O primeiro-ministro chinês Li Keqiang tem um encontro marcado na próxima semana com a presidenta Dilma Rousseff quando deve anunciar uma série de acordos entre os dois países, e investimentos de 50 bilhões de dólares (cerca de 14,9 bilhões de reais) em infraestrutura. O fundo será criado com recursos do banco ICBC, e gerenciado pela Caixa. O dinheiro financiará, entre outros projetos, uma linha ferroviária entre a costa brasileira (Oceano Atlântico) e a costa peruana (Oceano Pacífico) para facilitar as exportações dos dois países para a China. O Brasil é o maior exportador de ferro e soja para o mercado chinês. Os recursos também serão usados, segundo a imprensa brasileira, para a produção conjunta de aço no Brasil.
Às vésperas da chegada de Keqiang, tornou-se público que o Banco de Comunicações da China (estatal) comprará o banco brasileiro BBM, que possui ativos no valor de um bilhão de dólares, de acordo com a Dow Jones. É mais um braço financeiro chinês se instalando no país, depois do ICBC, que chegou em 2012, e do Banco da China, que desembarcou no Brasil em 2009. Os três atuam para fomentar o comércio entre as duas nações.
A potência asiática, a segunda maior economia do mundo, é o principal parceiro comercial do Brasil, sétima no ranking global. A visita do primeiro-ministro chinês acontece em um momento sensível para Dilma, que tenta convencer os brasileiros de que a recessão do país é passageira. Ela deve anunciar um ambicioso plano de investimentos em infraestrutura em breve. O fato de os investidores chineses mostrarem disposição para assumir riscos no país poderia ajudar a injetar otimismo e confiança a outros investidores, atualmente reticentes e pouco inclinadas a confiar no mercado brasileiro depois do furacão das investigações sobre corrupção na Petrobras e do fôlego curto da economia brasileira.
Os chineses já se acostumaram a aparecer como salvadores da pátria em momentos estratégicos dos Governos da América Latina. “A China sempre investe quando o Brasil mais precisa”, diz Charlie Tang, da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China. Foi assim com o empréstimo feito à Petrobras no início de abril, lembra Tang, quando o Banco de Desenvolvimento da China anunciou um financiamento de 3,5 bilhões de reais para a Petrobras. Naquele período, a petroleira ainda não havia divulgado seu balanço de 2014, e vivia ainda o inferno da expectativa dos números que seriam conhecidos, incluindo o valor dos desvios detectados na operação Lava Jato.
Na Argentina, os chineses também lançaram um ‘salva-vida’ para a presidenta Cristina Kirchner, num momento em que o país enfrentava duras dificuldades com as negociações sobre os fundos abutres nos Estados Unidos, que secaram as fontes de financiamento para seu Governo.
Tang afirma que a China tem o que mais falta ao Brasil hoje: dinheiro para investir. O economista Claudio Frischtack pondera, entretanto, que ainda não se conhece a qualidade dos investimentos da China, que vêm mais por uma agenda própria do que especificamente por uma agenda do Governo Dilma.
Novos passos diplomáticos
Para o Governo chinês, o giro do primeiro ministro tanto pelo Brasil como pela Colômbia, Peru e Chile, para onde deve seguir depois de sua visita a Brasília e Rio de Janeiro, é mais uma ação diplomática de destaque que se segue à passagem do presidente chinês Xi Jinping pelo continente. Em julho do ano passado, Jinping e Dilma assinaram um macroacordo milionário de 32 pontos, que já previa a compra de aviões, a construção de usinas hidrelétricas, ferrovias e participação na exploração de petróleo.
O ritmo da economia brasileira –e de boa parte da América Latina– depende das vendas para o gigante chinês. O grande crescimento do Brasil na última década deveu-se, entre outros fatores, a que a China se tornou um grande comprador de matérias-primas. Em pouco mais de dez anos o comércio entre os dois países foi multiplicado por 20.
Em 2009, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos. Estima-se que o investimento chinês no Brasil atingiu pelo menos 28 bilhões de dólares. Esses investimentos vão da indústria automobilística à área financeira, passando pela agricultura e por parcerias com a Petrobras. No entanto, esse mercado perdeu um pouco de força ultimamente devido ao menor crescimento chinês, o que também explica, em parte, a crise econômica no Brasil. Assim, a relação China-Brasil é vital para o país latino-americano.
Fonte: El País