Texto originalmente publicado em 20 de novembro de 2017.
A comunidade da Barra do São Lourenço está diante a uma conquista histórica e que garante melhor qualidade de vida às famílias e condições para sobrevivência dos moradores, com a instalação de sistemas de geração elétrica fotovoltaica. Foi construída uma usina solar para atender a Escola local, o centro comunitário e mais 17 casas às margens do rio Paraguai, além de três outros sistemas de geração de energia fotovoltaica para as casas mais isoladas da região, que totalizam 21 casas atendidas.
Ao todo, são gerados 4320W em corrente alternada de 220V, para 60 lâmpadas de LED com 10W de potência cada, com cinco horas de uso diário, dois freezers de 410L, três ventiladores de 80W/H para as salas de aula e dormitório da escola, e um notebook.
O projeto, viabilizado e coordenado pela Ecoa, com apoio da Nexans Foundation e execução em regime de mutirão com os moradores, é resultado de um esforço de nove anos.
Para garantir alguns direitos básicos das famílias da comunidade, que passa a dispor de energia no centro comunitário da região, nas casas e na escola, o processo de construção superou os desafios postos pelas condições ambientas e de transporte. A comunidade da Barra do São Lourenço fica a 216 km da cidade mais próxima, Corumbá. A região é alcançada apenas de barco, sendo as embarcações mais comuns as freteiras, que levam até 30 horas de viagem.
Entre condicionantes dadas pelo ambiente da comunidade, as implantações para geração de energia mostram-se inovadoras para atender povos pantaneiros tradicionais. As poucas famílias que dispunham de energia em suas casas, utilizavam pequenos geradores que funcionavam sempre com muitas limitações. Para iluminação noturna, utilizavam diesel ou querosene, e a queima de combustível, somado a fumaça, para evitar a presença de mosquitos, provocam sérios problemas pulmonares, principalmente, nas crianças e pessoas idosas.
Para tanto, a usina além de oferecer uma iluminação adequada, reduzirá totalmente o uso desses combustíveis. A Escola Municipal gasta em média 24L de diesel por dia e, sendo 720L por mês, corresponde a um gasto de cerca de R$ 2.900. No prazo de um ano, a economia será de R$ 34.800. O local, que há muito enfrenta o desafio de ser mantido, serve de dormitório para professores e alunos.
A Escola local, responsável por formar quase seiscentas crianças em 13 anos de existência, tem favorecida a sua permanência com a implantação da usina solar. As merendas e outros alimentos são armazenados em freezer novo, 24 horas por dia, e as salas de aula, banheiros e alojamentos dispõem de ventiladores, luz e tomada para ligar um notebook, todos com cinco horas diárias de uso.
De acordo com o diretor-presidente da Ecoa, André Siqueira, em períodos de extremo calor na região, a concentração dos alunos em sala de aula é diretamente afetada e, com a ventilação proporcionada, as crianças e professores têm asseguradas melhores condições para o ensino e aprendizado.
A usina solar central atende também o centro comunitário, onde os moradores podem utilizar um orelhão, para comunicação, um freezer de 410L, que possibilita o armazenamento de alimentos, água gelada e até de poupas de frutas locais, que podem gerar renda às famílias.
Um dos problemas recorrentes enfrentados pelas famílias era a impossibilidade desse armazenamento, que ocasionava no uso frequente de sal para preservar a comida e, como resultado, os moradores apresentam alta incidência de hipertensão arterial (95% das famílias). Além disso, fornece condições para convivência da comunidade e fortalece o comportamento associativo.
Segundo o engenheiro eletricista Álvaro Júnior, com especialização nas áreas de Eficiência Energética e Sistema Fotovoltaico, e que esteve junto a Associação de Moradores neste processo, as placas solares são a melhor alternativa para fornecer energia à região. “Muitos projetos que abordam a criação de hidrelétricas no Pantanal desconsideram os enormes danos ambientais e impactos sociais. A usina solar garante melhor qualidade de vida e segurança para as famílias da comunidade”.
Para atender as casas mais isoladas da região, foram construídos outros três sistemas menores de geração de energia fotovoltaica. Com isso, os moradores dessas áreas tem iluminação para a própria segurança, a fim de evitar acidentes com animais peçonhentos, por exemplo.
A usina solar atende famílias pantaneiras tradicionais, que sujeitas a vulnerabilidades socioambientais, encontram melhores condições para moradia, trabalho, educação e saúde. O papel da Ecoa é o de articular as comunidades para garantia de tais direitos, fundamentais nos processos de conservação ambiental.