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Comunidades do Pantanal preparam-se para produção de mel

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O pesquisador da Embrapa, Vanderlei dos Reis, mostra o reaproveitamento da cera em favo (Foto André Siqueira)

– Com apoio do Fundo Socioambiental Casa e em articulação com a Embrapa Pantanal, a Federação de Apicultura e Meliponicultura de Mato Grosso do Sul (FEAMS) e a Ecoa, uma nova fase de um projeto para produção sustentável entrou em execução com um curso para capacitação.

– Para a Ecoa é particularmente importante o processo desde o ponto de vista da conservação de espécies de abelhas e polinizadores em geral, frente ao “colapso das colmeias” observado em todo o mundo.

– Para Vanderlei dos Reis, pesquisador da Embrapa Pantanal, a preparação das famílias contribuirá para a diminuição de incêndios – o fogo é utilizado para a coleta de mel na natureza – e a prevenção de danos para pessoas e animais.

a moradora do São Francisco, dona Odina, participa da capacitação (Foto: André Siqueira)

Foi desenvolvido um processo de preparação de comunidades tradicionais do Pantanal para a produção de mel de maneira sustentável. Com o apoio do Fundo Socioambiental Casa e em articulação com a Embrapa Pantanal, a Federação de Apicultura e Meliponicultura de Mato Grosso do Sul (FEAMS) e a Ecoa, aconteceu na semana de 29 de fevereiro a 4 de março a capacitação de famílias das comunidades de São Francisco e do Porto da Manga no trabalho de manejo das abelhas.

Essa capacitação foi em apicultura e meliponicultura (a criação de abelhas sem ferrão) por meio do projeto “Fortalecimento, empreendedorismo e sustentabilidade da atividade apícola na comunidade São Francisco, Pantanal Sul”. A Embrapa Pantanal possui um apiário na Fazenda Band’Alta em Ladário (MS), uma das bases da capacitação.

O mel é uma demanda antiga da comunidade e serve como alternativa econômica frente às dificuldades que os moradores enfrentam com relação à pesca, por conta dos eventos climáticos extremos, já que as grandes cheias dificultam e até impedem a principal atividade econômica da região. No curso, os produtores aprenderam a extrair o mel da natureza, realizando um bom manejo e apoiando a conservação da biodiversidade das abelhas, consideradas as principais polinizadoras do mundo.

A comunidade do São Francisco (5 horas de barco a montante de Corumbá, pelo rio Paraguai) resolveu procurar a Embrapa e a Ecoa para a preparação para a produção. Uma proposta foi enviada para o Fundo Socioambiental Casa / Caixa Econômica Federal, a qual uma vez aprovada foi colocada em andamento. Dentre os próximos passos está a implantação das caixas para as colmeias e o acompanhamento técnico.

Para a Ecoa é particularmente importante este processo de preparação das comunidades desde o ponto de vista da conservação de espécies de abelhas e polinizadores em geral.

No site da Embrapa o pesquisador Vanderlei dos Reis, coordenador do curso, afirma que é importante a capacitação para evitar casos em que o contato entre humanos e abelhas é feito sem preparo ou equipamentos de proteção: “Muitas pessoas que trabalham com a pesca extrativista e artesanal também atuam como “meleiros”, coletando mel nos períodos livres ou quando localizam colônias de abelhas africanizadas e nativas. Isso é feito de maneira bem rudimentar e insegura, tanto para eles quanto para o ambiente, já que esse tipo de ação pode causar incêndios e eliminar colônias inteiras”.

Para as pessoas e animais o maior risco vem do estresse das colônias quando o mel é retirado, como afirma o pesquisador, pois elas ficam mais agressivas durante alguns dias – principalmente no primeiro e, às vezes, por mais tempo. Pessoas e animais (domésticos ou não) que estiverem perto dessas colônias nesse período, mesmo que não tenham se envolvido na coleta do mel, podem ser atacadas.

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Foto: Vanessa Spacki

Vanderlei identificou que a ação indiscriminada dos meleiros pode colocar em risco a existência das espécies de abelhas sem ferrão (que têm colônias pequenas e ficam em nichos muito específicos) e que pode-se produzir mais e melhor: “A margem dos rios e áreas com bastante água [ caso do Pantanal] são muito interessantes para a apicultura. As colônias ferais, que estão na natureza, são bastante populosas e produtivas. Isso é um indicativo de que a região é muito favorável ao desenvolvimento da apicultura e, possivelmente, da meliponicultura”.

Para o pesquisador “tanto a apicultura quanto a meliponicultura não são muito intensivas em relação ao tempo dedicado a elas. Quem desejar, pode trabalhar com a pesca e desenvolver a apicultura durante o período de defeso, quando se fica legalmente impossibilitado de pescar……É sistematizar uma atividade que eles já fazem de maneira insegura. Queremos mostrar que eles podem obter um produto de elevada qualidade em uma região de potencial muito interessante”.

Já há algum tempo acontece em todo o mundo a diminuição drástica das colmeias e de polinizadores em geral com grandes prejuízos ambientais e econômicos. Pesquisas associam o fenômeno ao uso de agrotóxicos. Considerando que na planície pantaneira praticamente não ocorre o uso de biocidas, a apicultura e a meliponicultura na região podem ser essenciais para a proteção de espécies e na ajuda para conter os danos nas regiões de uso intensivo de biocidas no entorno do Pantanal para a produção de soja e outros grãos.

Para ler mais sobre o “colapso das colmeias”, acesse os textos Abelhas desaparecem e o Brasil perdeAbelhas – Estudo de Harvard comprova que inseticidas são responsáveis pela crise das colmeias do blog de Alcides Faria.

Diretor Presidente da Ecoa, André Luiz Siqueira

O Diretor Presidente da Ecoa, André Siqueira, enviou à Chefe Geral da Embrapa Pantanal, Emiko Kawakami de Resende, uma carta de agradecimento, reconhecendo o trabalho da unidade e do pesquisador Vanderlei dos Reis e agradecendo pelo apoio na formação de produção apícola e melípona para as comunidades do Pantanal.

“Prezada Dra. Emiko,

É com enorme satisfação que encaminhamos em anexo e no corpo do e-mail uma carta de agradecimento a Embrapa e ao pesquisador de vossa unidade, senhor Vanderlei dos Reis pelo apoio na formação de produção apícola e melípona as comunidades ribeirinhas do Pantanal. Projeto que esta apenas começando e esperamos caminhar por um longo tempo com esta agenda de suma importância a biodiversidade e a geração de renda.

Forte abraço.”

 

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Carta de agradecimento à Embrapa Pantanal pelo trabalho desenvolvido com a Ecoa (Imagem: Reprodução)

 

Chefe-geral Emiko Kawakami de Resende (Foto: Divulgação)
Chefe-geral Emiko Kawakami de Resende (Foto: Divulgação)

Em resposta, a Chefe Geral da unidade afirma:

“Prezado André,

É com muita alegria que recebo a sua carta de agradecimento pois o reconhecimento do trabalho que desenvolvemos para as comunidades é muito gratificante. É nossa missão que façamos isso e continuemos a fazer, pois a Embrapa existe para promover o desenvolvimento sustentável do Pantanal e nisso se inclui a comunidade ribeirinha pantaneira. Conte sempre conosco.

Atenciosamente,

Emiko”.

 

Confira a galeria abaixo com imagens da capacitação:

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