Na primeira semana de fevereiro deste ano, foram embarcados em Corumbá (MS), diversas máquinas e equipamentos com destino ao Paiaguás, região do Pantanal, localizada no Mato Grosso do Sul, uma imagem bastante simbólica de como o Pantanal tem se tornado foco da expansão agrícola no Estado.
Apesar do Brasil estar economicamente em recessão, a atividade agropecuária continua capitalizada e a procura de novos espaços para desenvolver o setor. No Mato Grosso do Sul, a agricultura já se consolidou em grande parte do Estado, atualmente a expansão desta atividade esta acontecendo em regiões como o Bolsão Sul-Mato-grossense e o Pantanal.
Segundo Felipe Dias, diretor executivo do Instituto SOS Pantanal, esta é uma perspectiva que causa preocupação, pois o setor agropecuário é o que possui mais tecnologia agregada no que diz respeito a máquinas, equipamentos e, principalmente, genética, o que potencializa a expansão da agricultura em substituição a vegetação nativa. “A soja é um exemplo disto, já que na década de 1980 entrou com força no Centro-Oeste e hoje se encontra até em regiões mais próximas da linha do equador, no extremo Norte”, observa.
Outro fator que tem contribuído com essa expansão é o Decreto Estadual (MS) 14.273/2015, que dispõe sobre o Cadastro Ambiental Rural na “Área de Uso Restrito da Planície Inundável do Pantanal”. Em resumo, o decreto legalizou o desmatamento no Pantanal ao permitir que paisagens com presença de árvores podem ser suprimidas em até 50% e áreas campestres em até 60%.
“Lamenta-se que estes índices de supressão sejam legais, considerando que o Novo Código Florestal estabeleceu que o Pantanal é uma área de uso restrito devido a sua fragilidade. Contudo, o setor agropecuário, que é forte e bem articulado politicamente no Estado, conseguiu evidenciar a visão de produção e descaracterizar o termo ‘Área de Uso Restrito’, destaca Felipe Dias.
Outra preocupação, segundo o diretor, é que a pecuária extensiva tradicional, que foi introduzida no Pantanal há mais de 200 anos e que, ao longo do tempo, se adaptou ao pulso da inundação, sofra alterações irreversíveis. “O modelo de pecuária adaptada às períodos de inundação demonstra como é possível uma relação equilibrada entre ocupação humana, produção e preservação. No entanto, essa atual expansão agrícola ameaça esse modelo e coloca toda a biodiversidade da região em risco”, conclui.
Fonte: SOS Pantanal