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“A abelha não foge do fogo”. Apicultora pantaneira relata detalhes do incêndio em Miranda (MS)

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Apicultor tentando salvar as caixas de abelha durante incêndio às margens do rio Miranda

“Ventou muito naqueles dias, muito vento, aí, onde estavam nossas colmeias o fogo passou, queimou praticamente toda a mata, né.” É com essa descrição que dona Nilza Zwicker começa a relatar sua dor diante do incêndio que atingiu o Pantanal nas últimas semanas e destruiu as caixas de abelhas do apiário Flor de Camalote, no município de Miranda (MS) . 

Dona Nilza, como é conhecida na região, é uma pescadora que se tornou apicultura e está à frente da Associação Apiário Flor de Camalote. A pesca era a principal atividade econômica da comunidade, porém com a diminuição de peixes no rio Miranda, a produção de mel surgiu como uma fonte de renda alternativa.

Assim, há alguns anos, a comunidade se organizou, fez investimentos e iniciou o trabalho com mel. O conhecimento profundo do ambiente pantaneiro, além de gerar renda, traz histórias muito especiais sobre a fauna e a flora, como o amor das abelhas por determinadas plantas. “O bacuri, pra nós é uma parte muito importante, a florada, ele dá muita flor e as abelhas amam ele”. 

Histórias como essa estão dando lugar a narrativas mais tristes desde os incêndios de 2019 e 2020. Dona Nilza conta que nesta época, muitos bacuris (Attalea phalerata) foram queimados, junto com os ingazeiros (inga vera). “É uma pena, porque é uma fonte de alimento pra todo tipo de bicho. É macaco, é cotia, é passarinho, muitas aves se alimentam dele. O ingá, na nossa região, é uma fonte de alimento muito boa e de produção de mel”.

 

Bacuris queimados. Imagem: Luciana Scanoni

Este ano mais uma vez o fogo atingiu a comunidade de apicultores pantaneiros e destruiu toda a produção de mel deles. Há cerca de 10 dias, um fogo alto chegou à mata e carbonizou as caixas de abelhas de 20 famílias. Só de dona Nilza foram 27 caixas. Cada artefato deste tem aproximadamente 30 mil polinizadores. Desesperados, os produtores tentaram salvar as abelhas, arriscando suas próprias vidas e terminaram sendo hospitalizados. A ideia de socorrer as abelhas se deve ao fato desses animais não abandonarem suas casas, conforme explica Nilza. “A abelha não foge do fogo, ela pode fugir quando ela está numa cachopa na natureza, mas quando ela está no ninho, na casa dela com todas as cria lá dentro, a rainha não sai. As operárias não saem também.  Elas morrem dentro da caixa“.

Além da perda da biodiversidade e dos impactos na saúde, os incêndios atingem em cheio as cadeias produtivas da sociobiodiversidade. O mel, o bacuri (Attalea phalerata), a bocaiúva (Acrocomia aculeata), a laranjinha-de-pacu (pouteria glomerata) e o  baru (Dipteryx alata) são elementos importantes para a conservação do ambiente pantaneiro, mas também, como produtos oriundos de manejos sustentáveis e artesanais,  para  a organização das comunidades, segurança alimentar e a geração de renda. Consequentemente, contribuem para a valorização do papel fundamental que as comunidades tradicionais têm no combate às mudanças climáticas e à degradação ambiental. Para encerrar a matéria, uma última fala de dona Nilza sobre o fogo: “é uma perda grande porque as abelhas são uns dos maiores polinizadores do Pantanal”.

O Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (IPED) está realizando uma campanha para ajudar os apicultores pantaneiros da Região de Miranda a reconstruir suas vidas. A Ecoa apoia esta mobilização e está contribuindo com doação de novas caixas de abelhas. Você também pode ajudar.

Pix dos apicultores:

Osmar (67) 9 9229-7910

Nilza 613.845.001-97

Nadir 763.092.071-72

Dona Nilza, apicultora e ribeirinha

 

Luciana Scanoni

Antropóloga e coordenadora do Núcleo de Comunicação da Ecoa.

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