Via Canal Energia
A termeletricidade a gás natural ganhará status de geração de base no atendimento ao sistema elétrico brasileiro nos próximos anos, atendendo a um pleito do segmento e de especialistas do setor. A confirmação é do presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Luiz Augusto Barroso, que explanou nesta quinta-feira (6/07) alguns pontos do estudo, cujo processo de consulta pública pelo Ministério de Minas e Energia será iniciado ainda nesta semana. O executivo destacou que a inserção térmica a gás na base é a alternativa mais adequada para atender ao preceito do que chama de “despachabilidade” operativa por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico.
“O cenário de referência do PDE é que a expansão do Brasil tem como direção as fontes renováveis complementadas com geração dotada de ‘despachabilidade’, que nesse caso vem das térmicas a gás”, esclareceu o presidente da EPE, após participar de talk show na edição 2017 do Brasil Solar Power, evento realizado no Rio de Janeiro pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica e pelo Grupo CanalEnergia. O aumento da disponibilidade futura via geração térmica é uma bandeira da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas, que defende a contratação de até 3 mil MW de nova capacidade para o suprimento de base no sistema.
Barroso cita que a opção pela termeletricidade a gás natural na geração de base do sistema trará como vantagens uma melhor modelagem de negócios no que tange à compra do combustível, na medida em que os empreendimentos permanecerão em operação todo o tempo. Além disso, segundo ele, ao rodar ininterruptamente, as termelétricas a gás poderão liberar a geração hidrelétrica para atender a flexibilidade do sistema. A proposta de planejamento do governo passa por estipular um determinado limite para o montante de térmicas a gás que será inserido no sistema, a fim de evitar uma situação de vertimento de água nos reservatórios.
Apesar de ressaltar que o país não poderá prescindir do seu potencial hidrelétrico, o executivo observou que a expansão de novas hidrelétricas depende de projetos certos e feitos com responsabilidade, o que tem se tornado cada vez mais difícil em razão do aumento das interferências socioambientais. Ele destaca que no rol das renováveis que podem servir de alternativas estão as pequenas centrais hidrelétricas, as biomassas, a eólica, a solar e os resíduos sólidos urbanos, além da complementação termelétrica predominantemente a gás natural. “O novo PDE não é refém de um ideologismo pró-hidrelétrica. Temos muitas opções”, disse Barroso.
O planejamento da expansão da geração nos próximos dez anos traz ainda a polêmica usina nuclear de Angra 3, agora com previsão de entrada em operação apenas no final do horizonte do estudo, em 2026 – também como um empreendimento de base. Embora a tomada de decisão sobre o modelo de construção e de financiamento do projeto esteja a cargo do Conselho Nacional de Política Energética, a sinalização é que a usina contará com capital privado de investidores estrangeiros. O futuro da fonte nuclear na matriz energética brasileira estará apontado apenas no âmbito do estudo de longo prazo do governo, o Plano Nacional de Energia 2050.