O São Francisco já foi sinônimo de peixe. Para ver como está a situação agora, pesquisadores ligados à UFMG mergulharam em suas águas de ponta a ponta. Do Alto São Francisco, registraram a ocorrência de bagres, lambaris, tamaranas, traíras, piaus, cascudos, sendo de corimbas os cardumes mais frequentes. Na criteriosa investigação, no entanto, não lograram encontrar espécies que antes povoavam também uma parte do rio, como contam os pescadores antigos.
O São Francisco desce das nascentes da Canastra trazendo as marcas do garimpo de diamantes, das voçorocas e da poluição dos esgotos. Depois da serra, ele pega uma longa planície e na altura do município de Lagoa da Prata, ele sofre uma verdadeira amputação.
Depois das turbulências da descida, o rio se dava remanso, um momento para acalmar as águas. Serpenteava por sete curvas, porém no início dos anos 80, seu curso foi retificado com a abertura de um canal. Um percurso de 7,5 quilômetros foi encurtado para 350 metros e as consequências disso é a formação de corredeiras, que cortam como lâmina a planície e ‘comem’ dezenas de metros das margens.
Vários crimes foram cometidos nessas décadas, o rio não dava voltas à toa, tinha a função ecológica fundamental de alimentar uma grande quantidade de lagoas marginais.
É na lagoa marginal que o alevino tem chance de escapar dos predadores e se desenvolver para, na cheia, passar a viver no rio. As lagoas foram drenadas, trechos da borda bem na margem do rio foram arrebentados, comportas foram instaladas e no assoalho delas, valos foram abertos para um contínuo esvaziamento, já que esses fundos são coalhados de olhos d’água. Nascentes agora são impactadas pelo pisoteio do gado.
Fonte: G1