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Climatologista Carlos Nobre explica causas do desastre no Rio Grande do Sul, mostrando relação ampla com o Oceano Pacifico, o fluxo de água que vem da Amazônia e El Niño

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Foto IEA/USP

– Mudanças climáticas globais relacionadas.

Na TVGGN 20H no dia 3 de maio o professor e climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Instituto de Estudos Climáticos da USP e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, falou sobre os eventos extremos no Rio Grande do Sul, com alguns destaques anotados pelo site GGN.

– “Essa situação do Rio Grande do Sul é o sistema de baixa pressão que vem do Oceano Pacífico. Ele gera um sistema de alta pressão no centro oeste e sudeste e o sistema de alta pressão bloqueia o sistema de baixa pressão. As frentes frias chegam ali, não conseguem passar e chove demais, alimentados por um fluxo muito grande de vapor d’água que está vindo da Amazônia e passa paralelo aos Andes.”

– “[O bloqueio do sistema de baixa pressão] É um fenômeno que sempre existiu, só que agora, por causa do aquecimento global, globalmente falando, os oceanos nunca estiveram tão quentes e quando eles estão muito quentes, evapora muita água. Então, lógico, um grande elemento dos eventos extremos é o vapor d’água, porque quando o vapor d’água vai para um lugar e chove muito, em outro lugar se faz seca”.

El Niño

O climatologista comenta ainda que o El Niño, fenômeno natural que potencializou a elevação da temperatura desde o ano passado, existe há, pelo menos, dois milhões de anos, talvez até mais. A questão é o aumento da frequência e da intensidade com que o fenômeno ocorre. “Os três El Niños mais fortes foram 2015/2016, depois 1992/1993 e agora terceiro El Niño mais forte é 2023/2024. Mesmo sendo o terceiro mais forte, ocasionou a maior seca da história da Amazônia e do Pantanal e o maior registro de chuvas no Rio Grande do Sul.”

Carlos Nobre ensina que, quando o El Niño está mais intenso, ele faz com que a corrente atmosférica, chamada de jato subtropical, barre as frentes frias originadas no oceano pacífico, gerando um sistema de baixa de pressão conhecido como ciclone extratropical nas regiões do Rio Grande do Sul, Argentina, Uruguai e Paraguai.

– O ciclone extratropical, então, joga a água mais quente dos oceanos dentro do continente, originando fortes chuvas. Foi este fenômeno que causou as enchentes que atingiram os gaúchos em setembro.

“Esse agora é um pouco diferente. O fenômeno meteorológico é o bloqueio com a baixa pressão e, no centro-oeste e sudeste, a alta pressão com muito calor, que não forma nuvem nenhuma. Lógico também que o El Niño está ficando cada vez mais forte”, continua o climatologista.

Clima exige atenção

O convidado apontou ainda que, de acordo com o relatório IPCC, a temperatura média global não deveria ultrapassar a alta de 1,5°. No entanto, enquanto as previsões indicavam que só atingiríamos este aumento em 2030, a ciência não conseguiu prever que este patamar fosse atingido ainda em 2023 e pode se tornar permanente a partir deste ano.

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