Álvaro Banducci, pesquisador da UFMS e membro do Conselho da Ecoa, em trabalho publicado em 2003, informa que a atividade é realizada por toda a extensão do rio Paraguai, a partir da foz do rio São Lourenço (divisa entre MS e MT) até ao sul do Pantanal, em Porto Murtinho. Nesta última região os ayoreos, indígenas que vivem em território paraguaio, são os que praticam a captura.

Estes grupos, chamados regionalmente de “isqueiros”, são considerados os mais vulneráveis e isso ocorre sob vários aspectos.

Coleta de iscas vivas. Foto: Jean Fernandes
Coleta de iscas vivas. Foto: Jean Fernandes

Vários trabalhos publicados permitem saber mais sobre a atividade e a vida dos isqueiros, confira:

– Pesca: uma atividade estratégica para a conservação do pantanal

– Descrição do comércio de iscas vivas no Pantanal de Mato Grosso do Sul em 2007

– Diagnóstico da atividade de captura de iscas no Pantanal e propostas para a melhoria de manutenção em cativeiro

– Dinâmica da pesca artesanal em duas comunidades ribeirinhas tradicionais do rio Cuiabá: Uma abordagem ecológica

– Impactos da Pesca na Estrada Parque Pantanal

– Avaliação da qualidade de água para manutenção de tuviras (Gymnotus cf carapo) em cativeiro

– Comércio de Iscas Vivas no Pantanal

 

 

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