Projeto de restauração envolve comunidade da Área de Proteção Ambiental Baía Negra na implantação de sistemas agroflorestais
Os sistemas agroflorestais (SAFs) são procedimentos relativos ao uso da terra nos quais se combinam árvores frutíferas ou nativas e culturas agrícolas e/ou de animais na mesma unidade espacial. São considerados alternativas de manejo ambiental com grande potencial para recuperação de áreas degradas, visto que permitem a conciliação de produção alimentar com a conservação do meio ambiente.
A Área de Proteção Ambiental Baía Negra, localizada no município de Ladário (MS), é a primeira Unidade de Conservação do Uso Sustentável no Pantanal, que agrega preservação ambiental e sobrevivência de populações tradicionais. No entanto, desde 2019 tem sofrido com a forte seca que atinge a região juntamente com os incêndios. Ainda hoje, os habitantes do local sofrem as consequências.
Com o objetivo de melhorar a situação de biodiversidade protegendo ecossistemas e atingir as metas de Aichi, a Ecoa, com o apoio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO), está executando o projeto Restauração Estratégica e Participativa no Pantanal: APA Baía Negra, que tem entre tantas ações, a produção de SAFs nos quintais da Unidade de Conservação.
Para iniciar essa fase da restauração, uma consulta prévia foi feita com a comunidade sobre suas necessidades e o planejamento da iniciativa. A partir deste primeiro passo, os moradores da região se engajaram e tornaram-se os protagonistas da restauração. Com a orientação técnica do professor Joelson Gonçalves da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e a participação dos alunos de curso de Gestão Ambiental, a comunidade se organizou para preparar o solo, fazer as covas e realizar o plantio que começou em outubro deste ano. Até agora seis unidades de SAFs já foram implantadas, contabilizando 100 mudas de espécies frutíferas e 3.000 mudas de hortaliças. “É tão bom ter uma fruta no quintal! Toda a vida eu trabalhei com isso, o quintal é onde eu posso ter de tudo”, explica dona Maria Justiniano, moradora da APA.
Os quintais da APA Baía Negra
Tradicionalmente nos países tropicais, os quintais são grandes guardiões da biodiversidade, onde, além de plantas ornamentais e de sombra, existem as medicinais e alimentícias. No Pantanal, esta diversidade biológica é ampliada em função da fauna local habitar também esses espaços. Macacos, quatis, tamanduás, aves, jaguatiricas e uma variedade de pequenos mamíferos também integram essa paisagem. Seu Pedro Justiniano, morador da APA e mototaxista em Ladário, contou que tinha uma pequena roça de mandioca no seu quintal, mas os porcos-do-mato a atacaram.
Embora pareça um prejuízo o relato de Pedro, para a comunidade da Baía Negra a presença dos animais silvestres em suas áreas domésticas faz parte da vida diária, sendo inclusive, elemento de afetividade, como relata dona Maria: “Eu falo que a gente tem que plantar para os bichos também, macaco, papagaio, porque durante a seca eles não têm o que comer. Já na época das mangas, eles comem muito, então, eles têm que comer à vontade”. O conhecimento sobre os hábitos dos animais é muito importante para os SAFs, visto que a presença de animais dispersores de sementes contribui para a restauração de áreas degradadas.
Outra especificidade de um quintal pantaneiro na APA Baía Negra é a presença do rio Paraguai e todo o ecossistema em torno dele. Além dos animais que o habitam, o sistema de cheias e vazantes, que é próprio da dinâmica deste curso d´água, também reflete nas áreas das casas. Por conta dessa dimensão maior que um quintal no Pantanal apresenta, o projeto inicial precisou ser adaptado à realidade local. Segundo a bióloga Luciana Vicente, consultora na área de restauração, além das enchentes, a presença dos animais, a distância para irrigação e a mão de obra local foram fatores levados em consideração na execução dos SAFs.
O projetoRestauração Estratégica e Participativa no Pantanal: APA Baía Negra” é uma iniciativa da Ecoa no âmbito do Programa da agência Global Environment Facility (GEF) e tem o apoio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO). A implantação do projeto conta com a parceria de pesquisadores do Laboratório Ecologia da Intervenção da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (LEI/UFMS) e do curso de graduação em Gestão Ambiental da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).