Financial Times
No início deste mês, os presidentes Barack Obama, dos EUA, e Xi Jinping, da China, fizeram um importante gesto simbólico quando comprometeram seus países, os dois maiores emissores do mundo de gases de efeito estufa, com o Acordo de Paris pelo clima. Foi o sinal mais claro dado até agora aos investidores de todo o mundo de que estes precisam pensar sobre as implicações do aquecimento global para as suas carteiras.
Na sexta-feira à tarde surgiu um exemplo do que isso pode significar, quando a administração de Obama emitiu uma ordem de bloqueio temporário à construção de uma seção do oleoduto Dakota Access. O movimento de Obama foi uma resposta às preocupações locais levantadas pela Standing Rock Sioux Tribe sobre os danos potenciais a locais históricos e à ameaça de derramamento de óleo. Mas foi a questão global das mudanças climáticas que elevou o perfil do Dakota Access, tornando-a uma causa célebre para os ativistas ambientais dos EUA. Bill McKibben, da 350.org, pessoa que desempenhou um papel-chave no esforço bem sucedido de bloqueio do oleoduto Keystone XL, do Canadá, sugeriu que Obama poderia bloquear o Dakota Access de forma permanente, com o fundamento de que o projeto agravaria a ameaça das mudanças climáticas.
No mês passado, o Conselho da Casa Branca sobre Qualidade Ambiental emitiu uma nova orientação para as agências federais, deixando claro que as decisões destas devem levar em conta “os efeitos potenciais sobre as mudanças climáticas de quaisquer projetos”, e que estas devem quantificar as consequências dos projetos para as emissões de gases de efeito estufa. O Dakota Access é destinado a transportar petróleo bruto por 1172 milhas desde a Dakota do Norte, um centro da revolução de xisto dos EUA, até Illinois, onde colocaria este petróleo em rota para refinarias ao redor dos EUA. O argumento segundo o qual o oleoduto acrescentaria emissões de gases de efeito estufa será mais difícil de sustentar do que o foi para o oleoduto Keystone XL, que traria óleo bruto das areias betuminosas do oeste do Canadá, de grande conteúdo de carbono, mas os ativistas estão determinados a tentar.
Se o Dakota Access for interrompido, o caso terá um impacto significativo não apenas sobre a Energy Transfer Partners, empresa líder do projeto, mas sobre todos os produtores de petróleo de North Dakota e seus clientes, que serão obrigados a usar o transporte ferroviário mais caro.
A mudança climática é agora uma questão inevitável para os negócios. Em um excelente artigo publicado na semana passada, a BlackRock , a maior gestora global de fundos de investimento, estabeleceu algumas das maneiras pelas quais os investidores podem reduzir sua exposição aos riscos e se beneficiar das oportunidades que ela cria. O artigo é um marco na crescente conscientização dos principais investidores sobre a questão. Uma coisa é um fundo filantrópico com ativos de algumas centenas de milhões tomar posição sobre a questão climática, outra bem diferente é as advertências partirem de uma empresa que gere US$4,9 trilhões.
Como aponta a BlackRock, pontos de vista pessoais dos investidores sobre a ciência do clima são irrelevantes. Governos e empresas em número suficiente estão convencidos pelo consenso científico de que a ameaça é real, e estão fazendo mudanças regulatórias e tecnológicas que estão redefinindo o cenário de investimento. Você pode não estar interessado no clima, mas você pode ter certeza de que o clima está interessado em você.
Se o mundo está propenso a reduzir o risco de um aquecimento global catastrófico para níveis aceitáveis, terá que fazer uma enorme realocação de capitais, tirando-os dos combustíveis fósseis e colocando-os em fontes de energia de menores emissões. Essa mudança já começou, mas ela precisa ir muito mais longe. A transição não é simples: enquanto o petróleo for a força vital de transporte do mundo, serão necessários oleodutos. Mas quando os investidores e conselhos vierem a tomar decisões sobre projetos como o Dakota Access, terão de considerar seu impacto sobre as emissões de gases de efeito estufa. As consequências financeiras das mudanças climáticas não podem mais serem ignoradas.