////

Chuvas que abastecem o Pantanal

9 minutos de leitura
Foto: Secom/ MS

Este texto, publicado em abril de 2023, mostra um Pantanal de águas altas, o que é vantajoso em vários aspectos. Tal quadro se manteve ao longo do ano na bacia do Paraguai, que abriga o Pantanal. Uma referencia para a Ecoa são medidas diárias feitas ao longo do rio Paraguai pela Marinha do Brasil. As medidas, tomadas a partir da divisa dos estados de MS e MT, na localidade de Bela Vista do Norte, mostram o rio cerca de 0,75 cm mais alto em setembro de 2023 em comparação com o mesmo período do ano passado. Lembramos que para a planície pantaneira 0,75 cm é um valor considerável.

As chuvas no Pantanal após estiagem geram felicidade e ao mesmo tempo preocupação.

  • Chuvas recentes amenizam quadro de seca no Pantanal;
  • Gráficos fornecidos pela Marinha mostram que a altura dos rios estão acima da média em comparação com anos anteriores;
  • Apesar da renovação pela chegada de água, a alerta para risco de incêndios deve ser mantido, principalmente pelo excesso de biomassa;

 

Após quatro anos de seca rigorosa, as chuvas intensas do primeiro semestre de 2023 são um banho de revitalização para o Pantanal. Neste cenário, a Ecoa realiza o monitoramento dos rios no Pantanal por meio do relato de moradores em locais estratégicos e da medição de altura dos níveis dos rios, dados fornecidos pela Marinha Brasileira. 

Na cidade de Cáceres, em Mato Grosso, o rio Paraguai chegou a 4,70 metros no começo de abril, segundo o Boletim divulgado pela Marinha. Esse ponto tem grande significado para a região, pois essas águas estão previstas para, em junho, chegar em Ladário, em Mato Grosso do Sul, onde o rio se encontra abaixo de 2,36 metros. Comparado com 2018, que chegou a 4,10 metros nessa mesma época do ano, o nível do rio está baixo. 

 

Com as chuvas de 2023 e, consequentemente, o aumento no nível dos rios e o reaparecimento de baías e corixos, é possível notar a revitalização da região e os benefícios para os seres vivos. Com melhores condições nos campos inundados e a grandes populações de peixes, a economia local movida pela pesca volta a ascender e deve ter um bom ano de produção. 

No gráfico da régua de Bela Vista do Norte, na divisa MS-MT o gráfico mostra claramente o quadro descrito, incluindo o fato de estar acima da média dos últimos 5 anos.

Agostinho Catella, especialista em ictiofauna do Pantanal, explica que a pesca, em especial, terá um ano de boa produção. “As condições ambientais (do Pantanal) em 2023 devem concorrer positivamente para a produção natural de peixes e para a pesca”. O fim da piracema (fevereiro) coincidiu com a subida das águas e favorece a manutenção do estoque pesqueiro. Os peixes grandes e os jovens recém nascidos e os ovos rodam rio abaixo e adentram os campos inundados, onde encontram alimento e abrigo.

“Na vazante, com o refluxo das águas, os adultos retornam para os rios e reiniciam um novo ciclo. Muitos peixes de espécies pequenas, que não fazem piracema, permanecem nos alagados durante a estiagem. A grande quantidade de peixes retidas nesses ambientes alimenta as aves que se reproduzem durante a vazante no Pantanal”, explica Catella. “Além de sua função ecológica, os peixes são de grande importância social e econômica para a pesca.”

Delson, morador do Porto da Manga, comunidade localizada no município de Corumbá (MS), afirma que a chegada da água já é sentida pelos moradores. “Essa água é muito bem vinda. O Pantanal na nossa região estava muito seco, já dá para ver que o rio avançou e cobriu alguns barrancos. Mas pela minha vivência de Pantanal, eu calculo que não vai ser uma enchente muito grande”.

As águas transformam a paisagem pantaneira, mas também geram transtornos comuns para épocas de cheias: 19 cidades no sul e sudoeste do estado estão em situação de emergência. Em Miranda, sete famílias ficaram ilhadas. Em Porto Murtinho, estradas estão intransitáveis.  Em fazendas localizadas entre os rios Miranda e Abobral, no Pantanal de Corumbá, fazendeiros foram surpreendidos desde o último fim semana com o rápido aumento do nível das águas e agora correm contra o tempo para retirar o gado das áreas alagadas. 

Outro fenômeno relatado é a ocorrência de decoada em diferentes regiões do Pantanal, com a mortandade em massa de peixes causada pela decomposição da vegetação seca e das cinzas das queimadas dos últimos anos . Na região de Passo do Lontra, às margens do rio Miranda, moradores e empresários do setor da pesca, “a quantidade de peixe mortos que está descendo o rio é muito grande”.  Segundo o empresário Rogério Iehle Walter, que há mais de três décadas vive na região do Passo do Lontra, o fenômeno começou a ser verificado nesta sexta-feira e atinge todas as espécies, independentemente do tamanho. “Está morrendo desde bagre até pintado de 25 a 30 quilos”, lamenta.

André Siqueira, diretor da Ecoa, reforça que apesar da renovação promovida pela chegada da água, a situação de alerta para a possibilidade de incêndios permanece.

“Com as chuvas, há também o crescimento da vegetação e esta pode acabar sendo o combustível em situações de incêndio. Você tem um crescimento de biomassa bem maior, você pode observar isso na cidade, em terrenos baldios, e o mesmo acontece no Pantanal elo volume de chuva”.

Com o risco de incêndios, Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, decretou situação de emergência ambiental no Pantanal. O decreto é válido para o período de abril a novembro de 2023.

Além disso, mesmo com as chuvas e amenização do quadro de seca, Eduardo Reis Rosa, pesquisador do MapBiomas Pantanal, reforça que é necessário se manter o alerta para um período de seca ainda forte nos próximos meses. “Como estamos no período final das chuvas, a previsão é que teremos mais um ano de seca no bioma, em comparação ao histórico desde 1985”. 

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog

Ecologia do baru

Árvore do Cerrado, o baru participa de diversas interações ecológicas. A espécie frutifica na seca. Por isso,