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Cadeia de produtos florestais na Paisagem Modelo Pantanal: oportunidades que brotam da bocaiúva

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Mulheres da cadeia socioprodutiva da bocaiuva na Comunidade Tradicional Antônio Maria Coelho. Foto: Acervo Ecoa.

A cadeia de produtos florestais envolve todas as etapas que conectam a floresta ao consumidor — desde a coleta e o manejo sustentável até o beneficiamento, a comercialização e o consumo. Esses produtos podem ser madeireiros, como toras e madeira serrada, ou não madeireiros, como frutos, sementes, óleos, resinas, fibras, plantas medicinais e mel.

Essa cadeia une saberes tradicionais e tecnologias apropriadas, articulando extrativistas, comunidades locais, cooperativas e mercados consumidores. Quando bem estruturada, ela se torna um instrumento poderoso de conservação dos ecossistemas, geração de renda e fortalecimento da autonomia das comunidades que vivem da floresta.

O manejo sustentável é o alicerce desse processo. Ele assegura a regeneração dos recursos naturais e mantém os serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação climática, a conservação da biodiversidade e a proteção do solo e da água.

Para fortalecer esse potencial na Paisagem Modelo Pantanal, foi realizado um diagnóstico participativo com 22 participantes — 15 mulheres e 7 homens — voltado à reorganização da cadeia produtiva da bocaiúva (Acrocomia aculeata). Os frutos dessa palmeira, abundante na região, podem ser consumidos in natura, transformados em polpa ou farinha e utilizados em diversos preparos culinários.

Durante a oficina, as comunidades identificaram pontos fortes, desafios e oportunidades da cadeia produtiva. Entre as fortalezas, destacam-se as capacitações já realizadas, o uso de resíduos para alimentação animal, o reconhecimento da qualidade dos produtos e a existência de boas matrizes frutíferas. Entre os desafios, aparecem a carência de formação técnica em um dos assentamentos rurais, riscos na coleta, infraestrutura precária, dificuldades de transporte, baixa produção, falta de capital e ausência de sucessão produtiva.

A comercialização ocorre de forma diversificada: porta a porta, por encomenda, em feiras e eventos, além de canais com atacadistas artesanais. O transporte é feito, em geral, por meio de carro próprio ou transporte público, e o preço médio da polpa seca varia entre R$ 25,00 e R$ 30,00 por quilo.

O fluxo produtivo da bocaiúva inclui etapas de coleta, lavagem, secagem (em até três fases), descasque, despolpamento e embalagem. Desses processos resultam produtos como polpa fresca, polpa seca e farinha, além de uma ampla variedade de subprodutos, entre eles fibra, óleo, castanha, geladinho, pudim, pão, geleia, bolo e rapadura.

Entre as oportunidades internas, estão a cooperação entre comunidades tradicionais e assentamentos rurais, o fortalecimento associativo e a formação de novos participantes. Já entre as oportunidades externas, destacam-se o acesso a mercados institucionais, o aproveitamento do potencial nutricional dos produtos e a mitigação dos riscos impostos pelos atravessadores.

Também foram apontadas novas frentes de ação, como o mapeamento de quintais com espécies nativas, o desenvolvimento de viveiros de mudas e a implantação de corredores ecológicos, que conectam a restauração ambiental ao fortalecimento produtivo.

Em síntese, a cadeia produtiva da bocaiúva na Paisagem Modelo Pantanal enfrenta desafios estruturais e organizacionais, mas apresenta um cenário promissor. A articulação comunitária é uma base sólida para a reestruturação produtiva e institucional — desde que acompanhada por formações contínuas, fortalecimento das associações locais e melhoria das condições de trabalho.

As ações foram realizadas no âmbito do projeto IMFN (international Model Forest Network) Climate apoiado pelo Serviço Florestal Canadense.

Talita Oliveira

Coordenadora do Núcleo de comunicação da Ecoa e da Paisagem Modelo Pantanal.

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