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Tecnologias Sociais beneficiam comunidades do Pantanal

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Com o apoio da Fundação Itaú Social, projeto “TRANSTEC Pantanal – Tecnologias Sociais no Pantanal”,  executado pela ECOA – Ecologia e Ação em parceria com o núcleo de engenharia da University of Michigan, nos Estados Unidos da América (EUA),Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de Ilha Solteira (SP) e Laboratório de Inteligência Artificial, Eletrônica de Potência e Eletrônica Digital (BATLAB) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), desenvolveu equipamentos baseados no conceito de “tecnologia social”, ou seja, que incorpora saber popular, organização social, conhecimento técnico-científico e que sejam efetivas e reaplicáveis, proporcionando assim a melhoria da qualidade de vida.

Com uma equipe formada por 46 pessoas, entre pesquisadores e técnicos de diferentes áreas, esta iniciativa já atendeu 08 comunidades pantaneiras, localizadas nos Estados de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), e beneficiou até o momento mais de 200 famílias direta e indiretamente.

Este projeto tem como finalidade o desenvolvimento de pequenas turbinas eólicas, filtros biológicos de água e biodigestores para produção de gás, a fim de disseminar o conhecimento e a autonomia das populações pantaneiras para a construção destas tecnologias.

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Entre os meses de maio a julho deste ano, os moradores das comunidades atendidas pelo projeto, puderam participar de vários workshops realizados nas comunidades da região da Transpantaneira (MT) e Serra do Amolar (MS), onde foram capacitados e instruídos pelos pesquisadores sobre cada uma das tecnologias, adquirindo assim, conhecimento para a construção de cada uma delas.

Segundo André Luiz Siqueira, Diretor Presidente da Ecoa, esta foi a maneira que os pesquisadores encontraram decompartilhar o conhecimento técnico e científico e também de aprimorar cada tecnologia de acordo com a realidade local.

“Durante a análise e teste destas tecnologias idealizadas pela equipe, para o Pantanal – devido as suas especificidades – se mostraram necessárias algumas adaptações nos projetos, levando em consideração a matéria prima disponível em cada localidade e também as necessidades de cada comunidade,” ressalta.

Para se atingir a meta final, cenário no qual as tecnologias são plenamente adotadas pelas próprias comunidades, os dispositivos tecnológicos devem ser de simples construção, fácil operação e todo o processo conceitual de funcionamento devem ser compreendidos pelos membros da comunidade.

Muitas famílias que já participaram dos workshops e já estão utilizando alguns dos sistemas desenvolvidos. Porém, continuaremos  as pesquisas para   melhorar estas tecnologias, adaptando-as de maneira mais específica pra cada comunidade.

Para o Ph.D. Cássio Thomé de Faria, coordenador geral de desenvolvimento tecnológico do projeto, os objetivos alcançados foram muito positivos, pois além de entregar tecnologias úteis para as comunidades, o projeto também proporcionou o ensinamento de conceitos básicos de saúde, uso consciente de energia e meio ambiente.

“Durante o encerramento de um dos cursos, um morador disse que jamais poderia imaginar que seria possível fazer tanto com materiais tão simples no Pantanal e isso me deixa feliz, pois este é o espírito e o objetivo do projeto,” lembra Cássio.

As tecnologias já implantadas apresentam resultados significativos, como, por exemplo, o biodigestor, que já proporciona uma economia significativa na renda de algumas famílias que utilizam fogão a gás e também reduziu o uso de extração ou supressão da madeira em Áreas de Preservação Permanente (APP) para o fogão a lenha, além de gerar adubo para as roças locais esta tecnologia contribui também para a redução do Gás de Efeito Estufa (GEE), provocados pela queima da lenha.

Já os filtros biológicos de água, devido sua metodologia simples e resultados tão positivos, tem ampla adesão, já que um dos maiores desafios para as populações ribeirinhas é a falta de água potável, pois a utilização direta da água captada do rio Paraguai, baías e corixos, acabam gerando problemas de saúde, como, por exemplo, a enteroparasitoses, que são transmitidas pela água em diversos momentos ao longo do ano, e no fenômeno das decoadas e grandes cheias há um agravamento desta situação, atingindo 90% da população. Porém, com a utilização do filtro espera-se reduzir significativamente este quadro.

Até o momento foram instalados mais de 40 filtros e cerca de 20 biodigestores. Porém, devido à complexidade e a falta de matéria prima para a construção da turbina eólica, novas metodologias para este equipamento ainda estão sendo pesquisadas, analisadas e deverão ser testadas junto com as comunidades em breve.

Esta é uma tecnologia essencial para algumas comunidades que ainda sofrem com a falta de energia elétrica e depende unicamente de geradores de energia movido a combustível, um equipamento caro e inviável para muitas famílias.

“A energia eólica traz a possibilidade de quebrar a escuridão de muitas famílias, mas se trata de uma tecnologia ainda muito complexa, talvez este seja o maior desafio do nosso projeto, porque é algo que demanda mais tempo e dedicação para que se possa chegar ao conceito de tecnologia social neste equipamento, tornando-o acessível e barato,” afirma André.

Ao todo o projeto beneficiará 10 comunidades, oito delas já receberam o workshop de capacitação, sendo três oficinas para cada comunidade – uma de cada tecnologia. No estado de Mato Gorsso, as comunidades atendidas são: Cangas, Chumbo, Porto Jofre e Escola Nazaré. Já no Mato Grosso do Sul as comunidades participantes desta iniciativa são: Barra do São Lourenço, Paraguai-Mirim e São Francisco, Porto da Manga e Antônio Maria Coelho, sendo estas duas últimas, localizadas na região da Estrada Parque Pantanal (EPP) e que ainda não tiveram suas oficinas realizadas devido a cheia extraordinária de 2014 que culminou na interdição da única estrada que possibilita acesso à região e que só foi liberada no dia 12 de setembro.

Além da tecnologia social que norteia este projeto, existe também o ensinamento tradicional que os pesquisadores puderam adquirir durante o período de execução das oficinas. De acordo com Cássio, viver no Pantanal por um mês e ter a oportunidade de conhecer de perto a cultura e rotina de comunidades é uma experiência fascinante.

“Um aspecto muito importante de participar desta iniciativa e viver essa experiência, foi ver de perto a necessidade de tecnologias sociais e como algumas simples melhorias no dia-a-dia das pessoas gera um grande impacto, além é claro da experiência fantástica de conviver com o povo pantaneiro,” finaliza o coordenador geral de desenvolvimento tecnológico do projeto.

De acordo com os cálculos, com a utilização destas tecnologias, estima-se uma redução de 171,2 tonelada/ano de Gases de Efeito Estufa provocados pelos resíduos da queima de combustíveis fósseis utilizados para a geração de energia elétrica e também lenha e gás para o uso doméstico.

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