Texto originalmente publicado em 15 de janeiro de 2018
Por Iasmim Amiden (Ecoa – Ecologia e Ação)
Iasmim é jornalista, graduada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e coordena o Programa Oásis de proteção aos polinizadores, da Ecoa
As moradias adaptadas para eventos climáticos extremos são resultado de um projeto desenvolvido e executado pela Ecoa com uma equipe de arquitetos, entre os quais fizeram parte Juliano Thomé e Bruno Pasello, que estiveram a frente do processo junto a coordenação geral de André Siqueira, diretor presidente da organização. Ao todo, foram construídas quatro casas adaptadas na comunidade da Barra do São Lourenço, que fica 220 km do município de Corumbá dentro de um período de 28 dias, no ano de 2017.
Um desafio satisfatório e único, enfrentado pela equipe que superou as condicionantes ambientais, por exemplo, sendo que a comunidade é alcançada apenas de barco, em viagens de até 30 horas.
Após cheias extraordinárias (2011 e 2014), famílias perderam bens básicos, algumas suas próprias casas – tomadas pela água -, e estiveram ainda mais susceptíveis à doenças devido a insalubridade em que vivem as famílias. O projeto das casas adaptadas é uma das medidas de mitigação frente a esses eventos climáticos e também para proporcionar dignidade e qualidade de vida.
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A demanda das casas surgiu pela própria Associação de Moradores e foi articulada pela Ecoa desde então, com apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público Federal (MPF), Receita Federal, Secretaria do Patrimônio da União, ligada ao Ministério do Planejamento, o Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Câmpus Pantanal (UFMS/CPAN) e a Marinha do Brasil.
Também no ano passado, as famílias trabalharam para ampliar as unidades construídas, seguindo uma das propostas do projeto que atende a necessidade de mobilidade por meio de ligações parafusadas, que permitem a montagem, ou ampliação, desmontagem e até mesmo o transporte – em caso de mudança climática extrema – no barco.
Para Dona Joana, pescadora e merendeira na Escola local, o projeto foi transformador para a comunidade. “Toda enchente a gente tinha que
mudar de lugar e a gente queria muito uma casa de palafita. Pra nós que morava dentro desse Pantanal, ninguém sabia da nossa existência, o que a gente passava… E quando surgiu o projeto das casinhas, mudou muito. Todo ano a gente ficava: ‘Será que a água vai vir?’ Será que vai levar tudo’? Em uma dessas enchentes, acabou com tudo nossas coisas. Agora a gente pensa num recomeço. A casa é um recomeço pra gente“.