Correio Braziliense
Produtos químicos usados na agricultura, como fertilizantes e pesticidas, podem mudar a maneira como a abelha vê as flores, reduzindo o número de polinizadores que as visitam. Essa é a conclusão de um estudo da Universidade de Bristol, no Reino Unido, publicado na revista Pnas Nexus.
As flores produzem uma gama diversificada de pistas e atrativos para insetos que promovem a alimentação e a polinização. As abelhas usam cor, sol e campos magnéticos para navegar na paisagem. Em uma escala menor, utilizam atrativos como odor e cor das plantas, além de taxas de umidade e campos elétricos. Ao mesmo tempo, o uso generalizado de produtos químicos na agricultura e horticultura é uma fonte substancial de poluição e tem sido associado a reduções no tamanho e diversidade da população dos polinizadores.
Embora os pesquisadores saibam há tempos que muitos desses produtos são tóxicos, eles conhecem pouco sobre como as substâncias afetam a interação imediata entre plantas e polinizadores. Os pesquisadores de Bristol testaram o efeito de sprays de fertilizantes em várias espécies florais usadas pelas abelhas. Eles observaram que o produto químico não afetava a visão e o olfato, mas que havia uma resposta no campo elétrico ao redor da flor.
Para ter uma ideia melhor do que mudou na flor, os pesquisadores mediram uma propriedade elétrica da planta, o potencial bioelétrico no caule. Trata-se de uma fonte importante do campo elétrico ao redor das vegetais.
Efeito duradouro
Os cientistas observaram que sprays com produtos químicos alteram esse potencial bioelétrico por até 25 minutos. A mudança é substancialmente mais longa do que as flutuações naturais, como as causadas pelo vento, e se alinha com os declínios observados (cerca de 20 minutos) nos esforços de alimentação das abelhas observados na natureza. O efeito, segundo os pesquisadores, pode persistir por muito tempo após a pulverização.
Para testar se as mudanças observadas na assinatura elétrica da planta são de fato percebidas pelas abelhas, os pesquisadores imitaram as alterações causadas pelos fertilizantes. Enquanto os zangões se aproximavam das flores, eles observaram que as abelhas estavam menos dispostas a pousar em um espécime que foi manipulado. Isso indica a capacidade de detectar e discriminar as pequenas e dinâmicas do campo elétrico provocadas por pesticidas.
“O fato de os fertilizantes afetarem o comportamento das abelhas, alterando a maneira como elas experimentam seu ambiente físico, dá uma nova perspectiva sobre como os humanos perturbam o ambiente natural”, disse Ellard Hunting, principal autor do artigo. “Imagine-se não sendo capaz de distinguir maçãs de tomates porque alguém pulverizou alguns produtos químicos no departamento de vegetais. Isso pode ser relevante para todos os organismos que usam os campos elétricos, que estão praticamente em todos os lugares do ambiente.”