Liderança indígena Guató ganha título em reconhecimento a sua atuação no Pantanal
A Universidade Federal de Mato Groso do Sul (UFMS) concedeu, nesta segunda-feira (27), o título de Doutora Honoris Causa a Catarina Guató, fundadora da Associação Renascer das Mulheres da Barra do São Lourenço. O reconhecimento acadêmico é atribuído a personalidades que serviram de exemplo para a comunidade universitária e para a sociedade. Na ocasião também foram homenageados, o juiz aposentado e fundador do Instituto Luther King, Aleixo Paraguassú e o líder do setor empresarial, Sérgio Longen.
Reconhecida pelos seus trabalho com a com a fibra de aguapé (Eichornia crassipes) retirada do rio Paraguai no Pantanal, Catarina fez uma entrada surpreendente no Teatro Glauce Rocha (UFMS), ao surgir portando na cabeça um cocar de penas de araras azuis. Ela que tradicionalmente utiliza um chapéu com trançados de aguapé, chegou ostentando um artefato que simbolicamente pertence aos líderes. Após receber o diploma das mãos do reitor da UFMS, Marcelo Turine, a mestre dos saberes, fez seu discurso e pediu pelo Pantanal. “Hoje tenho a honra de estar aqui na universidade pra receber esse reconhecimento máximo. Só posso agradecer, agradecer e agradecer, mas também quero fazer um pedido a vocês, homens, mulheres de letras e de ciências, autoridades do nosso Brasil e aos jovens: olhem, respeitem e cuidem do nosso Pantanal, dos rios Paraguai, Taquari, São Lourenço, das baías e dos corixos”.
A homenageada também relembrou sua trajetória e reafirmou sua origem indígena e a relação com o ambiente pantaneiro. “O meu povo guató são os verdadeiros guardiões do Pantanal, são filhos de Deus e das águas. Nós somos Guató, fazemos parte da biodiversidade e precisamos da paz e dos nossos territórios para viver.”
A indicação do nome de Catarina Guató para receber o título foi do professor Aguinaldo Silva, diretor do Campus do Pantanal da UFMS e conselheiro da Ecoa, que destacou o trabalho da artesã. “Catarina Guató significa garra, força, resistência, conhecimento, bondade e, acima de tudo, uma mulher que procura ensinar o que aprendeu ao longo dos anos para outras mulheres pantaneiras e desta forma, manter viva a cultura pantaneira e a história do povo Guató. Esta homenagem destaca a importância do conhecimento científico e tradicional para o desenvolvimento do país de maneira sustentável e acima de tudo, mais humano“, apontou o professor.
A diretora presidenta da Ecoa, Nathália Ziolkowski, esteve no evento e ressaltou que atualmente é raro alguém visitar comunidades no Pantanal e não encontrar o artesanato do aguapé ou alguém que saiba faze-lo sem dizer que aprendeu a atividade com a artesã homenageada. “Já ouvi pesquisadores chamarem Dona Catarina de entidade, tamanha a importância de seus trabalhos para manutenção de culturas e modos de vida. É por essas e outras que Dona Catarina Guató merece reconhecimento e respeito e ela já me disse, respeito para ela é cuidar do Pantanal!”
Catarina Guató nasceu na Ilha Ínsua, localizada a cerca de 350 km de Corumbá. Foi alfabetiza quando adulta e aprendeu a trabalhar com aguapé com a sogra, Josefina Alves Ribeiro. Fundou a Associação Renascer das Mulheres da Barra do São Lourenço e, em 2022, recebeu premiação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) com o projeto Sabedorias Compartilhadas.
No discurso de agradecimento na UFMS, Catarina relembrou o início da Associação Renascer das Mulheres da Barra do São Lourenço e o apoio dado pela Ecoa para a entidade iniciar suas atividades. “A Ecoa ajudou a Associação a ganhar máquina, usinas, energia solar e um barco. Hoje, as mulheres ganham um dinheirinho com a arte do trançado de aguapé”. A Renascer integra atualmente a CerraPan, Rede de Mulheres Produtoras do Cerrado e Pantanal, que tem o objetivo de fortalecer a articulação coletiva de mulheres, que trabalham com os produtos da sociobiodiversidade e processos de manejos artesanais e sustentáveis.