Originalmente publicado em 15 de dezembro de 2015
Por Thaiany Silva – Ecoa
Na juventude, Armelinda do Nascimento decidiu que passaria o resto da sua vida ensinando. Nascida e criada em Corumbá, segunda cidade mais antiga de Mato Grosso do Sul, resolveu passar as férias na casa dos avós, que moravam na colônia São Domingos, situada na região pantaneira do Paiaguás, e se encantou pela beleza e simplicidade do lugar. Apesar da insistência da sua mãe para que ela retornasse, aos poucos, foi decidindo ficar por lá mesmo.
Estabeleceu sua residência, constituiu família e mesmo sem ter formação em educação, pois só concluiu o curso de pedagogia em 1995, passou a dar aulas às crianças de manhã e aos adolescentes à noite, em uma sala improvisada, até transformar sua própria residência em núcleo escolar, atual Polo Santa Aurélia – Extensão São João.
Observadora, de postura discreta e fala suave, raras vezes é possível escutar sua voz em tom alto, exceto em momentos de apresentações. Após alguns minutos de prosa, fica mais que evidente a paixão que ela sente pela educação.
“Quando eu me formei pude ver que muitas coisas que eu fazia não eram adequadas. Eu não sabia se o que estava fazendo era certo ou errado, pois pra mim sempre estava certo. Hoje mudou muito a maneira de ensinar. Antes nós tínhamos apenas o tradicional e agora estamos aprendendo coisas novas”, enfatiza a professora.
Ermelinda faz parte do projeto de formação “Escolas das Águas”, desenvolvido pela Ecoa. Ao longo de 29 anos à frente das carteiras escolares, por diversas vezes improvisadas, a educadora afirma que durante a capacitação teve a oportunidade de refletir sobre o seu papel na sala de aula e também na vida dos seus alunos.
Na visão da educadora, as capacitações orientam os professores sobre como lidar melhor com seus alunos ajudando-os a resgatar e preservar sua identidade cultural e social e principalmente, os qualifica quanto aos avanços tecnológicos e como utilizá-los em classe.
“Após tudo o que aprendi nesse encontro, eu pretendo resgatar a cultura deles. Eles vão ter uma lembrança de tudo o que estão vivendo, para mais tarde, poderem contar para os filhos e netos, e não ficará nada perdido. A vida da gente é uma história, então não podemos deixá-la se perder”, declara emocionada.
Educação e cidadania são destaque nas agendas de trabalho da Ecoa e há mais de 10 anos, a organização realiza projetos e ações voltadas a formação de professores e apoio às “Escolas das Águas” promovendo melhores condições de ensino, oportunidades de aprendizado e aperfeiçoamento, intercâmbio cultural e desenvolvimento social.
Conhecidas por Escolas das Águas, as unidades escolares recebem este nome pois o calendário sofre influência do regime de cheia e seca do Pantanal. São polos e extensões escolares da área rural do munícipio de Corumbá, Mato Grosso do Sul, distribuídas nas sub-regiões do Pantanal do Paraguai e do Paiaguás, regiões de difícil acesso do Pantanal.
Atualmente, com o apoio da BrazilFoundation e em parceria com a Secretaria de Educação de Corumbá, a Ecoa executa o projeto “Escolas das Águas: educomunicação e diálogo intercultural, uma maneira de aprender e ensinar”. A meta é capacitar 25 professores, com atendimento a 10 unidades escolares e aproximadamente 300 alunos.
Assista ao vídeo que fala sobre os Professores das Águas: