/////////

Quem sofre com os danos no rio Jauru?

5 minutos de leitura

luanacampos

Por Luana Campos (Ecoa – Ecologia e Ação)
Luana é graduada em Jornalismo (UFMS) e Mestra em Divulgação Científica e Cultural (Unicamp)

Nenhuma represa a mais – Não é à toa que as comunidades que vivem às margens do Rio Jauru são contra a implantação de mais represas na região, como aconteceu com a PCH Estivadinho 3. A contar de 2002, foram instalados 6 empreendimentos hidroenergéticos na região. Desde então, as famílias, compostas em grande parte por agricultores familiares, povos indígenas e comunidades tradicionais, perderam as áreas onde cultivavam suas roças, caçavam e pescavam.

O peixe sumiu – A redução das populações de peixes é apenas uma das graves consequências que afetam a vida de famílias ribeirinhas. As barragens interrompem a rota de migração de espécies com valor comercial, como dourado e pintado, que precisam subir os rios para desovar nas cabeceiras. Pescadores alegam que a instabilidade do nível da água do rio, um efeito batizado por pesquisadores de “onda de seca”, também afugenta os peixes do Jauru. Além disso essas mudanças bruscas do nível da água – que baixam de metros a centímetros em poucas horas – colocam em risco a integridade física dos pescadores, já que os barcos podem encalhar ou bater contra pedras causando graves acidentes. O pescador José Carlos de Matos relata que teve a coluna fraturada em um acidente por conta destas condições.

Acabou o “ganha-pão” – O peixe é a principal fonte geradora de renda no Pantanal, seja pela venda direta de pescado, ou pelo turismo de pesca. No Jauru, os danos causados pela represas fizeram com que a região deixasse de atrair visitantes, afetando diretamente empresários do turismo e pescadores. Documentos de Pesca Individual (DPI), uma declaração que atesta a atividade de pescador, demonstram que, em anos anteriores à construção das barragens, a captura de peixes era muito maior que nos dias atuais. Por não possuírem outra fonte de renda, pescadores e suas famílias se encontram em situações de extrema vulnerabilidade.

Existência ameaçada – Sem peixe, a própria identidade cultural dessas pessoas, passada de geração a geração, fica ameaçada. Obrigadas a fazerem “bicos” em outras atividades, elas correm o risco de serem descaracterizadas como pescadoras e perderem o seguro defeso. O benefício foi criado para garantir renda aos pescadores artesanais durante o período de reprodução dos peixes, quando a pesca fica proibida. Diante deste panorama, há até mesmo relatos nas comunidades sobre recrutamento de pessoas para servirem de “mulas” no tráfico de drogas.

E as compensações? – Peter Bosshard, da ONG International Rivers, coloca que “os benefícios das barragens, com frequência, ignoram as próprias pessoas que tiveram suas vidas sacrificadas por elas”. Os prejuízos ambientais e sociais causados pelas hidrelétricas no Jauru deveriam ser sanados, ou ao menos amortizados por compensações prometidas pelas empresas, mas estas nunca chegam às famílias atingidas. Em maio de 2017, durante uma audiência pública de conciliação, pescadores profissionais da Colônia Z-2 propuseram alternativas para as empresas responsáveis pelas PCHs e UHE no Jauru, como a construção de tanques de peixes e indenizações, mas não foram atendidos.

Foto de capa: Pescadores do Rio Jauru – Arquivo Ecoa

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog

Em novembro de 2023 a Ecoa participou de reunião com o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, apresentando a necessidade de o Banco tivesse especial atenção para a América do Sul quanto à questão climática. A região precisaria do BID para apoiar projetos voltados para a mitigação de eventos climáticos extremos em diferentes territórios. As cidades “biomas” precisam de apoio especial para medidas básicas como a arborização adequada a esses novos tempos.

Hoje tivemos a alegria de receber na Ecoa, o produtor rural Nelson Mira Martins, criador da RPPN Água Branca – nova reserva reconhecida oficialmente pelo ICMBio, que garante a proteção definitiva da segunda maior cachoeira de Mato Grosso do Sul, no município de Pedro Gomes.Seu Nelson foi recebido pela pesquisadora Fernanda Cano, e Alcides Faria, diretor institucional e um dos fundadores da Ecoa, e conversaram sobre as possibilidades que se abrem com a preservação da cachoeira e a criação da RPPN.

Hoje tivemos a alegria de receber na Ecoa, o produtor rural Nelson Mira Martins, proprietário da