Pioneiro na pesquisa e conservação da onça-pintada, Peter Crawshaw morre vítima da covid-19

31 minutos de leitura

Por Mônica Nunes, Conexão Planeta: inspiração para a ação.

25 de abril de 2021

 

“A floresta está em silêncio, as onças-pintadas estão de luto e nós, que amamos as onças e Peter, estamos órfãos”, declarou a bióloga Ângela Kuczach, diretora executiva da Rede Nacional Pró Unidades de Conservação (Rede Pró-UC), assim que começou a falar sobre a morte de Peter Crawshaw Jr. comigo.

Foi difícil conversar com pesquisadores e amigos do biólogo sem me emocionar e tive certeza de que ele é uma das pessoas mais queridas e amadas do planeta, não só por sua trajetória e pelo legado que construiu na área de pesquisa e conservação da onça-pintada no Brasil e na América Latina, mas por sua generosidade, amizade e alegria. E ainda tocava viola e violão como poucos.

O biólogo foi destemido, “um aventureiro e tanto”, declaram alguns amigos que com ele trabalharam. “Cutucou a onça com a vara curta”, literalmente, uma aventura que lhe rendeu algumas cicatrizes “e um dedo torto pra contar a história”, revela Sandra Cavalcanti, pesquisadora do Instituto Pró-Carnívoros, que foi sua estagiária no Projeto Onças do Iguaçu, nos anos 90.

“Esse episódio ilustra não apenas como estudar essa espécie na natureza não é brincadeira, e deve ser feito somente por equipe treinada, mas relembra o quão guerreiro foi Peter, que sobreviveu não apenas a esse ataque, mas à uma queda de ultraleve, a um sequestro no meio da Bolívia, a um acidente de barco no Pantanal, e a tantas outras aventuras. Histórias para uma eternidade”.

E ela acrescenta, muito emocionada: “Pelas minhas contas, ainda não tinha gasto todas as ‘sete vidas’, mas, como ele mesmo dizia: “Quem viveu a vida como eu vivi não tem medo de morrer”.

(no final deste texto, reproduzo o relato completo de Sandra sobre esta aventura sensacional protagonizada por Peter. Vale a leitura!)

 

Peter e seus ‘onçólogos’

“Peter era uma lenda viva. Todo mundo que trabalha com onça pintada no Brasil e na América Latina se inspirou nele, de alguma forma. Foi pioneiro, uma semente da árvore da pesquisa e da conservação de onça-pintada”, conta.

“O primeiro projeto de pesquisa sobre onça do mundo foi realizado no Pantanal e Peter estava lá! E se hoje existem projetos espalhados pelo país, com muita gente trabalhando, pesquisando e conservando essa espécie, é porque tudo começou com ele”,

Ângela destaca que algumas pessoas tiveram a sorte de trabalhar diretamente com Peter, a seu lado ou participando de algum projeto tocado por ele. Outras, não tiveram esse privilégio, mas, no mínimo, se depararam com os artigos escritos pelo biólogo.

“Todos os primeiros artigos publicados sobre onça pintada são de autoria do Peter. E toda a base da pesquisa da onça-pintada nas décadas de 90 e 2000 passou pelo Peter. Não tem como não ter passado”. 

E relembra com carinho: “Eu estou entre as que tiveram a sorte de conviver com ele. Foi em 2003, quando iniciei minha graduação: passei um mês com ele na Floresta Nacional de São Francisco de Paula, no Rio Grande do Sul”. 

Yara Barros, coordenadora executiva do Projeto Onças do Iguaçu, que teve Peter a seu lado na reformulação desse projeto, acrescenta: “Através de sua paixão, dedicação, humildade e empenho, ele formou muito ‘onçólogos’, e realmente pavimentou a estrada pela qual todos caminharam e caminham”.

“Ele tem papel muito importante na capacitação de muitos e muitos pesquisadores pelo país”, salienta Fernando Tortato, pesquisador da ONG Panthera, que atua no Pantanal e trabalhou com o biólogo em diferentes oportunidades.

“Em todo canto do Brasil em que você vá, tem alguém que foi treinado ou que participou de um curso ou que foi estagiário do Peter. Ele abriu muitas portas, deu muitas oportunidades, e isso tem ajudado muito no desenvolvimento da Ciência, no desenvolvimento da pesquisa com carnívoros”.

Sandra Cavalcanti completa: “Peter foi um mentor pra muita gente, além de um amigo muito querido. Ele sempre se considerou muito mais um pesquisador de campo do que um acadêmico e era muito especial no que fazia. Era capaz de misturar ciência com poesia e isso era uma das coisas que inspiravam a gente”. 

“Um dos motivos pelos quais ele deixou um legado tão grande foi exatamente a disposição que tinha para receber estudantes para os quais ele não só repassava seu conhecimento como também dividia suas experiências”.

Que o diga Ailton Lara, conhecido na região do Pantanal por seu amor ilimitado às onças-pintadas. Durante os incêndios, ele protagonizou algumas das ações mais destemidas para salvá-las do fogo, deixando sua pousada – Jaguar Camp -, em Porto Jofre, em segundo plano.

Com este perfil, é óbvio que Ailton e Peter se encontraram um dia no Pantanal, e que o gestor ambiental está desolado com sua morte. “Tive o previlégio de conhecê-lo, de conversar com ele, de viajar com ele, de ouvi-lo falar de conservação da biodiversidade e de seus estudos sobre as onças-pintadas”. 

Generoso, como Ângela destacou, Peter sempre atendeu Ailton em suas dúvidas para aprimorar seus estudos sobre a história natural da onça pintada. “Ficávamos horas conversando”.

A alegria do biólogo era um detalhe essencial desses encontros que podiam terminar numa noite de cantoria e violão, como na última vez em que se viram na terra das onças-pintadas.

E Ailton conta que Peter lhe passou uma mensagem muito importante sobre Porto Jofre: “Algo que não posso deixar de mencionar: ‘Ailton, esse grande número de onças-pintadas nesta região é a última chance que temos de agregar mais conhecimento para sua proteção, de estudar para proteger esta espécie emblemática e símbolo da conservação da biodiversidade brasileira’”.  

 

Pioneiro, sempre

Peter nasceu em São Vicente, no estado de São Paulo. Seu primeiro contato com animais selvagens foi com o pai caçador, que praticava a atividade com os amigos. Eles abatiam catetos, queixadas e até macacos da espécie muriqui.

Com dez anos, ele chegou a participar de caçadas, mas reparou que o que mais o encantava nessas expedições era o acampamento e o contato com a natureza. Em 1966, a família se mudou para o Rio Grande do Sul, onde priorizou a vida rural, mas mudou-se dois anos depois para Porto Alegre, onde Peter cursou a faculdade.

Escolheu Veterinária, mas entrou em Ciências Biológicas, o que o ajudou a iniciar sua trajetória brilhante. Mas, antes de se formar em Biologia, uma amiga contou sobre a vinda do lendário zoólogo alemão George Schaller ao Brasil para estudar as onças-pintadas no Pantanal. Rapidamente ele se colocou à disposição do pesquisador.

Foi assim que Peter conheceu George e nunca mais abandonou as onças, dedicando sua vida a elas.

A partir daí, um projeto se desdobrou em outro, que inspirou outro, que se ramificou em outros mais e o biólogo foi encontrando estudantes ávidos, que descobriam e ficavam ainda mais apaixonados pela Biologia da Conservação em sua companhia. Ajudou a formar muita gente, deixando preciosas sementes pelo caminho e ampliando o grupo de admiradores e amigos.

O primeiro registro de uma onça-pintada em armadilha fotográfica do mundo está entre suas façanhas. Também foi Peter quem capturou a primeira onça pintada no Parque Nacional do Iguaçu, onde fez os primeiros estudos na região e ajudou a aprimorar o Projeto Onças do Iguaçu.

“Peter estava aqui, no lançamento do projeto, no planejamento estratégico”, conta Yara Barros, coordenadora executiva desse projeto. “Ele se colocou bravamente como um muro de proteção entre as onças e a extinção local aqui em Foz. Lutou bravamente por elas, foi seu guardião. As onças do Iguacu devem muito a Peter e nós também. Ele foi um mentor, uma lenda viva. Uma guiança”.

O biólogo trabalhou no Instituto Brasileiro de Defesa Florestal, no IBAMA e como analista ambiental do Cenap, centro de excelência do ICMBio, que ele ajudou a criar. Aposentou-se em 2012, mas sem nunca deixar de se envolver em projetos de conservação da espécie que amava.

Desde que a pandemia começou, Peter se isolou com a família em Passo de Torres, em Santa Catarina. Foi infectado pelo coronavírus e, depois de semanas internado, não resistiu.

 

Suas histórias, em livro

Em meio a tanta tristeza, uma boa notícia que descobri durante esta reportagem, mas da qual pouco sei ainda. O biólogo escreveu um livro de memórias, que pode ser lançado ainda este ano ou no próximo.

A jornalista Laís Duarte – sua amiga há 15 anos e que o entrevistou para uma reportagem muito bacana exibida no programa Repórter Eco, da TV Cultura, no mês passado, que reproduzo no final deste post – me contou que fez a revisão e a edição do livro. Já o pesquisador Fernando Tortato, participou do último capítulo a convite do autor:

“Em novembro, ele fez o convite para ser co-autor desse capítulo, que tem o titulo de Pantanal, o paraiso ameaçado, junto com Walfrido Tomás, pesquisador da Embrapa Pantanal“. E acrescenta:

“Uma pena que Peter não vá ver o livro pronto, mas com certeza a gente vai fazer tudo que for possível para que seu livro tenha a mais ampla divulgação porque ele ainda tem muito a ensinar, mesmo ausente. A obra que ele deixa é uma forma de os futuros biólogos entenderem quem foi Peter Crawshaw e sua importância e relevância para a conservação do Brasil”. 

Neste momento, é um alento saber que, antes de partir, Peter escreveu sua história e seu amor pela onça-pintada. E, assim, também poderá ser lembrado e inspirar.

 

Pela causa da conservação

A seguir, um pouco mais sobre a repercussão da ausência e do legado do biólogo.

 

ÂNGELA KUCZACH, Rede Pró-UC

“Como se não bastasse o papel fundamental de Peter na conservação dos felinos, ele tinha uma generosidade e uma gentileza ímpar. Era o cara boa praça, o amigo de todo mundo, o risonho. Muito difícil lembrar do Peter sem aquela risada dele ao fundo. Sempre dava risada e gargalhava. Eu lembro muito dele, vermelho, de tanto dar risada. 

Ou ele tava contando causos de onça ou tocando violão. E rindo, sempre. O Peter era o cara de quem todo mundo gostava. Quando ele começava a tocar ou a conta histórias, todo mundo se reunia à sua volta. Era de uma generosidade ímpar, inclusive quando compartilhava conhecimento. 

Como pessoa, era um cara fenomenal, alegre, risonho, simpático, que tocava lindamente violão. Como profissional, foi pioneiro, único na conservação de onça-pintada no mundo. E generoso com todos que passaram por ele: nunca teve apego ao conhecimento, sempre compartilhou tudo e, por isso, inspirou tanta gente.

Muito difícil a gente se despedir do Peter hoje. Ele tá indo embora cedo demais! Tinha 69 anos, muito cedo!!! A gente queria ter o Peter pra sempre. Ele era aquele tipo de pessoa que deveria viver, no mínimo, até 95, 100 anos, porque era maravilhoso e inspirador. O que fica, hoje, é um vazio”.

Especialmente porque ele foi embora por causa de uma doença cretina como a covid-19, algo que, em outro país e numa outra realidade, menos ‘terraplanista’, poderia ter sido evitado. 

Muito difícil imaginar que ele não está mais com a gente, que a gente não vai mais ouvir aquela risada, não vai mais ouvir os causos dele, das onças, não vai mais ouvir ele tocando violão. Tenho certeza de que, onde ele estiver, está bem, mas, pra quem fica, é muito difícil pensar que agora estamos neste planeta sem ele. O mundo ficou um pouco mais escuro”. 

(Hoje, mesmo, Ângela escreveu um texto lindo em parceria com Ronaldo Morato, do Cenap, também amigo de Peter, publicado no site O Eco)

 

SANDRA CAVALCANTI, Instituto Pro-Carnívoros 

“Tive a oportunidade de conviver com Peter durante 31 anos, durante os quais passamos por várias experiências. Me lembro que ele dizia que o fator mais importante em receber um novo estagiário era não apenas a capacidade de esse estagiário suportar os rigores e as adversidades do trabalho em campo, mas também desfrutar dessas situações difíceis com humor e prazer. E, de fato, essa é uma das coisas mais importantes para quem trabalha em campo.

Desde 2000, 2001, tenho procurado seguir esse conselho e, até hoje, não tenho do que reclamar. Divido com estagiários, assistentes e estudantes todas essas aventuras exatamente como Peter fazia com a gente. E isso é o mais gostoso: criar um grupo de amigos em campo pra dividir histórias e experiências. 

Tenho muito, muito, muito a agradecer ao Peter! Não só porque me deu a oportunidade de entrar para essa área maravilhosa da Biologia da Conservação, mas porque me incentivou nos períodos mais difíceis pelos quais eu já passei. Ele vai ser sempre um amigo muito querido e vai deixar um legado gigantesco pra muitas pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com ele.   

Este é um dia muito, muito triste, difícil de acreditar. Mas agora é rezar bastante pra que ele seja acolhido onde estiver. Tenho ceeteza de que ele vai continuar ajudando e auxiliando pesquisadores do Brasil, com os quais conviveu, a continuar a luta pela conservação das onças. 

 

FERNANDO TORTATO, ONG Panthera

“Peter é referência em estudos com felinos em nível global e pode ser considerado a última lenda da conservação no Brasil. Dedicou sua vida à onça-pintada e outros carnívoros tropicais. Institucionalmente, foi peça-chave para a criação do Cenap, que é um centro de excelência do ICMBio, e também do Instituto Pró-Carnívoros, uma das principais ONGs do Brasil na área.

Deixa um legado muito grande para conservação e vai fazer muita falta. Mas o importante é a gente seguir adiante e continuar lutando pela causa da conservação, que foi a causa do Peter: proteger e conservar a onça-pintada e garantir que as futuras gerações tenham o prazer e privilegio de conviver com essas espécies. 

Minha relação pessoal com Peter começou em 2008, quando fui convidado para trabalhar com ele num projeto numa fazenda no Pantanal, as margens do rio Paraguai. Eu já conhecia seus estudos e o admirava, por isso foi um privilegio fazer parte desse projeto.

Cada vez que ele vinha visitar a fazenda, ele ficava uns dias comigo no monitoramento. Era um aprendizado muito grande: muita troca de informação, muita vivência, e ele mostrava toda paixão que tinha pelo Pantanal e pela onça-pintada. Desde então ficamos muito próximos.

Quando comecei a trabalhar na ONG Panthera, com a qual ele desenvolvia projetos, fizemos várias capturas de onças-pintadas juntos, sempre buscando o que podíamos fazer de diferente, o que realmente poderia ajudar na conservação da espécie. A última vez que o vi foi quando esteve aqui, no Pantanal, em agosto de 2020″.

 

Histórias para uma eternidade

Para complementar a entrevista, Sandra Cavalcanti, do Instituto Pró-Carnívoros, me enviou o lindo relato abaixo, que escreveu hoje, talvez pra ajudar a aplacar a tristeza que sentia com a morte do amigo. Nele, conta sobre uma das tantas peripécias protagonizadas por Peter, que ela acompanhou durante mais de 30 anos de convívio.

“Minha estória com o Peter começou há 31 anos, quando trabalhei com ele em Iguaçu como sua assistente de campo. Passamos por muitas aventuras juntos, entre elas o ataque de uma onça-pintada, que mais tarde ficou conhecida como “CG”, curta e grossa.

Estávamos tentando capturar esse onça já fazia dias, e ela sempre nos dava um balão, desarmava as trampas, roubava as iscas, e não ficava presa! Chegamos a ver a danada correndo com a isca para o mato 15 minutos após termos armado as trampas, como se ela estivesse ali no mato, nos observando, só esperando acabarmos de prender a isca na armadilha. Nesse dia resolvemos mudar a tática!

Trocamos o tipo de armadilha e começamos nós a enganá-la. Trocamos as armadilhas tipo trampa por armadilhas de gaiola, amarramos a porta aberta, propositalmente para que não se fechasse, e começamos a amarrar a isca do lado de fora, deixando que ela a roubasse, e no dia seguinte mais perto da porta, depois mais perto, e finalmente lá dentro, com a porta armada para fechar.

Na manhã seguinte, ao entrarmos na Trilha do Poço Preto para checar as armadilhas, nos deparamos com um casal de estrangeiros caminhando pela trilha com um enorme microfone para gravar sons de aves. Como a trilha era fechada para visitação, educadamente pedimos que os mesmos retornassem para a outra área do parque, destinada à visitação pública, e seguimos para a checagem das armadilhas. E não é que deu certo?

Conseguimos capturar a gatona… Linda, pintada, com manchas que mais pareciam múltiplos olhos nos olhando através das grades da gaiola… Enquanto realizávamos a anestesia da onça, quem mais aparece? O mesmo casal de estrangeiros que havíamos contactado no início da trilha.

Como já estávamos no meio do procedimento, Peter autorizou-os a observar o trabalho de longe. Após terminado o trabalho de pesagem, medição e colocação da rádio-coleira, me despedi temporariamente do Peter e de seu pai, Seo Peter, que nos acompanhava em campo naquele dia, e fui até o outro lado da fronteira, na porção Argentina do parque, checar as armadilhas que tínhamos abertas naquela região.

Finalizado o trabalho, liguei por rádio para o Peter para avisá-lo de que não havíamos capturado nenhum outro animal do lado Argentino e saber como estavam as coisas com a onça, se estava se recuperando bem. Peter veio falar comigo no rádio do carro do projeto, uma rural antiga, toda adesivada, da qual tínhamos enorme orgulho.

De repente, Peter soltou: -“Não posso falar agora!”, e bateu o rádio na minha cara….. Fiquei sem saber o que tinha acontecido, tentando em vão reconectar com ele via rádio.

Enquanto Peter se distanciou um pouco da onça para vir até o rádio, a turista achou por bem se aproximar da onça, que já estava relativamente recuperada da anestesia, sentada naquela posição característica de esfinge, e se agachar na frente da bicha para “só tirar uma foto”.

Com o flash daquelas camerazinhas antigas, a onça veio para a frente fazendo com que a moça caísse sentada no chão. Nesse instante, Peter a pegou por baixo dos braços e a puxou para trás, exigindo que todos fossem imediatamente para dentro do carro.

A onça então veio na direção do Peter, que foi auxiliado por seu pai. Seo Peter a segurou pelo rabo, fazendo com que ela se virasse e tirasse sua atenção do Peter. Nesse momento, Peter literalmente “cutucou a onça com a vara curta”, usando um bastão que usávamos para injetar os dardos à distância, fazendo novamente com que ela se virasse, e dando tempo ao Seo Peter de entrar no carro.

– “Pro carro, Dad, pro carro!” lembro até hoje de ouvir o que ficou gravado no equipamento dos estrangeiros.

Peter conseguiu também entrar no carro e o som que me vem à memória é o da onça trombando na porta, assim que Peter conseguiu fechá-la pelo lado de dentro! Ao final, felizmente tudo correu bem, somente machucados que cicatrizariam e um dedo torto pra contar a estória!

Esse episódio ilustra não apenas como estudar essa espécie na natureza não é brincadeira, e deve ser feito somente por equipe treinada, mas relembra o quão guerreiro foi o Peter, que sobreviveu não apenas a esse ataque, mas à uma queda de ultraleve, a um sequestro no meio da Bolívia, a um acidente de barco no Pantanal, e a tantas outras aventuras. Histórias para uma eternidade.

Pelas minhas contas, ainda não tinha gasto todas suas sete vidas… Mas, como ele mesmo dizia: -“quem viveu a vida como eu vivi não tem medo de morrer”.

 

Reportagem na TV e cantoria

Em março deste ano, como já contei, Peter Crawshaw foi tema de reportagem do programa Repórter Eco, da TV Cultura, que reproduzimos abaixo.

E quem quiser ver Peter tocando violão e cantando, assista ao vídeo que Yara Barros, do Projeto Onças do Iguaçu, publicou hoje no Facebook, em sua homenagem, mas que foi gravado para celebrar o Dia Nacional da Onça Pintada do ano passado. Uma bela maneira de se despedir deste amigo tão alegre.

 

 

 

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