É no Cerrado do Mato Grosso do Sul que a Ecoa executa o projeto ‘Cadeia Socioprodutiva do Baru: agregando renda às famílias agroextrativistas’, apoiado pela Fundação Banco do Brasil. O trabalho é realizado em parceria com o Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (Ceppec).
O baru, árvore típica do bioma, é importante fonte de sustento para famílias que trabalham com o extrativismo sustentável do fruto. O projeto em questão viabilizou o aumento no número de frutos colhidos e famílias articuladas. Consequentemente, houve aumento na renda desses extrativistas a partir da estruturação da cadeia do baru, da colheita até seu escoamento e comercialização.
Entretanto, outro trabalho fundamental para a frutificação do baru pode passar despercebido. Há também a atuação de um agente especial: a mamangava.
A polinizadora solitária
A mamangava (Xylocopa suspecta) é uma abelha resistente, barulhenta, grande e solitária. É uma polinizadora difícil de ser predada por sua capacidade de se defender. Geralmente não são agressivas, apesar da sua potente ferroada.
Mamangavas são primordiais para a cadeia socioprodutiva do baru por realizar a polinização cruzada. Este tipo de polinização ocorre quando o agente visita diferentes árvores e o pólen destas é trocado.
A doutora em Biologia Vegetal/Unicamp e professora titular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Maria Rosângela Sigrist explica sobre a importância da abelha para o baru.
“O cumbaru produz mais fruto quando tem polinização cruzada, com pólen de árvores diferente. Apesar de ser bastante frequentada por Apis mellifera [abelha africanizada], elas só fazem visitas dentro de mesma árvore. Quem poliniza mesmo são as abelhas solitárias, como as mamangavas”.
A polinizadora, essencial para o baru e para diversas famílias no Cerrado, constrói seu lar em troncos mortos, madeiras secas e galhos. A mamangava pode voar por longas distâncias e costumam visitar elevado número de flores e em curto período de tempo. Além disso, costumam ser as primeiras a visitar as flores, concentrando as atividades na primeira metade da manhã.
Outra características dessas polinizadoras é a organização social diferenciada. As mamangavas não produzem estoque de mel, apenas armazenam a quantidade necessária de alimento para saciar a fome das larvas em desenvolvimento.
Ajudar a mamangava é beneficiar a produção de baru
Proteger as mamangavas é essencial para ampliar a produção de baru e, consequentemente, a fonte de renda dessas famílias extrativistas.
Rosângela explica que, para favorecer a polinização do baru, é recomendado tratar bem as mamangavas.
“Dá para beneficiar o cumbaru mantendo locais para nidificação da mamangava, como troncos de árvores, mantendo outras espécies floridas na região e evitando colocar caixas de Apis mellifera porque elas expulsam as outras”.
O projeto
Atualmente, a Ecoa executa o projeto ‘Cadeia Socioprodutiva do Baru: agregando renda às famílias agroextrativistas no MS e a proteção do Cerrado’, apoiado pela Fundação Banco do Brasil e executado em parceria com o Centro de Produção, Pesquisa e Capacitação do Cerrado (CEPPEC)
O projeto garantiu o aumento da renda das famílias extrativistas da região. A equipe de campo do projeto alcançou 100 famílias coletoras de baru, que passaram a compor a articulação.
Como consequência direta, foi possível garantir o aumento na renda de famílias que trabalham com o extrativismo sustentável do fruto. O trabalho de articulação foi feito em cinco comunidades: Assentamento Monjolinho, em Anastácio (MS); Assentamento Andalucia, Boa Esperança, Aldeia Brejão e Conceição, todos no município de Nioaque (MS).