Via ClimaInfo
Estimativa equivale a 1% do PIB brasileiro, mas única certeza até agora é que custo da inação climática será exponencialmente maior que o da prevenção.
Várias projeções sobre o valor que deve ser aplicado na recuperação do Rio Grande do Sul já surgiram desde o início da catástrofe climática, há cerca de 20 dias. A cada momento, o que se vê são cifras crescentes. E como o recuo total das águas ainda é incerto, a única certeza que se tem é que o custo da inação em relação às mudanças climáticas será exponencialmente maior ao que poderia ter sido aplicado em ações de mitigação e adaptação.
Uma das estimativas é da BRCG, mostra o Valor. A consultoria prevê que o impacto das medidas de apoio ao RS sobre a despesa primária do governo central deve ser de 1% do PIB. São gastos de até R$ 117,8 bilhões, com um governo proativo. As despesas primárias não incluem dispêndios com juros.
Ser um “governo proativo”, segundo a BRCG, significa ser mais atuante que em emergências climáticas anteriores, como nos deslizamentos na Região Serrana do RJ, em 2011. Caso o governo siga o padrão de outras tragédias, o gasto primário será de R$ 70 bilhões – 0,6% do PIB, no cenário-base do relatório.
Nas últimas semanas, as medidas anunciadas pelo governo somaram cerca de R$ 62 bilhões, segundo a consultoria. Desses, R$ 12 bilhões são de impacto primário – que não inclui uso de recursos do FGTS, linhas de crédito multilateral ou suspensão de pagamentos devidos pelo RS à União, entre outros. Mas esses números devem crescer – e muito além do que projetou o governador gaúcho, Eduardo Leite, destaca a Reuters.
O diretor do BNDES, Nelson Barbosa, defendeu a criação de uma linha de crédito para auxiliar a reconstrução do estado, informa a Folha. “Os eventos climáticos do Rio Grande do Sul vão requerer uma linha de crédito especial para reconstrução. Já temos linhas para mitigação e adaptação e agora temos que pensar também em linha para cuidar de perdas e danos”, afirmou.
Se o valor da recuperação ainda não tem limite, as cifras para adaptação são mensuráveis – e muito baixas. Quando acontecem. Pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) divulgada na 2ª feira (20/5) mostra que a maioria dos municípios (68,9%) nunca recebeu recursos financeiros para prevenção de eventos climáticos extremos, como secas, inundações e deslizamentos, e apenas 22,6% dos gestores disseram que suas cidades estão preparadas para lidar com o aumento dessas calamidades, segundo o Valor.
A iniciativa privada também vai fazendo – e aumentando – as contas da catástrofe gaúcha. Que, assim como os custos governamentais, vão acabar batendo no bolso dos consumidores de todo o país.
O Agrolink fala de “severas consequências” ao setor leiteiro do estado que já impactam os preços do leite e derivados. O Estadão informa que grandes redes de supermercados e de atacarejo começaram a racionar as vendas de arroz, leite, óleo de soja e feijão. Duas unidades da Gerdau no estado não sofreram danos, mas não têm previsão de retomada pois estão sem condições de trabalho, relata o Valor. Segundo o g1, a Volkswagen deu férias coletivas em 3 unidades no país por impacto na produção provocado pela tragédia. E ao Valor a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) previu que reconstruir a infraestrutura gaúcha vai levar 10 anos – pelo menos.
Não para aí. Estudos elaborados pela S&P Global, Itaú Unibanco e outras instituições, citados na Forbes Brasil, estimam que há risco de perda de cerca de 4% da produção nacional de soja; impactos no plantio de grãos da safra 2024-2025, que começaria no próximo trimestre; dificuldades de escoar parte da safra agrícola já colhida; e fechamento temporário de parte do setor de serviços, interferindo nos empregos e na arrecadação.
Por isso, o economista Ricardo Carvalho, da Universidade Católica de Brasília, ressalta ao Valor que os recursos para o RS também precisam apoiar empresas e trabalhadores afetados, não apenas a infraestrutura pública: “Grande parte da política de redução de desastres é voltada ao setor público. Os municípios que recebem dinheiro conseguem recuperar sua estrutura, mas firmas e trabalhadores afetados ficam mais desamparados.”
“Vamos gastar bilhões de reais para deixar funcional novamente a nossa vida aqui no Rio Grande do Sul. Estamos pagando caro por ocupar o lugar da água”, resumiu o geólogo Rualdo Menegat, doutor em Ecologia de Paisagem e professor da UFRGS, em entrevista ao IHU.
Em tempo: Depois do Rio Grande do Sul, as chuvas atingiram a vizinha Santa Catarina. No final de semana, 20 municípios catarinenses entraram em estado de alerta devido às inundações, segundo a Secretaria da Proteção e Defesa Civil (SDC) do estado. Mais de 800 pessoas estavam desabrigadas ou desalojadas, informam Correio Braziliense e IstoÉ.