Fonte: Jornal do Comércio em 20 de junho de 2016
Jonathan Heckler/Jornal do Comércio
Rio Grande do Sul – Em momentos de sobra de energia, como o Brasil atravessa, é fácil esquecer a relevância de utilizar sabiamente o recurso. Nesse sentido, o diretor financeiro da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), José Marcelo Sigoli, salienta que, atualmente, há uma preocupação com a diversificação da matriz energética, mas o melhor uso da eletricidade está sendo negligenciado. O dirigente lamenta a falta de uma política de governo sobre as práticas de eficientização de energia. Além disso, é necessário promover ações para modificar a cultura da sociedade. “É preciso mostrar a importância dessas ações, não somente econômica, mas também ambiental”, defende. Uma das dificuldades apontadas por Sigoli para que as práticas de eficientização sejam mais desenvolvidas é que os empreendedores, em períodos de crise, preferem não investir e, em períodos de expansão, focam a produção.
O dirigente diz que, dependendo do setor, há um bom potencial para reduzir o desperdício de energia. No segmento industrial, por exemplo, em média, um motor de alto rendimento economiza de 20% a 30% de energia em relação a um tradicional. Outro caso em que pode ser aprimorado o uso da energia são as indústrias, hospitais e hotéis que utilizam caldeiras a gás ou elétricas para produzir vapor. A cogeração, com o reaproveitamento de gases de escape, pode diminuir o consumo.
Na área residencial, um conceito que surgiu na Alemanha e se expandiu por outros países vem ganhando força: o da Passivhaus. O foco é o desempenho térmico da casa. Segundo a ideia da Passivhaus, uma residência precisa atingir um consumo de até 15 kWh metro quadrado ao ano. O diretor executivo da Tria Arquitetura, Klaus Bohne, fez um teste com um apartamento fora dessas especificações, de 113 metros quadrados, que tem um consumo médio mensal de 425 kWh, o que significa cerca de 45 kWh metro quadrado ao ano. “Ou seja, três vezes mais”, enfatiza o empresário. A comparação representa um gasto a mais de R$ 2,5 mil em um ano.
O diretor da Tria Arquitetura detalha que a redução do consumo pode ser alcançada com medidas como o isolamento térmico e o aproveitamento da ventilação do ambiente. Também pode ser utilizado um aparelho de recuperação de calor (mechanical ventilation with heat recovery – MVHR). O mecanismo é semelhante a um ventilador que puxa o ar do ambiente exterior e o refresca (quando quente) ao ingressar na casa. Posteriormente, o aparelho joga o ar para fora, mantendo um fluxo constante. Outra solução é a geração de energia com painéis fotovoltaicos.
Bohne prevê que as inciativas de Passivhaus irão se propagar no Brasil. Implementar essas ações em um edifício já construído é mais trabalhoso. No entanto, em prédios em construção, o processo encareceria apenas 10% a 15% do custo das obras, com o retorno do investimento através da economia de energia. Bohne e Sigoli participaram na semana passada do 1º Seminário Internacional de Eficiência Energética promovido pela Câmara Brasil-Alemanha, no Hotel Laghetto, em Porto Alegre.